sábado, 14 de março de 2015 | Filed in:
Aprendendo, fazendo leitura de mundo na interação com o outro.
- Eu
não gosto de ler, professora! É muito chato... – fala um.
-
Ah! Mas eu gosto, profe! Agora vou ler dois livros, o que estou lendo em casa e
este aqui, que é para a escola... – fala outro.
-
Eu gosto um pouco... mas só de livros fininhos. Não gosto dos grossos... –
acrescenta um terceiro.
-
Ai, professora! Será que os colegas vão cuidar do meu livro? Diz pra eles
cuidarem bem! – suspira a garota, com dificuldade em entregar seu livro para o
Rodízio de Leitura, na sala de aula.
É
um momento delicado e emocionante, este, dentro da aula de Leitura e Produção
de Texto! Primeiro, escolher um livro para trazer, de casa, para o Rodízio.
Depois, escolher um, entre todos, em sala de aula, para ler...
O
livro exerce atração. E ninguém fica indiferente a ele. Mesmo os mais resistentes
gostam de manuseá-los, olhar a capa, dar uma espiadinha nas “orelhas”,
investigar as figuras, dentro... será que este livro é bom? Ou: o que será que
tem aí, que faz um monte de gente gostar?
Observo
que para alguns, as figuras são decisivas para a escolha; para outros, a capa;
outros, ainda, o título. Aqueles que não apreciam muito, escolhem (não têm
outra alternativa!) pela espessura mesmo!
Aos
poucos, vou motivando e permitindo a leitura fora da sala de aula; estimulando a autonomia
e a responsabilidade. Abrindo espaço para que o prazer possa entrar e varrer a
associação da leitura com imobilidade e sisudez. Onde a maioria vai? Para cima
da árvore, bem no meio do quintal! Lá ficam empoleirados e em silêncio, lendo...
lendo... parece que há uma magia entre a árvore, os livros e as crianças. De
vez em quando, a posição precisa ser trocada; aí acontece um pequeno rebuliço
entre os empoleirados: falas, riso, reclamações... mas logo, a quietude e a
continuidade da viagem através das páginas e da imaginação. Outros leem no balanço! Alguns entram dentro dos túneis;
aninhando-se em suas paredes côncavas. Sempre próximos. Dificilmente algum se
isola. Gostam de estar perto, uns dos outros. A quietude e o silêncio estão e vêm de
dentro.
Num
momento de reflexão sobre a importância da leitura na vida de cada um; falei
sobre o valor de nos dedicarmos também à leitura do mundo. Olharam para mim com
outro olhar! Ficaram interessados. Expliquei que era uma leitura diferente. De
coisas que não estavam escritas com letras; mas diante de nós o tempo todo;
esperando nosso olhar, nossa atenção e decodificação.
Eu
precisava de exemplos e recordei os que mais me aprazem: a natureza e suas
criaturas e, as pessoas! Falei que aprecio e me encanto com as singularidades e
com as histórias que leio e aprendo, por onde ando; que gosto de ler o que vai
nos olhos e nos gestos do outro... ler e observar para aprender. Não para
apontar e fazer julgamentos preconceituosos, observações depreciativas. Isto porque as
leituras, depois, falam de mim. Toda leitura é assim, nos remete a um encontro
conosco mesmos: as de impressos e as de mundo! Porque tudo repercute dentro da
gente e produz efeitos.
As leituras de mundo nos ensinam mais rapidamente, se
praticamos com afinco: respeito, maturidade; nos colocarmos no lugar do outro;
tolerância, humildade, criticidade, autonomia de pensamento; gentileza,
sensibilidade, sutileza e humor! Quanto mais nos dedicamos e desenvolvemos o
hábito de ler o mundo que nos rodeia, menos arrogantes, impulsivos e egoístas
nos tornamos. Mais abertos à escuta, ao diálogo, à conciliação e implicados com
o coletivo e com a justeza na ordem, na distribuição e gerência dos bens
comuns; seja onde for.
Fiquei
contente com a acolhida dos meus ouvintes e acredito que faremos, juntos, boas
experiências e aprendizados; tanto nas leituras dos livros, quando do mundo. O
coração palpita!!!
Os
livros também estão cativando a pequena...
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