domingo, 27 de outubro de 2013 | Filed in:
O
dia da faxina é sagrado. Mulheres aprendem isto bem cedo, com as mães, avós,
outras mulheres. Maria, tão pequenina, já aprendeu também, pega um paninho e
vai limpando, imitando a mãe, a vó... Uma casa precisa de faxina. Minha mãe
fazia e, ainda faz, faxina todos os dias. Eu só consigo fazer aos sábados. É o
tempo que eu tenho. E tenho lamentado, porque gostaria de usar este tempo de outra
forma. Mas uma casa precisa de faxina. Tentei ter uma faxineira. Várias vezes.
Não deu certo. Minha casa é muito grande, com muita escada e muito vidro. Isto
assusta e elas não voltam. E tenho um agravante: nenhum de nós, em casa, gosta,
fica à vontade com uma pessoa estranha dentro. Descobrimos, recentemente,
que muito lá no fundo, escondidinho,
ficamos, cada um no seu silêncio, torcendo para que elas não venham mesmo. E
quando não vêm, o alívio é sempre maior do que a decepção. Então, o jeito é pôr
a “mão na massa” e faxinar, do jeito que é possível, a cada sábado que
amanhece.
E o que faz a outra parte de mim, enquanto o corpo faxina, corre,
abaixa, levanta, varre, molha, seca, esfrega, torce, escova, lustra, tira pó,
dobra, passa, sacode, estende... ? Porque eu, eu não consigo ficar “inteira” na
faxina! Minha cabeça e meu coração são rebeldes e nunca entram em consenso com
estas atividades mecânicas, repetitivas e, praticamente inúteis, porque a gente
limpa para sujar. Limpa outra vez para sujar outra vez... A outra parte de mim,
viaja, pensa, reflete, medita. Conversa, discursa. Atualiza e “acerta contas”
com “deus e o mundo”! Também chora e briga, de raiva, de tantas saudades e de
impotência. Prepara aulas e imagina, sonha e cria!
Ontem, na faxina mais
recente, descobri que isto também é faxina! Faxina interna. Vou limpando fora e
arejando dentro; revirando meus
conteúdos. Descobri que ao contrário do que eu pensava, durante a faxina
estou e sempre estive mais “inteira” do que pudesse imaginar; faxinando por
dentro e por fora! Me dei conta disto quando falei para o meu filho que “um dia destes, quando tiver um tempo maior,
de férias, vou separar e jogar, um monte de coisas inúteis, espalhadas e
entulhadas pela casa toda, fora”! Imediatamente veio um eco repetindo, lá
do mais fundo de mim: “dentro também! Há
uma porção de inutilidades, velharias, “cacos” nos quais estou apegada e que
não servem para nada, a não ser para ocupar espaço, dar trabalho; que eu fico
limpando, quando devia estar jogando fora”. Acredito que daqui para frente,
estes dias de faxina serão mais tranqüilos; porque finalmente compreendi que
faxina é algo absolutamente pessoal e intransferível, ninguém pode fazer,
mesmo, pela gente, por mim. Uma vez na semana é o mínimo, para ter mais leveza
e bem estar. Certa está minha mãe, faxinando todos os dias! Pena que ela ainda,
com tantos anos “na lida”, ainda não tenha “atentado” e aproveitado para fazer a limpeza interna. Espero
que eu consiga, agora que “atinei” e que as mulheres que vêm depois de mim,
minha filha e minha neta, aprendam ainda mais cedo do que eu a transformar
trabalho em liberdade.
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