Na
minha “caixa de Pandora”
a
esperança permanece!
2020
foi desafiador,
mistura
de contraditórios,
extremos,
polarizações,
perdas
e reinvenções!
Perdi
conhecidos
e
alguns queridos.
Me
assustei, isolei;
depois
refleti, abri.
A
pandemia arrasou
mas
também provocou
e
vamos, por isto,
reorganizando
a vida;
creio
que para melhor!
Acrescento,
à esperança:
acolhimento,
respeito,
partilha,
estender a mão;
saúde
e essencialidades
benéficas
a todo coletivo.
E
a escrita, a poesia
permeando,
resgatando
e
semeando, aqui e ali,
reencanto e alegria!
Entregue!
Ao
que vem
e
ao que vai;
ao
possível
e
aos limites;
ao
vento, o frio,
e
à brisa, o calor.
Às
perdas, à dor
e
aos presentes,
dosagens
de amor!
Ao
congestionamento de palavras
e
ao silêncio do sentimento.
Para
ir, para ficar,
voltar
e reinventar!
Por vezes escolho estar aqui
nesta
lidança,
fazer
e refazer sem fim
permeado
pelas incógnitas,
inusitados,
imprevistos;
entre
temores, neblinas,
asperezas
e “tiradas de tapete”...
Onde
só o sonho fortalece
e
então me reconstruo,
renasço
incessantemente
neste
exercício.
Por
vezes escolho estar lá
onde
o sol brilha,
cores
encantam,
sons
reverberam
em
harmonia;
a
quietude seduz.
Onde
o justo
é
o real;
o
benquerer explícito,
incondicional.
Onde
estar, fortalece.
Descobri
que posso escolher
mesmo
entre as adversidades;
são
dois lados dentro de mim.
Conhecimento
é liberdade.
1º
tempo:
Quando criança, o Natal era a festa que
eu mais amava e esperava. Íamos todos para a casa dos avós paternos. Os tios
vinham de Porto Alegre e isto era o máximo! Eu e meus irmãos ganhávamos
roupas novas. Pelas 18 horas íamos para a casa dos meus avós e lá encontrávamos
toda família paterna, de origem alemã: uma porção de tios, tias e primos! Entre
tantos momentos especiais, havia um, muito sério e sublime, quando ouvíamos
discos antigos dos avós, com tradicionais canções de Natal, alemãs.
Então, meu avô e minha avó começavam a cantar “O Tannenbaum...”, uma canção linda, em alemão e todos os filhos:
meu pai e meus tios seguiam atrás, com as vozes trêmulas de emoção. Eu não
compreendia o alemão, mas compreendia o sentimento e ficava ouvindo meu coração
bater descompassado. Quando acabava, meu tio Milton e minha tia Nilse,
com suas vozes bonitas iniciavam o canto “Noite Feliz”; eu ouvia, então, a voz do meu pai... e, todos
podíamos juntar nossas vozes a deles, porque esta cantiga entoavam em
português. Ainda hoje eu não tenho palavras para traduzir a emoção que eu
sentia, naquela noite.
2º tempo:
Os adultos foram envelhecendo e nós, as crianças, nos
tornamos adolescentes e jovens. Os Natais continuaram acontecendo e reunindo a
família na casa do vô e da vó. Tínhamos ampliado nosso círculo social e
eu e os primos, agora, fazíamos parte do Grupo de Jovens e, depois do
encontro na casa dos avós, íamos todos para a Igreja, para a Missa do
Galo. Antes da missa, sempre apresentávamos um teatro, que iniciava,
invariavelmente às 23h30. Nós nos preparávamos durante meses para este evento,
criando os textos, ensaiando; preparando cenários, luzes, etc. Era uma labuta sem fim e igualmente maravilhosa, à
qual nos dedicávamos exaustivamente, cheios de ideais, querendo mostrar aos
adultos da comunidade nossas reflexões, denunciar as hipocrisias, as
desigualdades sociais e fazer um chamamento à fraternidade, ao respeito e ao
amor à natureza, ao homem, à justiça. Queríamos atualizar e contextualizar o
sentido do Natal, denunciar as mazelas, as injustiças e também anunciar as BOAS NOVAS, a possibilidade de um mundo melhor e
mais feliz. Antes destas questões atualizadoras, recordávamos o fato histórico
e mágico do nascimento do menino Jesus e geralmente eu representava a Maria.
Eram momentos bonitos e profundos. Eu me colocava no lugar daquela mulher que
enfrentou o preconceito porque ia ter um filho que não era do seu marido; que
teve que fugir para proteger a vida e dar a luz a este filho nas condições mais
adversas; que teve que aceitar as escolhas deste filho e assistir a toda uma
série de perseguições e sofrimentos decorrentes desta escolha e que culminou
com sua morte numa cruz... Eu me solidarizava com ela, descobrindo que as
mulheres tinham que ser muito fortes para sobreviver e cumprir seu papel,
independente de sua classe social ou da
humanidade/divindade dos seus filhos.
3º
tempo:
Em 1980, estava grávida do meu primeiro filho. Não
sabia o sexo, esperava por um bebê saudável mas torcia, sim, por uma menina! Eu
não tivera irmãs, só irmãos e ter uma filha era o meu mais acalentado sonho. O calor, em dezembro
era intenso, os dias iam passando e nada do bebê nascer! E o sonho de passar
aquele Natal e com um filho nos braços, estava se desvanecendo. Chegou a noite
do dia 24 de dezembro e nos dirigimos à casa do vô e da vó, para a tradicional
comemoração do Natal. Agora haviam
poucas crianças, mas nenhum bisneto. O meu bebê seria o primeiro bisneto e
havia uma grande expectativa em torno disso e da demora para este nascimento. Durante as cantorias e, no momento de maior emoção,
quando cantávamos “Noite Feliz”, eu pedi intensamente pela saúde do meu bebê.
Me sentia um pouco cansada e convidei
meu marido para irmos embora. Não me sentia disposta a ir à Missa do Galo.
Chegamos em casa e eu olhei para o pinheirinho todo enfeitado, senti uma tristeza
porque o Natal chegara e o meu bebê não nascera... E foi neste momento, às
23h00, que senti algo diferente! A bolsa havia rompido! Foi uma correria até
chegar ao hospital e a madrugada foi
longa... Estava difícil localizar o meu médico porque era uma noite de festa e
ele comemorava com a família em algum lugar... Enquanto esperava e em meio às contrações,
percebi o presente que recebia: naquela específica noite mágica, eu não estava
representando uma mãe que dava à luz! Eu estava vivenciando algo real e
maravilhoso: o nascimento do meu bebê! Minha filha, Lilian, nasceu às 7:35 horas
do dia 25 de dezembro, Natal! Eu recebia a menina que tanto queria e ela
escolhia o dia mais lindo e significativo, para mim, para vir ao mundo: o
Natal. E foi o Natal mais lindo de todos!
Vivido no hospital. A BOA
NOVA acontecia de fato e concretamente
na minha vida! O desejo, o sonho e a esperança de lutar para construir um mundo
melhor tornava-se mais claro, definido. Eu me tornava mãe e, me tornando mãe,
tinha a possibilidade de me tornar um ser humano potencialmente melhor.
O Natal
de 1980 foi o último que passamos com a família reunida na casa dos meus avós
paternos; como sempre acontecera até então. Dez dias depois que minha filha
nasceu, meu avô querido faleceu. Depois
de conhecer a bisneta ele falava para os amigos, com alegria:
- Vocês
não sabem o que me fizeram!
- O
que lhe fizeram, seu Otto?
- Me fizeram bisavô!!!!
Toda vez
que o Natal se aproxima, meu coração se
enche de saudades, lembranças e esperança! E eu escuto a voz do meu avô e da
minha avó cantando: “O Tannenbaum...” e
isto renova minha alegria e vontade de viver; porque o Natal evoca e atualiza,
dentro de mim, o que sou, no que eu acredito e a
realização de um grande sonho!
4º
tempo
Neste
Natal de 2020, ano singularíssimo e por conta desta pandemia, cheio de demandas,
muitas perdas, tristezas, exigências, mudanças de hábitos, de agendas, de
planos, de rotas; de estabelecimento de novas rotinas e alternativas de vida e
trabalho... neste ano, minha filha completou 40 anos! Aquela bebê, tornou-se
uma mulher forte, trabalhadora, independente, generosa, provedora; profissional
dedicada e mãe! E assim, por causa dela, eu sou, agora, a vovó, realizando um
sonho mais recente. Agora, sou eu quem enfeita a casa para receber a família,
no Natal, dando continuidade a este ritual mágico e maravilhoso!
Grata, minha filha, por tua vinda à vida! Te amo!