domingo, 13 de agosto de 2017 | Filed in:
Uma
querida amiga, apaixonada pela matemática, disse-me um dia, há muito tempo, que aprender subtrair e dividir é mais difícil
que aprender adicionar e multiplicar. Entendi. Quem não entende? As subtrações
que a vida nos faz são dolorosas. Umas, mais.
Este é
o meu primeiro dia dos Pais sem o meu pai. Nem sempre estivemos juntos, neste
dia, por causa da distância geográfica; mas eu sabia que ele estava lá. E era
bom saber que estava lá, vivendo sua vida, sua rotina. Era só ligar e ouvir:
- “Aaalôôôô! Oh, minha filha! Como vai? E daí,
quais são as últimas do evangelho”?!!!
Já sou vovó; estou a um passo dos sessenta
anos, mas de repente sou só filha e me sinto órfã de pai. E sinto esta dor sem
remédio, este vazio.
Um dia,
como dizem que acontece com todos, o meu “pai-herói” caiu, desmistificou. Isto produziu
marcas. Mas, depois da decepção, cresci e aprendi a ver, amar e respeitar o ser
humano que ele era. Meu pai era um sujeito agradável, parceiro, cativante, que
sabia fazer graça com as palavras! Sem esforço, criava, transformava,
acrescentava significantes e significados a elas, conforme o momento.
Certamente, havia quem não gostasse. Mas ele era hábil e nos divertimos muito
com ele e por causa dele. Mesmo quando não estava presente, a lembrança das
suas “patacoadas”, nos trazia o riso e o brilho nos olhos. Até hoje! Me flagro,
com freqüência, junto a alunos e amigos, lembrando: “Ah! Meu pai, agora, diria isto”! E sinto minha alma sorrir!
Certamente, meu encanto pelas palavras, vem daí.
Meu pai
tinha noção de seus limites e de algumas intolerâncias dos outros. Aprendeu
brincar com isto: “tirando os defeitos,
até eu sou bom”! Quando errava, fazia uma bobagem ou recebia uma crítica,
repetia um ditado popular: ... “Ah! Isto
acontece nas melhores, piores e médias famílias”... O que provocava
divisão: irritação de um lado e risos de outro.
No
hospital, me presenteou com uma última gargalhada. Ele já não abria os olhos e
nem respondia às nossas solicitações. Eu o desafiei: - “Pai, por favor! Estou precisando que o senhor melhore! Tenho uma porção
de espigas de milho, lá em casa, esperando que alguém tire aqueles cabelinhos!
E ninguém faz isto melhor do que o senhor”! De imediato soltou uma
gargalhada! Chegou erguer a cabeça do travesseiro e abrir levemente os olhos! Depois,
mergulhou, definitivamente, no silêncio.
A
saudade do meu pai atualiza sua palavra em mim e desafia minha palavra a reproduzir
as suas histórias e produzir as minhas. Seguimos juntos, meu pai Ximitão e eu,
agora no campo das sutilezas, dando continuidade às histórias, vida às palavras
e significados ao nosso encontro.
- “E aí, minha filha, como vão as coisas”?
This entry was posted on 02:18
You can follow any responses to this entry through
the RSS 2.0 feed.
You can leave a response,
or trackback from your own site.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
1 comentários:
Aêêê !!!!!!!
Fantástico !!!!!!!
....... bem assim !!!!!!
Saudades .....
Postar um comentário