quarta-feira, 18 de novembro de 2015 | Filed in:
- Hoje
somos só nós duas, para o almoço, fofuchinha!
-
Almoço só de meninas, né, vovó!
-
Hãhã...
- Vó,
deixa que eu me sirvo! Já sou grande!
- Você
tem 3 anos e já é grande?
-
Claro, vó.... olha como sei pegar as ervilhas...
- Tá
bom querida! Mas a vovó vai servir o peixinho e o arroz...
- Tá
bom, vó...
Antes,
tínhamos visto o lagarto adolescente entrar no galinheiro e apavorar as
galinhas! Ela ficou com medo, mas viu que as galinhas não perderam a pose e
puseram o lagarto pra correr. Ficou contente! E antes disto, havíamos apreciado
dois botõezinhos de uma roseira abrindo-se suavemente ao redor do lago. Eram
lindos aqueles dois "filhinhos" da roseira! E bem antes disto, no início da
manhã, tínhamos curtido o sol, na calçada em frente de casa: ela na motoca e eu
empurrando o carrinho de boneca, com a boneca dentro. Depois, revezamos: eu,
empurrando a motoca e ela, o carrinho com a boneca. Eu, empurrando o carrinho e
a motoca e ela levando a boneca no colo, porque ela estava chorando, queria o
colinho da mãe, ela. Eu, empurrando o carrinho e a motoca com ela no colo, porque
descobriu um machucadinho no pé. E ela, com a boneca no colo! De onde
saíram tantos braços e mãos, de repente, no meu corpo?!!! Lembrei tanto aquela história adorável: “Suriléa-mãe-monstrinha”, da
Eva Furnari! Tudo a ver!
Agora,
éramos as duas ao redor da mesa, almoçando. Nos servimos e começamos a comer.
Percebi que ela ficou em silêncio; o que era inédito. Eu também. Ela se servia e
enquanto mastigava, se recostava na cadeira e completamente relaxada, olhava
ora para frente, ora para os lados, contemplando com tranqüilidade, os verdes,
a luz do dia. Eu contemplava também, com o coração preenchido de uma quietude
infinita e de amor silenciosamente transbordante. Olhava seus olhinhos e via
ali, sossego. De quando em quando, entre uma colherada, uma mastigada e outra;
um relaxamento e outro; um olhar pousado aqui e ali; ela me olhava e me fazia
um carinho no braço, como se dissesse (mas não dizia):
-
“Está tudo bem, vovó”! - e como era bom imaginar que era isto que ela queria mesmo dizer!
Ficamos
assim, por muito, muito tempo... Num silêncio cúmplice, preenchido de
significados, ali, naquele encontro de três mundos: o dela, o meu e o nosso.
Algo muito intenso. Reconfortante. Apaziguador. Organizador.
Ainda
estou sob o efeito daquele silêncio. Pensando que no cotidiano, falamos demais.
Estimulamos demais. "Enlouquecemos" as crianças e uns aos outros com tanto
falatório. Um falatório, na maioria das vezes, oco. Que não serve para nada. Só
angustia. Machuca.
Não
à oquidão! Mil vezes o silêncio preenchido com as conversas entre os olhos, a
alma e o coração.
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