Uma
querida
falou-me
sobre
o
que a inspira
no
seu trabalho:
“DEVOLVER
AQUILO QUE A EXISTÊNCIA ME DEU:
A
SAÚDE,
O
GRANDE AMOR DA MINHA VIDA COMIGO,
O
LUGAR ONDE VIVEMOS
E
NOSSOS PRECIOSOS ANIMAIS”...
Ah!
Os ouvidos e a alma anseiam
por
sons assim,
que
se encadeiam em harmonia
e
deslizam acarinhando,
produzindo
alegria, força, incentivo.
A
fala desta querida
avivou
minha fé, meu olhar e minha emoção,
lembrando-me
da
importância valorar
o
que tenho
e
o que é, de verdade,
essencial
para mim.
Todos
temos algo assim,
essencial
e único.
Só
precisamos ver,
valorar,
agradecer.
É
um bom começo
para
dissipar
ou
amenizar asperezas e dor
no
cotidiano.
Eu amo as palavras, organizá-las em frases e
textos. Porém, reconheço e experimento que nem sempre elas conseguem traduzir a profundidade do sentimento\percepção. Por isto, gosto de juntar palavras e imagens! A foto é de
2015. Ela registra um momento intensamente aguardado e especial demais, para
mim. Felicidade, honra e orgulho ímpar ao encontrar com um grupo do povo
indígena FULNI-Ô, de Pernambuco, visitando nossa escola e sentar ao lado de ser
humano tão nobre. Este momento faz parte de uma lista infinda de delicadezas,
aprendizados, humanização, encanto, alegrias e esperança, oportunizados, pelo
QUINTAL Mágico, a mim, à Maria Margot e tantos outros. E é assim que eu me
sinto em relação a estes irmãos, sempre em luta, há séculos, em todos os cantos
deste nosso Brasil e do mundo: ao lado e junto.
A última vez que eu e me marido vimos o
compadre Francisco, foi uma noite
especialíssima! A comadre Noeli
preparou um jantar delicioso! Maria Margot estava conosco e o Chico,
quando soube que ela gostava de cantar e que aprendia tocar violão, não teve
dúvida; generoso e entusiasmado, abriu espaço para ela interagir com seus
instrumentos, suas relíquias; explicando sobre cada uma e estimulando a
experimentação. A pequena estava encantada com ele! Nada mais encantador do
observar alguém encantado falando do seu encanto! Entre tantas memórias
afetivas que tenho e guardo deste casal amigo, de sua família querida e
especialmente do Chico; esta, desta noite aconchegante, ficará para sempre,
acarinhando a amizade e a saudade com gratidão e benquerer. O Chico partiu e
com certeza, na casa do Pai, que tem muitas moradas, ele seguirá organizando
horta, jardim, encontros e a cantoria, numa alegria sem fim! Que bom ter
partilhado tempo, espaço, chimarrão, conversa, risadas e seriedades contigo,
compadre! À Noeli, Tassiara, Taísa e netos, que seguem sem sua presença ímpar, mas
enriquecidos dela, nosso carinho e abraço bem apertado!
Bom quando
não falamos sozinhos!
Quando engatamos
um laço, uma sintonia
e nos vemos
nos olhos do outro,
nos reconhecemos
na sua palavra
e nos sentimos
pertencer.
É intenso
feito uma casa
que abraça!
Gosto
demais do filme “A Missão”, do contéudo e da trilha sonora, composta pelo Ennio
Morricone. Por vezes, revejo. O filme trata da colonização desenfreada da América
do Sul, da discriminação e escravidão imposta
aos índios, tratados como “animais selvagens”; da luta pelo controle de terras
indígenas colonizadas; da Igreja que praticamente os abandonou quando viu que
estava perdendo o controle\poder na região e deixou acontecer os massacres e, dos
jesuítas, que se voltaram contra os colonizadores e contra a própria Igreja, na
busca pela proteção dos índios e de suas terras.
A
Semana Santa, com seu conteúdo de DOR, TRAIÇÃO, MORTE, PERDÃO E RESSURREIÇÃO
lembrou-me uma cena o filme: Robert de Niro é mercador de índios que captura e
vende aos colonizadores, com frieza. De repente, envolve-se num duelo de vida e
morte com o irmão e com a morte deste, fica tomado pela dor e pela culpa. Encontra
o Padre Gabriel, Jeremy Irons, que o convence a ajudar os índios, fazer algo
pelo povo que tanto perseguiu e maltratou. É o momento da sua redenção. Para
chegar à tribo de guaranis, no alto de uma cachoeira, amarra um peso
extraordinário ao corpo, simbolizando o passado e a culpa. Com extrema
dificuldade e dor, atravessa rio, cachoeira e uma floresta densa, querendo
punir-se. No topo da cachoeira, encontra uma tribo indígena e ali conclui seu
martírio: os índios o acolhem e o livram do peso. A cena, o jeito como o
personagem chora e ri ao mesmo tempo, libertando-se, através mãos dos índios,
vendo sua culpa despencando, montanha abaixo, junto com todas tralhas e lixo
que carregava nas costas, é comovente, de arrepiar!
É
isto que toca meu coração, hoje: este deixar para trás as dores. Perdoar e me
perdoar. Rever, transformar, recomeçar, soltar o peso e, mais leve, celebrar a
VIDA, cotidianamente! Aproveitar a chance de mais um dia e fazer diferente,
viver em paz, relaxando, abrigando-me nos braços abertos e acolhedores do
Cristo ressuscitado e ali fortalecer. Todos podemos fazer isto e depois,
partilhar abraços e seguir em parceria, não em confronto. Feliz Páscoa, meus
queridos!
Aniversário, 6.5. Amanheci
com um lindo dia de sol! Recebi carinho, celebrei a vida e meus frutos. Conectei
com laços que teci ao longo de tantos outonos... Estão fortes! Cheios de
silêncios preenchidos e histórias de benquerer que hoje abraçaram-me com
gentilezas. Anoiteci na praia: um barco em festa no horizonte, embalado pelas
ondas, iluminado por meus sonhos, meus amores, meu ser. Inteira.