segunda-feira, 3 de outubro de 2016 | Filed in:
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“Vovó, to com sono... me faz dormir... de pé”!
De
repente, abandonando o papel e o lápis, a pequena se aconchega no meu colo.
Assim, de repente! Estava desenhando, cantando... e o sono chegou, sem avisar!
Chegou cheio de urgências e com esta súplica doce: “de pé, vovó”!
Ah!
Como curto isto! “Dormir de pé” significa eu estar de pé, andando de lá para cá,
pela casa; com ela no colo, cabeça entregue e acomodada no meu ombro e eu, cantando
um vasto repertório; um pouco fiel, um pouco parodiando melodias de ninar e
outras, que gosto! Assim foi com meus filhos, um dia e, agora é com ela, minha
neta! Bom demais!
Acho
uma das coisas mais sublimes: ninar alguém! Eu sinto uma sensação grandiosa de
inteireza e pertença... É um prazer! Mas... é muito mais um impulso que vem
fundo e conhecido... algo que me emociona e me conecta com minha
ancestralidade. A ternura que é produzida neste encontro de ninar, é um fio
condutor que me liga com o passado. É muito grande! Não é de agora. Eu me sinto
depositária deste legado e o exerço com todo meu ser e amor!
Desde
meu último filho até agora, meu repertório de melodias aumentou, enriqueceu e,
ao mesmo tempo que vou resgatando as antigas, que a pequena curte com atenção e
depois reproduz nas brincadeiras; eu aprendo novas. E aprendo misturá-las; mais
livre para criar, modificar...
Um
dia destes, veio à memória aquela: “Ana Maria entrou na cabine, e foi vestir um
biquíni legal; mas era tão pequenino o biquíni”... Ela abriu os olhos e
perguntou:
-
“O que é cabine, vovó”?
-
Sabe aquele lugar, lá nas lojas, onde a gente entra para experimentar uma
roupa...
-
“Ah! O provador, vovó”!!!!
Bah!
Fiquei envergonhada por tê-la subestimado!!!
Mas
daí, o sono passou um pouco e ela começou a cantar, parodiando:
-
“Ana Maria entrou no provador e foi vestir um vestido legal! Mas era tão
apertado o vestido, que a Ana Maria até sentiu-se mal”....
Cantou,
repetiu mais um pouco e depois tornou a relaxar a cabeça no meu ombro:
-
“Canta você, agora, vovó!”
Demorei
um pouquinho e ela tornou a pedir.
É
que eu estava “mexida”! Coisa linda, isto, poxa!!! “Mexida” é estar mais do que
emocionada! Como eu não ficaria mexida com esta troca espontânea de afeto e
parceria? Cumplicidade? Confiança?
Quando
sinto que sua cabeça “pesa” no meu ombro; que os bracinhos pendem e começa
ressonar; aguardo mais um pouquinho e então agradeço: por merecer! Merecer
viver isto! Que não tem similar. E então a coloco na sua caminha. E de vó, me
transformo em guardiã deste sono. Algo delicado, que também me é confiado pelas
minhas ancestrais, no mais secreto da alma! Ali, me reencontro com meu universo
feminino; com tantas e tantas mulheres que foram antes de mim... talvez eu
mesma! Fortaleço.
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