domingo, 2 de outubro de 2011 | Filed in:
Voltava, a pé, para casa. Oportunidade boa para observar o contexto; o que a praticidade e a rapidez do carro impede. Os loteamentos, os empreendimentos imobiliários são disputadíssimos nesta região, todos sabem, assim como os posicionamentos acerca disto. Acontece, também a ocupação clandestina de algumas áreas. Ao mesmo tempo em que são celebrados os novos lançamentos e vendas de imóveis cada vez mais sofisticados e que casas vão salpicando alguns morros sem o devido cuidado; vozes da comunidade se "alteiam" denunciando o desrespeito ao meio ambiente e as gravíssimas consequências. Acompanho, preocupada e tensa. Esta região onde moro ainda é muito linda, exuberante! O asfalto e os prédios ganham espaço e o problema disto é que a natureza perde espaço e a nossa qualidade de vida também. Há uma busca em viver, construir nestes lugares, que são pequenos paraísos verdes e sossegados! As pessoas querem sair, fugir do barulho, dos engarrafamentos, do cimento, da agitação. O que é bom, natural. Mas onde vão, levam tudo isto junto. Parece que há um lado nosso, humano, que quer este conforto conquistado; mas outro, que se ressente com as conseqüências e, ao mesmo tempo que busca, foge e, neste movimento, age irrefletida e infantilmente... porque algumas coisas não combinam e não vão combinar nunca, nem interagir em paz e harmonia. Na caminhada, “dei de cara” com um dos morros aqui perto. E levei um susto! Passo por ele várias vezes durante a semana; mas há algum tempo acho que não olhava muito bem para ele... Está todo cortado, violado, exposto. Sangrando; sangue escorrendo, sangue coagulado, preto. Cheio de cicratizes. Gemendo. E ninguém escuta. Buracos na terra. Mutilação. Ninguém vê. Ninguém acarinha, "curativa". Eu não estava vendo! Bem ao meu lado, no meu campo de visão e audição. Não vi. Não fiz nada. É feio e triste. Muito feio e triste! Ao lado, pedaços da mata Atlântica, sobrevivendo; perdendo partes do corpo de pouco em pouco, atacada sorrateira e covardemente. Imagino o pavor deste pedaço sobrevivente! Algo mais ou menos semelhante ao pessoal, que a cada enchente, apavorado, observa o rio que sobe ameaçando sua casa, suas coisas, sua vida... com a diferença de que estas pessoas, advertidas com antecedência, podem optar em sair dali ou não e preservar a sua vida. Eu choro. Vendo a minha e nossa pequenez e ignorância se agigantando e produzindo este tipo de coisa; que dificilmente tem volta... enquanto nossa grandeza, sensibilidade e inteligência humana, neste aspecto urgente (como em tantos outros), minimiza. E não lavo as mãos culpando políticos e “poderosos”; porque isto tem sido sempre o mais fácil e confortável para muitos e nunca mudou o rumo de nada. O que mudou a história, em todos os seus momentos, primeiro foi a consciência e decisão\ação pessoal; depois a coletiva. Muita coisa ainda não mudou talvez porque os indivíduos ainda não amadureceram; dependentes e passivos, ocupados com seu umbigo.
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