As mais afoitas,
depois de um
inverno longo,
a expor-se, exibir-se
ao sol apaixonante,
neste início de primavera;
a insinuar-se, esparramar-se,
espalhar-se, vicejar,
transbordar beleza, simplicidade,
curiosidade,
desejo de viver,
aqui nas redondezas,
entre uma profusão de botões e brotos,
foi esta lindeza!
Esta florzinha amarelinha,
feito sol repartido em pedacinhos, no chão,
celebrando o final da introspecção
e o começo da
explosão de cores,
formas, perfumes! Explosão de vida!
Maravilhoso! Mágico!
Impressionante este impulso imperioso,
este desejo de viver, palpitante,
dentro de cada criatura!
Viver é bom, é chamado
para ser o que se é,
como se é!
Os anos passam,
o cotidiano fica mais exigente
e singular para cada um.
Porém ele é generoso
nas oportunidades
de aprendizado.
Há quem prefira e procure
a melhor palavra,
o momento mais vulnerável
para ferir, destruir, banalizar,
semear uma discórdia.
Há quem prefira e procure
a melhor palavra,
o momento mais delicado
para acarinhar,
estender a mão,
juntar pedaços.
A boca fala
do que o coração está cheio.
O bom, o bonito disto
é que é possível escolher,
aprender, mudar o conteúdo pessoal
se houver desejo.
Um grande e grosso galho havia sido, por causa de fortes ventos, num dia qualquer, abruptamente separado da árvore mãe e tombado às margens do rio. Foi nele que eu sentei e apoiei, numa tarde fria, mas de sol alegre fazendo cada floquinho de neve brilhar e encher o dia de luminosidade maravilhosa. Sentei, mas não sem antes retirar uma camada de uns 10 cm de neve da sua superfície. Estava eufórica. O caso é que eu nunca estivera em cima de um rio congelado! Na verdade mais parecia um imenso bolo coberto com generosas camadas de chantilly! O mesmo rio de águas claras e caudalosas que, seis meses antes, no verão, eu atravessara, de bote, no meio de muita algazarra, movimento...
Meu filho estava com o “pé que era um leque” para chegar lá na outra margem. Comecei argumentar sobre possíveis perigos. Eu temia que não fosse seguro, porque não havia ninguém ali patinando, deslizando, brincando como em outros rios congelados, na cidade. Calei. Ele já estava indo! Então abri minhas comportas de medos represados (muitos infundados), orgulhosa da sua não desistência e fiquei observando, acompanhando a travessia, aliviada, como se eu mesma estivesse deslizando pelo rio congelado. Mãe coruja, registrei a façanha!
Ele demorou-se do outro lado, arrumando, endireitando umas placas e coisas no lado de lá e que do lado de cá, contemplava, aborrecido com o desleixo, há muito tempo. Entardecia, mas o céu permanecia azulzinho, apaziguado. A floresta de pinheiro e de outras árvores desnudas, ao redor, era acarinhada pelos raios do sol que, infiltrando-se no alto, vinham até o chão de chantilly, refletindo-se nele... um momento lindo, dos que não se traduz! Eu fui tomada por uma sensação única de quietude. Fechei os olhos e fiquei ali muito tempo, sentindo a presença da água do rio congelado sob meus pés, dos flocos de neve caindo sobre meu rosto, do silêncio profundo da natureza hibernando e, por incrível que pareça: da mais absoluta ausência de vento e de frio. Não conseguia abrir, não queria abrir os olhos. Estava tão bom... Foi assim, que depois de meses, espontaneamente, meditei. E logo de cara encontrei a garota que vive em mim. Ela estava feliz! Encantada e ria! Brincava e não se sentia estrangeira, descontextualizada. Que maravilha era conhecer, experimentar as diferentes manifestações da Mãe Natureza e sentir tudo próximo, simples. Tudo presente e parte da vida. Vida que não quer dono, feitor, fronteira, palpiteiro, muro, cerca, comparações. Só pontes.