Anos 70

Uma onda de nostalgia e "benquerer" invade meu cotidiano lendo as postagens, na rede social, de um grupo de amigos, conhecidos e contemporâneos da década de 70, da minha cidade natal, Ijuí, no RS. Reencontros e encontros bonitos, surpreendentes! A cada postagem, reconheço e identifico uma parte da minha história; porque estas pessoas estavam comigo naquele contexto e mesmo sem partilhar intimidades com muitos, eu os conhecia e os eventos a que eles se referem,  vivenciamos ao mesmo tempo; com alguns, partilhando minúcias; com outros, apenas o espaço e a época... Época de nossa adolescência e juventude. Um período rico e delicado! Renato e seus Blue Caps chegam outra vez até mim, emocionando e enquanto dirijo até a casa de minha filha, para passar a tarde com minha neta, sinto alternar estas duas em mim, a garota dos anos 70 e a avó de 2013... que coisa impressionante! De repente só existe o passado e o futuro. No passado sou eu, garota, estudante, cheia de sonhos e expectativas e no futuro sou eu também,  já avó; aposentada e tudo... algo que parecia tão, mas tão distante, pensado lá, naquela época... O futuro chegou e nem percebi claramente! Só que o futuro agora é presente. Do futuro mesmo, nunca se sabe, mas de alguma forma mágica e metódica, o futuro sempre transforma-se em presente... talvez por isto, seja difícil encontrar, ficar e viver somente o momento presente...  O passado, ficando cada vez mais longe; deixa as lembranças cada  vez mais fortes, impregnadas de melodias e emoções, que, quando são atualizadas, como agora, pelos comentários, fotos e alusões, nas postagens, remexem-se, suspiram e vibram! Embora não se possa fazer nada a mais e nem a menos, com elas. Só adoçar o presente e, por vezes, traduzir, explicar ou nomear algo, que agora, de longe fica mais fácil; mas que na época e no momento, não tínhamos palavras, nem compreensão, nem clareza do que era... e recordar, falar, escrever sobre isto é tão bom! Liberta e apazigua, conforta e enternece. Bonito ver, capturar de alguma forma, o que o tempo oportunizou a cada um... e como cada um chega, agora, em fotos e palavras, aqui; acrescido de experiências ímpares; atuando, ainda, com vigor; mas já expectadores dos filhos e netos... assim como um dia, nos anos 70, foram os nossos pais e avós em relação a nós...  É a vida! Com seus lados, cores, tempos, formas, enredos e acessórios. Coisa linda! 

A mesma palavra com roupas diferentes


Adoro nossa língua, o português! Mas adoro ainda mais as palavras! Vê-las escritas num papel e também escrevê-las, tantas e tantas vezes, sem cansar e de quantos jeitos e significados desejar e alcançar. E descubro, cada vez mais, que gosto de vê-las registradas não só em português! Já gostava de observá-las, pronunciá-las e ouví-las em espanhol e me sinto, de uns tempos para cá, “apaixonando” vê-las em italiano! Preciso sempre de uma tradução; mas antes, tento adivinhar o conteúdo de suas formas e isto me enche de alegria, de prazer! Amo tanto que por vezes, capturo seu significado intuitivamente! E minha alma "rejubila"! E este contentamento  aumenta meu amor pela língua materna, quem me abriu as portas para este universo sem fim de rabiscos apaixonantes, cheios de significantes!

Como será?


Quem anuncia e
primeiro canta
a chegada do dia
são as cigarras e aracuãs!
Adoro ouvir e só então
vou abrindo os olhos
devagarinho
numa expectativa deliciosa
como estará?
Sei quando você
está chegando
antes de entrar!
Quem anuncia e
primeiro chega
é  sua energia!
E sem abrir os olhos
trêmula e ansiosa
eu borbulho
flutuo.
Como será?

O velho e o bebê


O velho
o bebê...
pontos distantes
no trajeto
e na bagagem.
Marcando o
obrigatório
e o opcional
nesta viagem...
O começo
o fim
e o “recomeço”,
num encontro
de ternura
cuidado
e afeto.

Entrega


Maria passou uma noite inteirinha na casa da vovó e do vovô! Pela primeira vez longe do papai e da mamãe, neste horário. Após longos anos, o retorno... todas estas sensações, apreensões, pequenos cuidados e deleites que nos tomam, quando temos um bebê em casa e, à noite! Inquietudes e sobressaltos a cada suspiro e movimento! É um alerta geral em todos os sentidos e de todos os sentidos! Nada mais exigente do que cuidar de um outro e nada mais gratificante; quando podemos experimentar, de fato, a cada demanda, esta sensação de sermos capazes. E o sorriso, o abraço, olhar que brilha, a entrega e confiança que nos devolve é algo grandioso para a alma e a vida! O bebê exige tudo. Precisa deste tudo. E ainda um pouco mais: não basta só dar. Há o jeito de dar e o quanto dar. E toda hora, é hora. E “tudo” quer dizer: entrega! Como parece ser com todas as coisas: se a gente não se entrega, fica na superfície: não vive e não sente e não aprende. Nunca vai saber.

Conviver


Muito dentro,
alienada do outro.
Muito fora,
alienada de mim.
Pelas bordas,
entre os contornos,
consigo fazer pontes
ver o arco-íris,
tocar em mim
e em ti.

Um minuto!



Um minuto de cada vez,
calma!
O dia se veste,
as cigarras
comandam o som
a noite deixou um beijo!
Os quadros da janela
são os mesmos,
a vida acordando, lá fora,
é nova.
Este dia, nunca vivi.
Dentro, o que existe
se desveste...
Qual a roupa do dia?
Calma!
Um minuto de cada vez!
Acho que hoje,
melhor usar paciência
a cor verde e uns enfeites:
doces palavras
que  vieram de longe,
tão leves... talvez.
Ou quem sabe me dispa
de tudo e me vista de nada
só para saber como é...

Expectativa


Uma coisa deliciosa é a expectativa diante de algo que a gente espera com ardor, desejo intenso! O pequeno Príncipe falou com propriedade disto: “se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz”... Como será, o que acontecerá, o que haverá? Muitos até dizem que esta parte é o melhor da festa: a preparação, o “antes”. Depois de mais de trinta anos, ainda a expectativa para saber o que me caberá, neste ano, na escola! Com que turmas irei trabalhar... e o quê?  Depois que isto se define, continua a sequência de deleites! Como voltarão os alunos depois das férias? Alguém saiu, alguém chegou? O sossego se vai... emoção e razão vão se alternando num fervilhar de ideias... até que planos, projetos, metas, propostas começam a ocupar espaço nas folhas e uma doce quietude vai se instaurando... Mas a gente sabe que é por pouco tempo; que tudo isto que vai sendo organizado, logo estará sendo revisto, transformado, ampliado, enriquecido... num processo vivo, dinâmico e encantador! Jamais isento de tensão, inquietudes e grandes desafios. Cheio de incógnitas e muita, muita expectativa! Um desconhecido dentro do conhecido a todo momento! Caminhos e horizontes abrindo-se aqui e ali, a cada encontro, cada questionamento, cada sugestão, hipótese, possibilidade; a cada “puxada de tapete”, conflito, obstáculo; cada partilha, (re)descoberta, construção... Cada texto um pretexto para criar outro contexto;  que por sua vez produz novo texto, que serve de novo pretexto.... e assim sucessivamente... num turbilhão sem fim, envolvente, atraente e extremamente exigente. Difícil não ter expectativa, na vida, no cotidiano. Difícil não esperar, não imaginar, não desejar, mesmo quando se procura viver o momento! Não sentir o “friozinho na barriga”, coração palpitar... na iminência de um acontecimento especial! Sensação maravilhosa esta: de se estar vivo! ... “Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento nunca saberei a hora de preparar o coração”... Mesmo que seja uma expectativa despretenciosa, leve, que se conserva e alimenta com amor, somente para manter, no mais íntimo do íntimo, no âmago, na essência, um sopro, um alento, uma chama que valida e valora a vida como ela é... e, bem mais no fundo ainda, como poderia ser! De repente, nada mais do que nossa vocação para o novo, o movimento, um pouco mais além...

Tempo de Quintal!


Volta à escola. Reunião de professores. Uma alegria rever os colegas! Alguns, de muitos anos. Outros, de um passado recente. Muitas carinhas novas, bonitas;  jovens professoras, cheias de expectativas, que durante a apresentação disseram: “este é meu primeiro dia no Quintal”.  Eu pensei: “puxa! Estas garotas talvez nem tenham, de idade, o que eu tenho de tempo de Quintal Mágico: 20 anos"! 2013 é o meu  20º ano no Quintal! Muito especial, emocionante ver estas professoras novas  chegando, cheias de vida, brilho e ideal.  Sinalização de troca de aprendizados, continuidade, renovação, avanços na educação! Estávamos ali em mais de quarenta profissionais e lembrei que há vinte anos atrás, éramos apenas quatro... O tempo foi generoso! Vi a escola crescer e eu cresci junto com ela tornando-me “um sujeito” melhor, aprendendo a respeitar  e amar com maior profundidade minha profissão e o ser humano. Meus filhos, todos, tiveram, de maneira e tempo diferenciado, mas tiveram, uma passagem pela escola e isto foi muito bom para eles. E agora, sinto uma felicidade ímpar porque minha netinha, de nove meses, na semana que vem, começa fazer sua adaptação no Quintal! Maria vai para a escola! Fui professora dos meus três filhos durante seu processo de alfabetização. Será que a vida me reserva esta alegria extra de alcançar ser professora da minha neta? Sonho “demais de bom”!!!

Janeiro


Janeiro veio
e já foi,
do 1  ao 31
passo ligeiro
sem muita regra
cabelo solto
pés descalços
sono fácil
diferente
livre,
inteiro!


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2025, 16o aniversário do Blog! Pulei 2024, ano dos 15 anos. Aconteceu sem intenção. Retomo, agora, este espaço e esta escrita e me preparo para metaforizar silêncios e ausências. É o que eu gosto.

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