quarta-feira, 1 de abril de 2015 | Filed in:
O
homem pediu licença para passar. A poltrona dele era a de número 5, janela. A
minha, 6, corredor. Acomodou-se e cumprimentou:
-
Boa noite! Para onde a senhora vai?
Respondi
e por educação, não por interesse, devolvi a pergunta. E logo ajeitei meu
“travesseiro de pescoço”, peguei meu tercinho, fechei os olhos e entrei no meu
silêncio, para rezar... e também para não dar abertura à continuidade do
diálogo com o desconhecido. Não só por isto, mas porque eu gosto de ficar
calada quando viajo. Para olhar, pensar e rezar.
Ele
era um homem grande que não cabia todo no seu banco. Não deu para seguirmos na
indiferença. Sem maldade, invadia meu espaço e eu me chateei muito com isto.
Minha bolsa grande veio em meu socorro e com ela fiz um escudo para me proteger
do toque involuntário do desconhecido. Mas ele dormia, relaxava e soltava o
peso, que se deslocava de lá para cá e acabava fazendo pressão no meu braço,
através da bolsa. Eu, então, num esforço, me reorganizava no banco e, através
da bolsa, devolvia a pressão e ele ia um pouco para lá; mas logo deslizava para
o meu lado... assim fomos por longas horas.
Ele,
ao menos, parecia dormir profundamente, porque ressonava; mas eu fazia soninhos
curtos; não conseguia relaxar. Por vezes, ficava tomada de grande raiva, por
este desconforto sem fim; mas fiquei ali.
Faltando
pouco tempo para chegar ao meu destino, o ônibus esvaziou e ele, antecipando-se
a mim, que estava com a mesma ideia; levantou-se rapidamente e acomodou-se nos
bancos ao lado, que ficaram vagos. Demonstrou seu desconforto, finalmente! Então,
acho que verdadeiramente, descansamos.
Que
experiência “mais sem cabimento”! De que isto serviu? Um encontro de
desconforto profundo (e quantos assim!)... E lá se foi ele, para uma cidade
adiante; viver sua história, da qual não tenho a mínima ideia... E eu cheguei no
“meu destino”, para dar continuidade à minha. Histórias que podiam ter feito
uma intersecção, mas não.
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