Sem a palavra
o afeto
cala.
Sem afeto,
a palavra
fere.
Com a palavra
o afeto
cultiva.
Com afeto
a palavra
cuida.
Sons de lá
de aqui, de ali...
ora se agregam,
ora se individualizam
e se organizam...
... é a música uma
carícia permanente,
irresistível ao que
se é e se tem.
Intui caminhos
esconderijos secretos,
banaliza os labirintos,
armaduras e defesas
e chega no centro, no
sensível e verdadeiro;
onde o fogo
arde apaixonado,
teimoso e soberano
ansiando e ensaiando
expansão, com suas
labaredas inquietas,
curiosas de vida.
Olhos queridos
de olhar fundo
definido e singular,
único entre tantos.
Quando olha, vê.
Olha e desvela,
olha e encontra
olha, perturba
desmancha e
ao mesmo tempo
encanta, unifica.
Mesmo distante
é presente
acolhe e inquieta.
Envolve, aquece...
conversa silêncios infinitos
atravessando
dimensões, tempo,
racionalismos, lógica.
Não é onisciente
nem onipresente.
Só humano e presente!
Está fora e está dentro.
Inscreveu-se nos
contornos das essências
e ali vive, alimenta,
inspira.
Viu a meia,
apaixonou-se!
Cheia de rendas, detalhes.
Comprou.
Mas nunca usou.
Um ano passou...
e encontrou o sapato!
Maravilhoso!
Salto alto
cor sedutora.
Experimentou.
Dentro dele, um pé
que ficou lindo,
precisou admitir!
Um do outro,
a meia, o sapato e o pé!
Coisa bonita,
doce, controvertida
e surpreendente
o universo feminino!
Efervescente.
Alternando sentimentos
papéis, descobertas
intensas e desconcertantes
num mesmo dia,
num mesmo momento..
Um sapato e uma meia
de repente
iluminando o dia
acordando a mulher
e o desejo de ser feliz!
Viajo na luz do dia
na carona da brisa
na cantoria da passarada
nos raios coloridos do sol
mas não te adivinho.
Talvez aconchegado
em cavernas de felicidade
onde não posso entrar,
ou em mistérios cotidianos
do teu querer e fazer.
A vida segue
os dias são bonitos
plenos de segundos,
suspiros e indagações.
Tanto para contemplar!
Me tocam as diferenças
com diferentes
ecos...
DIFERENTE
DIFERE
FERE
FE
RENTE
ENTE...
Vezes em que
diferença fere
e fere bem rente,
difere e separa.
Outras em que
aumenta a
crença e fé
nos entes, nas gentes;
aproxima e anima!
Diferenças
de cor, de sabor
de saber, de viver
e de amor.
Diferença no louvar
no pedir, no negar
e no celebrar.
Diferença no sentir,
perceber, reagir
acolher e no expressar
o saber, o querer e o amor.
Diferença de superfície:
alimenta o olhar indiferente,
excludente, preconceituoso,
mantém à margem.
Diferença de profundidade:
acolhe, ampara,
fortalece e complementa!
Contempla a troca,
a liberdade, a sutileza,
a singular beleza da alma
para muito além
das fraquezas,
das cotidianas,
fúteis e inúteis
indelicadezas.