terça-feira, 15 de novembro de 2011 | Filed in:
O sapato era maravilhoso! Sabia que seria desde o primeiro olhar. Olhou e se apaixonou. Não poderia ficar sem ele. O tempo que levaria para pagar era nada comparado ao prazer de tê-lo! Era lindo e macio. Alto. Muito alto, mas confortável. Sentia-se bela e atraente, com ele. Era cor de abóbora. Nesta noite, só combinava com ela. Era sua noite de rainha! Não parava sentada. Dançava bem e rodopiava no salão, nos braços de um e de outro, ao som da valsa, do bugio, da rancheira, do vanerão... estava se dando ao desfrute! Podia se dar ao desfrute. O momento era de reconciliação consigo mesma e com uma história de vida e com a cor de abóbora! Uma noite, há muito tempo atrás, quando estava no ensino médio, Capitulina concluía um trabalho de história. Era muito tarde, já madrugada. Todos já estavam dormindo há horas, mas o pai ainda não havia chegado em casa. Ele tinha avisado a mãe que ia sair com os amigos, jogar e tomar “umas e outras”. Era sexta-feira. De repente, ouviu um barulho de chave na porta. Era ele chegando. Logo percebeu que o pai estava “alto” e temeu a reação dele em vê-la ali, ainda acordada, tão tarde. Mas ele, estranhamente não brigou, estava carinhoso quando veio cumprimentá-la e até estalou um beijo na sua bochecha, para surpresa dela. Foi neste movimento que Capitulina viu a marca de batom bem visível no rosto do pai. Ficou mole! Chocada! Envergonhada por ver e por supor tudo que isto significava. Sentiu-se uma estranha dentro de si mesma e naquele contexto. Encarou o pai e perguntou o que era aquilo no rosto dele. O pai ficou lívido, chocado como ela e rapidamente se encaminhou para o banheiro, questionando repetidamente: -“ o que tem no meu rosto”? Capitulina não conseguiu mais trabalhar. Não sabia o que fazer. Então o pai retornou, cara lavada e perguntou: -“ mas o que você disse que tem no meu rosto? Olhei e não vi nada”... Ela não conseguia acreditar naquilo! Como ele podia mentir assim! Ela disse, então a ele, muito envergonhada, que havia uma mancha de batom, na bochecha direita. Uma cor horrível, cor de abóbora. O pai insistiu em negar: - “mas onde, onde”? E fingia, representava, o que era pior que tudo... E foi para o quarto dormir; deixando-a ali, pasma! E sem ter com quem dividir. Nunca mais esqueceu aquela noite. Algo mudou ou começou a mudar ali, quando uma porção de minhocas, raivas, questionamentos, passaram a gestar dentro dela.
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