O fiapinho

         


                Seu Toninho. Homem arrojado, destemido! Com ele não tem tempo ruim e nem hora para pegar na enxada, no martelo,  na vassoura, na picareta, no tijolo e no cimento; na mêscola de polenta, na cuia de chimarrão; no conserto de alguma coisa, na prestação de um favor a algum amigo. Chapéu, bota, calça frouxa, amarrada com barbante na cintura e camisa puída... às vezes só de bermuda, sem chapéu, pés descalços ou de chinelo... lá vai ele, adentrando o mato, em busca de uma galinha fujona ou de lenha; ou lá sobe ele no telhado, para lavar telhas ou para limpar as calhas e evitar o infiltramento da água da chuva; ou lá vai ele, pendurado por uma corda, escalando o alto coqueiro, para podar galhos; ou equilibrar-se numa escada para colher caquis lá nas “grimpas”, antes que as aracuãs comam todos... Parece que não tem medo de nada quando some, no meio do capim alto, mato cerrado; abrindo trilha, podando, limpando, abrindo clareiras! Já foi picado por jararaca e saiu contando piada!
        Um dia, limpando a lareira, preparando-a para o uso, porque o inverno se avizinhava, deu um grito! Nossa! Foi o bastante para atrair a família. Afinal, se o seu Toninho gritava era sinal de algo muito sério acontecia! Talvez fosse que o mundo estivesse acabando...
        - O que foi? O que houve? - Era o que todos queriam saber, entre preocupados e curiosos.
        Encontraram o seu Toninho ajoelhado diante da lareira, com um riso sem graça no rosto de traços sérios e marcantes.
     - Eu pensei que era um fiapinho! – balbuciou, envergonhado.
        - O quê? - quiseram saber.
        - É...  um fiapinho! Eu vi um fiapinho, no meio da lenha, puxei... mas era uma perninha de aranha! Puxei e ela veio junto! Baita aranha! Daí tive que matá-la... Vejam só que coisa! Eu pensei que era um fiapinho!!!! Bah! Foi um susto!!!!







Lítero


Lítero! Meu espaço! Despojado. Profundamente sentido, querido e gerado por mim, dentro de mim. Como um filho! Um filho que nasceu de mim! Uma gestação cheia de altos e baixos; inseguranças e solidão, misturadas à grande expectativa, desejo, sonhos e ideais... E que tem a ver com meu ofício e com o que mais gosto de fazer: escrever! Hoje, primeiro dia da minha: Oficina: exercício da escrita para  gostar  de  escrever! E meus primeiros alunos, foram ex-alunos! Um belo reencontro! Estou emocionada!

Plumas

Não sei seu nome
mas nos cativamos
à primeira vista!
Eu a achei linda,
vestindo um arbusto
de pluminhas!
Uma delicadeza
de estremecer!
Bem ali,
na rua, 
propondo 
levezas!

Êxtase



Pura beleza!
Êxtase de cores,
de luz!
Soberana 
e íntegra
em meio aos reflexos
da plateia silenciosa.

Sol


    Imagem de Elcio Limas
 É divino
este olhar apaixonado
que brota no horizonte
devagarinho,
nos acorda e enlaça
cheio de
saudade e calor!
É divino
este olhar
que tudo vê,
revela, realça
e produz
vida, beleza,
luz e cor!
É divino este olhar
que nos contorna,
afaga,
não vai embora;
acompanha.
É  divino
este olhar
que sorri
para cada um e todos,
assim, de manhãzinha;
sem medir, regatear,
negociar;
e que de tardinha,
espia e se espicha e
resiste quanto pode
para não dormir,
só por puro amor!


Única


É moldura
ou  ninho
aí, linda flor,
onde desenrolas
tua formosura
devagarinho?!!!

Jardim






  Flores do jardim da Cecília
Lindas!
Acordam assim,
depois de uma noite
de chuva mansa
e ininterrupta!
Acordam assim,
belas e agradecidas
enfeitando o dia
e a alma da gente!
Retribuem com
silenciosa singeleza,
cores e alegria,
o carinho, o cuidado,
o valor e o lugar
que têm
neste espaço,
onde são  cultivadas
com olhar e mãos
generosas!

Trabalho


- ““Vamu subi”, vovó, “po” teu “isquitório i vamo  tabalhá, desenhá"?! "I" depois "passá" "bastanti" pó de pirilimpimpim"?!!!



  O processo de criação: a ideia, o desenho, a história e o acabamento! Muita emoção! Primeira representação do corpo humano completo: cabeça, tronco e membros!

O valor do trabalho
se descobre e aprende assim,
desde cedo:
trabalho é prazer!
Trabalhar é descobrir,
é criar. É pensar.
É produzir. Organizar.
É labuta e paciência.
É imaginar e plasmar.
De um e de muitos jeitos;
pois é ação singular.
Com a criança, sim,
podemos aprender!
Reaprender,
se esquecemos, por desventura!
E nos reencantar
pela maravilhosa aventura:
aprender, ser útil, viver!

Amigo é brilho

A gente aprende cedo:
Amigo é brilho!
Brilho no olho,
brilho no papel
brilho no encontro
brilho no abraço
brilho na vida
da gente!
Ah! Se não os tivéssemos...
Ô vida seca, insípida,
incolor, áspera, sisuda!
Deus!
Estas sintonias de olhar,
sentir,  pensar,
sonhar o mundo,
acolher e amparar;
questionar,
ouvir, respeitar
e  partilhar!
Ou de simplesmente estar ali,
mesmo que seja lá,
do outro lado da cerca,
da cidade, do mundo;
se a gente precisar!
Isto é presente,
tesouro
pura luz,
puro brilho!
Obrigada!!!

Amigos


Na moldura do dia
afago doce nos laços!
Reencontro de abraços,
conversas e cantoria!
Tarde ensolarada!
Estreitando laços,
ressignificando
emoção, história vivida!
Acarinhando a alma,
essencialidades da vida:
amigos, benquerer e alegria!




Barquinho de papel

Veio navegando
pelas mãos do
artista talentoso:
- “É pra você, profe”!
Um barquinho de papel.
Recebi e embarquei.
Quintal afora, viajei...
Segura.
As poças d’água
atravessaram as bordas protetoras e,
lá fora, a rua me chamou!
E me aventurei!
Segui as  águas que desciam,
pela sarjeta, apressadas
e inconseqüentes;
atropelando!
Ah! Delicia de corredeiras
contornando medos,
fantasmas, limites
e o imaginário...
E lá fui eu,
olho brilhando,
riso solto,
coração acelerado,
“ensopada” de chuva
e de emoção...
segura no meu
barquinho de papel!
Papel verde.
Verde esperançoso,
impermeabilizado de afeto!


Horizonte

    Imagem de Elcio de Limas
Laços
entrelaços,
nós e abraços
Encontros!
O horizonte
pra ver
e viver
é tão mais intenso
formoso e possível,
junto!

Resposta

 
- “Vovó, deixa eu...
    to concentrada
    trabalhando”!
Olhar,
sentir, escutar
e acolher...
É profundo.
É importante.
É aprendizado.
Vital!
Observar,
centrar,
pensar
e apreciar...
Essencial!
O que se aprende
captura, cria,
valora e respeita
andando com pressa
e nos  estabelecendo
na superfície?
Só o superficial.
- “Bom dia, irmão pato!
    Bom dia, irmã flor!
   Bom dia, irmã galinha!
    Boa noite, irmã lua!
    Bom dia, irmão sol”!
     ...
- "Olha, vovó!
   Eles estão rindo e
   respondendo pra mim"!!!
- "Sim! Querida! 
É que você está olhando
   pra eles; tratando  com carinho"!
Supérfluo, insípido
e passageiro
ou, cheio de mágoa e dor,
o que não vem
acompanhado
de olhar curioso,
atitude sincera,
escuta atenta,
calor, carinho
e... valor!

  



Minha foto
2025, 16o aniversário do Blog! Pulei 2024, ano dos 15 anos. Aconteceu sem intenção. Retomo, agora, este espaço e esta escrita e me preparo para metaforizar silêncios e ausências. É o que eu gosto.

Arquivo do blog