O dia nasceu
sombrio, quietinho
de tristeza ou brabeza?
O vento agita, dispersa
folhas e galhos
e pássaros ....
Um canto
uma brincadeira
que inicia aqui
já se quebra ali...
e tudo silencia...
será por temor
dor ou puro amor?
Se os olhos veem
o coração sente...
é pura realidade!
Se os olhos não veem
o coração
continua sentindo...
é pura saudade!
Se os olhos abrem
eles se iluminam!
Veem com prazer
o que está fora...
é puro contentamento!
Se os olhos fecham
vibram! Porque...
o que está fora
está dentro
inscrito,
é puro sentimento!
Ainda inverno
ainda frio
mas em momentos
em dias inesperados:
calor, sol alegre,
brisa suave!
Botões desabrochando!
Uma primavera ansiosa
que se antecipa
enviando comitivas
se anunciando, insinuando
bela, cheirosa
em pequenas aparições
aqui e ali
no jardim,
nas copas das árvores
e onde mais lhe agrada
onde menos se espera!
E a vida se espreguiça
instaurando movimento!
E uma chama reascende
põe brilho nos olhos
acelera o coração
recompõe esperanças
acorda desejos
que hibernavam
em cavernas sombrias.
A realidade é o ponto final.
Final de sonhos
de ilusões.
Vão-se as exclamações
as reticências
e as interrogações.
Nem mais as vírgulas
separando expectativas e
suspiros e inquietudes
e emoções fundas.
Fica a concordância verbal
no pretérito imperfeito:
eu ilusionava
eu sonhava
eu esperava
eu amava
eu escrevia
eu sentia
eu queria.
Fica num movimento de resistência
ao hiato que se instaura
a um passado que se inaugura
a uma tristeza que se enraíza.
Mas o olhar permanece
contemplando e dando
vida e direção aos adjetivos
aprendendo a conjugar
o possível e o real
no tempo presente.
Por entre
solicitações
daqui e dali
e de lá,
sobressaltos
imprevistos
inesperados
desconcertantes!
... uma tênue
linha de
permanência
sossego,
espaço seguro
e constante
de bem querer
e desejo de
bem fazer
se instaura.