segunda-feira, 14 de outubro de 2013 | Filed in:
Percebo,
sem disfarçar meu encanto, a facilidade com que os jovens dizem: “eu te amo”!
Se eles gostam de alguém, lá vai o “eu te amo” com a maior espontaneidade. Vejo
estas declarações nas redes sociais e nas interlocuções, nos encontros
cotidianos, não importando, gênero, número, nem o grau da relação. Acho lindo,
arrojado, corajoso este assumir o sentimento, dentro e fora. Fantástico esta
palavra saindo como numa pauta, cheia de sons, cores, harmonia e beleza.
Constato que todos sabem exatamente o que significa “eu te amo” em cada
relação. Para mim, o “eu te amo” ficou enquadrado na categoria das coisas
especiais, quase que sagradas; num pedestal, num altar, distante; que se acessa
poucas vezes, com muito merecimento e que se diz para pouquíssimos, aqueles
seres também raros que entram na vida da gente por felicidade suprema! O “eu te
amo” ficou para mim como a roupa domingueira, de “antigamente”; que não se
usava todos os dias, só em ocasiões especiais; festas e passeios dominicais e
que se cuidava com extremoso carinho, para não estragar, não sujar; para poupar
e durar. E desejei dizer tantos “eu te amo”! Tantos! Tantos! E não disse por
temer que fossem passageiros (e o amor, para mim, teve sempre esta conotação de
“para sempre”) ou que pudesse banalizá-lo, ou que fosse não fosse lícito ou que
pudesse causar constrangimento e o pior, rejeição. Lamento ter crescido num
contexto contido, cheio de “senões”, preconceitos que conflituam, até hoje, com
minha alma, meus sentimentos, que querem expressar amor a todo momento. E, mais
ainda, por não ter conseguido libertar-me destas amarras que internalizaram o
meu verbo. Meu ser rejubila quando ouço um “eu te amo”, independente de quem o
diga e para quem diga! Importa dizer, importa ouvir e perceber as conseqüências
que este mantra provoca em quem diz e em quem ouve. Importa o momento. Esperar
uma vida inteira para dizer ou ouvir um “eu te amo” que se encaixe nas
expectativas mais acalentadas, não sei se vale a pena. Mas quanta diferença
produz ou provoca dizê-lo todos os dias, com todas as letras! Mesmo que seja
apenas do momento... não é feita de momentos a vida? Assim como para alguns,
como para mim, ficou difícil pronunciar; para outros, talvez fácil demais e por
isto, a expressão tenha se desgastado, generalizado, perdido o encanto. Dizem
e, parece mesmo, que tudo que generaliza, perde a importância; tudo que é fácil
não é valorizado. Eu não sei mais. O que sei, agora, é que tudo pode ser
relativizado. Que as pessoas são singulares; cada uma tem um jeito de sentir,
interpretar e expressar. O amor, sendo vital, deve ser expressado, dito, sem
reservas, medo ou censura. Eu disse e digo “eu te amo” de infinitos jeitos para
todos que amei e amo. Mas não sei se fui, se sou entendida. Muitas vezes
escrevi linhas e páginas; fiz isto e mais aquilo; quando o que queria dizer era
somente “eu te amo”. Hoje, acordo feliz! Vejo minha palavra tardia nascendo,
saindo de minha boca com maciez e gostosura! Liberta, se deleita e
acompanha a partitura extraordinária da manhã, exibida repetidamente pela
passarada ao meu redor e vai aos quatro cantos do meu mundo, se
mostrando, como o sol que nasce e doura lentamente os morros, as copas das
árvores... até tocar o cantinho mais escondido da floresta. Eu te amo!
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