terça-feira, 11 de outubro de 2016 | Filed in:
Porque brincar
é bom demais!
É cheio de urgências,
assim como o ar,
a sede,
a fome;
a curiosidade,
o pensar,
falar, cantar,
colher frutinhas,
dormir
e abraçar!
e abraçar!
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Hoje estavam lá
as gaivotas!
Nublado!
Cheiro de nostalgia
no silêncio do "bando"
na solitude da praia...
Algumas, perfiladas,
mantinham o olhar
fixo numa direção
que não o horizonte...
seria ao passado?
Estariam recordando
o movimento de barcos
que pontilhavam e coloriam
o horizonte?
A fartura de peixe?
Os encontros barulhentos,
as brincadeiras,
paqueras
e disputas na praia
ensolarada,
antes só delas?
Acho que sim!
Este jeito assim...
pura, pura saudade!
sexta-feira, 7 de outubro de 2016 | Filed in:
E se fosse só assim:
só brilho?
Sem as arrogâncias?
Só brilho!
Sem o medo?
Só brilho!
Sem condições?
Só brilho!
Sem radicalismos?
O brilho do sol
refletido no mar.
O brilho do amor
refletido no teu olhar!
terça-feira, 4 de outubro de 2016 | Filed in:
Era sábado.
Um dia anterior às eleições. Como geralmente fazemos quando o dia está bom;
pela manhã, eu e minha neta fomos dar um passeio na quadra em frente de
casa. Vamos conversando, olhando aqui e ali... flores, passarinhos, carros, gente
e sujeira! Sempre levo uma sacola para recolher o lixo que foi descartado, sem
dó nem peso na consciência, por “ninguém sabe quem”, na rua.
- “Gente que não cuida, né vovó?! Não sabem que lixo tem que ir no lixo”...
Neste dia, a rotina foi diferente. Houvera um aniversário na escola e ela
ganhara, de lembrancinha, um bloquinho e um lápis. Pediu para levar junto,
menos o lápis, que trocou pela caneta do vovô. Fiquei imaginando o que faria...
logo descobri. A cada lixo encontrado: papel de bala, sacola plástica, garrafa
de cerveja, caixinha de suco, canudinho, bituca de cigarro, copos plásticos,
ela expressava uma indignação e registrava o objeto no caderninho...
- “Vou mostrar tudo pro tio, vó e, pro prefeito”... (neste ano a política
entrou na vida dela; um tio era candidato a vereador e ela torceu e vibrou muito com esta novidade!). “Eles têm que fazer alguma coisa, vovó” ...
E aí foi em frente, gesticulando, curiosando, descobrindo as “porquices”;
reclamando e apontado para que eu recolhesse enquanto ela fazia as anotações.
Naquele momento ela não podia ajudar a recolher, tinha que anotar tudinho....
De repente falou:
- “Eu vou ser prefeita, vovó”!
No domingo, enquanto caminhava em direção à seção eleitoral, para votar, lembrei
do fato. Estava desanimada, com a sensação vexatória da repetição por
repetição; de perda de tempo, de ser uma palhaça, babaca, etc. Senti, então,
profunda saudade da emoção e do orgulho antigo em votar! Quando os ideais eram
vivos e fortes; o desejo de mudança muito claro e a crença num futuro melhor,
um fogo crepitante e arrebatador, dentro de mim! Senti saudade de acreditar na
palavra do outro! Saudade de acreditar que o que movia os políticos, era o
desejo de servir e produzir melhorias coletivas! Saudade de acreditar que
aqueles em quem eu depositava meu voto, eram os\as melhores sujeitos! Saudade
de acreditar no amor dos brasileiros ao Brasil! Saudade de acreditar na paz, no
entendimento, no respeito e na justiça; pelas quais grandes homens e mulheres,
que admiro, famosos ou anônimos, deram a vida! Saudade de assinalar um X ou
clicar um nome, um número, com orgulho!
Recordei o brilho no olho da minha neta! O seu interesse livre de interesse; o
seu importar-se; sua indignação; sua rápida articulação para resolver algo que
ela, aos quatro anos já sabe que é um “baita” problema; mas ainda sem noção do
quanto pode ser difícil ou impossível, no mundo dos adultos (adultos? Ah! Me
desculpem! Por vezes, adultos só na idade e tamanho! Há muita infantilidade
permeando este nosso ser e fazer adulto, na verdade!), resolver coisas tão
simples e vitais, porque ali, o interesse é cheio de interesses e não sobra
tempo para cuidar das cidades e do povo que mora nelas, de fato e simplesmente!
Então meu coração enterneceu! E de novo o "milagre": o renascimento
da fênix! Ah! Sim, as crianças produzem, na gente, este reencantamento pela
vida e por aquilo que parece que está morto e não tem mais jeito! Por isto, o saber de um, deve, precisa juntar-se ao saber do outro a fim de construir algo melhor para o presente e para o
futuro... Ai! Que cansaço das discussões vazias, das
hipocrisias; da propagação e compartilhamento de raivas, meias verdades e até inverdades sem reflexão, sem investigação, sem ética; sem cuidado com os ouvidos das crianças, que absorvem e reproduzem tudo sem compreender... cansada
da falta de respeito até mesmo e principalmente destes que cobram respeito. Senti que meu rosto corou e o coração acelerou!!! Por ela, minha neta, eu resgatei o brio! Eu pisei firme! Ergui a cabeça! Por
ela, pelos alunos! Por outros e outras e por tantas lutas que já houveram em
nome desta causa! Por mim... E exerci meu direito de votar;
reafirmando o compromisso comigo mesma de não desistir! Ainda há muito que
fazer! E é preciso ajudar quem quer fazer, também! As pessoas acabam se
encontrando; o “universo conspira”! Devagar, com respeito, muita conversa e
escuta, parceria; a gente consegue (tem que conseguir!) construir uma outra
estrada! Os pequenos estão vindo aí para cobrar, ajudar a repensar, motivar,
fortalecer.
segunda-feira, 3 de outubro de 2016 | Filed in:
-
“Vovó, to com sono... me faz dormir... de pé”!
De
repente, abandonando o papel e o lápis, a pequena se aconchega no meu colo.
Assim, de repente! Estava desenhando, cantando... e o sono chegou, sem avisar!
Chegou cheio de urgências e com esta súplica doce: “de pé, vovó”!
Ah!
Como curto isto! “Dormir de pé” significa eu estar de pé, andando de lá para cá,
pela casa; com ela no colo, cabeça entregue e acomodada no meu ombro e eu, cantando
um vasto repertório; um pouco fiel, um pouco parodiando melodias de ninar e
outras, que gosto! Assim foi com meus filhos, um dia e, agora é com ela, minha
neta! Bom demais!
Acho
uma das coisas mais sublimes: ninar alguém! Eu sinto uma sensação grandiosa de
inteireza e pertença... É um prazer! Mas... é muito mais um impulso que vem
fundo e conhecido... algo que me emociona e me conecta com minha
ancestralidade. A ternura que é produzida neste encontro de ninar, é um fio
condutor que me liga com o passado. É muito grande! Não é de agora. Eu me sinto
depositária deste legado e o exerço com todo meu ser e amor!
Desde
meu último filho até agora, meu repertório de melodias aumentou, enriqueceu e,
ao mesmo tempo que vou resgatando as antigas, que a pequena curte com atenção e
depois reproduz nas brincadeiras; eu aprendo novas. E aprendo misturá-las; mais
livre para criar, modificar...
Um
dia destes, veio à memória aquela: “Ana Maria entrou na cabine, e foi vestir um
biquíni legal; mas era tão pequenino o biquíni”... Ela abriu os olhos e
perguntou:
-
“O que é cabine, vovó”?
-
Sabe aquele lugar, lá nas lojas, onde a gente entra para experimentar uma
roupa...
-
“Ah! O provador, vovó”!!!!
Bah!
Fiquei envergonhada por tê-la subestimado!!!
Mas
daí, o sono passou um pouco e ela começou a cantar, parodiando:
-
“Ana Maria entrou no provador e foi vestir um vestido legal! Mas era tão
apertado o vestido, que a Ana Maria até sentiu-se mal”....
Cantou,
repetiu mais um pouco e depois tornou a relaxar a cabeça no meu ombro:
-
“Canta você, agora, vovó!”
Demorei
um pouquinho e ela tornou a pedir.
É
que eu estava “mexida”! Coisa linda, isto, poxa!!! “Mexida” é estar mais do que
emocionada! Como eu não ficaria mexida com esta troca espontânea de afeto e
parceria? Cumplicidade? Confiança?
Quando
sinto que sua cabeça “pesa” no meu ombro; que os bracinhos pendem e começa
ressonar; aguardo mais um pouquinho e então agradeço: por merecer! Merecer
viver isto! Que não tem similar. E então a coloco na sua caminha. E de vó, me
transformo em guardiã deste sono. Algo delicado, que também me é confiado pelas
minhas ancestrais, no mais secreto da alma! Ali, me reencontro com meu universo
feminino; com tantas e tantas mulheres que foram antes de mim... talvez eu
mesma! Fortaleço.
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