Jeitos do afeto


O afeto, o amor faz demandas duras, por vezes. Em alguns momentos a gente precisa externar estes sentimentos com firmeza e não com doçura, como parecem sugerir. Pensei nisto, novamente, hoje, ajudando segurar e imobilizar minha neta, para que pudessem coletar seu sangue, para exames de rotina, agora que completa 1 aninho. Foi duro ouvir seu chorinho, os olhinhos fitando a mim e a sua mãe, interrogando sobre esta atitude nossa, sobre esta dor que assistíamos ela passar. Como se nos perguntasse: o que está acontecendo? Por que estão ajudando estas pessoas me “judiarem”? Naqueles momentos, um filme passou. Lembrei das inúmeras vezes em que passei por esta mesma cena: em hospitais, em ambulatórios, em laboratórios; quando meus filhos eram pequenos e nas vezes (raras) em que tive que, às pressas, levar ao pronto socorro, alunos por algum acidente ocorrido na escola e ficar ali, neste papel de “sustentar a dor” (para um curativo mais profundo;  uma anestesia para fazer pontos) necessária, até a chegada dos pais. Quanto a gente precisa ser forte nesta vida! Como o desejo de proteger, de minimizar ou livrar da dor, o próximo, é intensa! Como dói a impotência diante do sofrimento de um filho, de um ser que a gente ama! A maturidade nos presenteia com descobertas importantes: o verdadeiro amor é consciente; feito de afeto e limite. Às vezes o  amor mais verdadeiro e genuíno está expresso num “não” e o mais absoluto abandono, num “sim”. E o “menos” é “mais”. E o demais banaliza.  E a falta enriquece. Respeitar é bonito, mas dói. Deixar a porta aberta é o melhor presente: para ir e para voltar. Sentar e conversar. Sustentar e suportar choro e riso.  Acolher e silenciar. 

 

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2025, 16o aniversário do Blog! Pulei 2024, ano dos 15 anos. Aconteceu sem intenção. Retomo, agora, este espaço e esta escrita e me preparo para metaforizar silêncios e ausências. É o que eu gosto.

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