segunda-feira, 6 de maio de 2013 | Filed in:
Foto retirada da internet
É
nisto que venho pensando nos últimos tempos... neste casamento entre estes
“dois fazeres’: ensinar e educar. Nas
minhas aulas de produção de texto, neste ano, estou trabalhando utilizando a
tecnologia: o notebook e o pen drivre. Quem tem notebook, traz de casa, quem
não tem ou não pode trazer, usa os computadores da escola. Isto deu um novo
alento e colorido às aulas, que acontecem uma vez na semana. Os alunos estão
felizes, curtindo muito; até porque no final da tarde, um pouco antes de acabar
a aula, combinamos um tempo livre para eles trocarem seus conhecimentos, partilharem jogos, mostrarem
fotos e outras coisas que têm armazenado. Quem está fazendo um grande trabalho
em tudo isto, sou eu mesma. Vencendo resistências, preconceitos e inseguranças.
Adoro o quadro, o giz, o papel, as canetinhas e o lápis! A tecnologia me
assusta, um pouco. Eu nem tenho celular! E entendo tão pouco desta ferramenta: o
computador. Sei o básico do básico. Mas a curiosidade e o desejo de capturar e
estimular o interesse dos alunos pela leitura e escrita, é maior. E me desafiei
e me lancei. Estou até me animando para fazer um curso de computação, aprender
a técnica! Mas o que está sendo interessante, apaixonante e o mais importante, neste trabalho é o que
acontece em sala de aula! Temos as Coisas
pequenas e as Coisas grandes. Chamo
de Coisas pequenas, isto: baterias
que acabam e o grande número de extensões que tive que providenciar para que
cada um tivesse onde colocar o carregador... os alunos estavam acostumados a
jogar no computador; e agora, para escrever, tiveram que aprender a salvar,
recuperar “coisas que apagam sem querer”; apagar, voltar; selecionar letra
maiúscula, minúscula, colocar acento, cedilha (alguns teclados não têm...);
colocar e tirar pen drive corretamente; acionar antivírus, etc... e isto se traduz num corre-corre sem fim; em chamamentos
intermináveis: professora pra cá, professora pra lá... “o meu não abre... não sei o que aconteceu, apagou tudo... como se põe o
til, e o circunflexo... onde está a cedilha... como faço a interrogação... a
letra ficou pequena de repente... quero a letra maiúscula... mas o que é que
está errado nesta palavra, professora, que ela continua com este risquinho embaixo...”.
Mas isto é quase nada, porque o que é relevante neste trabalho todo, são as
Coisas grandes que acontecem e que
para mim, são as produções dos alunos! Neste trimestre inicial trabalhamos com
rimas, versos, poesia! A sala de aula, para quem não sabe, é um corpo vivo e
vibrante, “chamejante”! De quando em quando, num intervalo de entre uma
respiração, um chamado e outro, paro e olho e meu coração fica ao mesmo tempo
desmanchado e inteiro, agigantado, com o que vejo. E o que vejo? Vejo crianças
trabalhando com prazer! Sozinhas ou em duplas, trios, cada um do seu jeito e
gosto; centradas no seu fazer. Isto não quer dizer silenciosas, quietas. Quer
dizer trabalhando do jeito que as crianças trabalham: comentando, olhando o que o outro fez, rindo
de algo que só eles viram; lembrando de algo que aconteceu ontem ou que vai
acontecer amanhã... contando uma piada.... voltando para o texto, relendo,
continuando a escrita... quando então acontece um grande e surpreendente hiato!
Quando todos ficam absorvidos e só vejo
seus olhinhos piscando atrás dos notebooks... silêncio de ouro! Preciosíssimo!
E o meu coração bate forte, bate alto! Sabe o que está acontecendo ali? Alta
produção de pensamento, de criatividade, de inteligência, de singularidade! E
assim vai a tarde, alternando quietude e burburinho. De quando em quando, um conflito
ou a lembrança de um impasse ... e aí, tudo para! É preciso atualizar. E abrir
espaço para a palavra é saber que vem material de peso, ainda mais durante um
processo de sensibilização, de encontro com os sentimentos, como este: de
produção de texto. E tudo isto é conteúdo de vida que se mistura com o conteúdo
de aula e o resultado, ao final de cada tarde de trabalho é o deleite e
orgulho! Eu me deleito lendo seus trabalhos e me orgulho deles e por estar ali,
fazer parte deste processo. As últimas semanas têm me oportunizado muita
reflexão. Vejo seus movimentos e escuto suas conversas; como trocam informações
técnicas a respeito dos notebooks e seus recursos; como utilizam os nomes
(todos em inglês) e partilham sites e técnicas; falando deles como se falassem
do jogo de futebol, do filme, da festa! Alguns até se abraçam e caminham pela
sala e corredores, confidenciando algumas informações mais reservadas,
conseguidas com o pai ou amigo do pai... e ficam se mostrando e também admirando
mutuamente pelos saberes que fazem circular...e me olham felizes e me escrevem
bilhetinhos de carinho e afeto no quadro ou em papeizinhos ilustrados e me
apresentam poesias de desmanchar o coração, com metáforas de fazer inveja a
muito poeta consagrado! E eu me pergunto: este que escreveu esta doce poesia é
o mesmo menino que antes estava ali, falando, explicando todos aqueles termos
técnicos sobre como acessar a tal site e dali fazer isto e aquilo para resolver
tal coisa... e que na hora do recreio corria e lutava e brigava por causa de um
“frango” que o goleiro do seu time levara... e que na apresentação do tema
livre falara dos aviões, como funcionam e, mais especificamente de um tipo de
avião construído especialmente na II Guerra Mundial, peso, tamanho, utilidade,
etc... A gente aprende o tempo todo. O mundo, a vida, as pessoas, os
instrumentos tecnológicos (em rica variedade!), os acontecimentos, informam, ensinam coisas. Mas isto não
significa que eduquem. Para educar precisa disponibilidade, tempo, sensibilidade;
estabelecer vínculo, implicar-se, refletir junto, escutar e conversar;
importar-se e cuidar do sujeito inteiro; o que vai bem além das informações, sejam
elas simples ou complexas. Educar demanda sentimento, respeito, delicadeza no
olhar, na fala, na ação.
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