terça-feira, 29 de dezembro de 2015 | Filed in:
A vovó queria dormir. Um cansaço... um peso danado tomava conta do corpo e das pálpebras. Efeito do relaxamento provocado pelo início das férias. Mas a netinha não queria dormir. Queria brincar.
- Vovó, deixa eu pintar tua unha?
- Hãhã... mas devagarinho... Pega a toalhinha, coloca o esmalte em cima para
não pintar a colcha da vovó, tá?
- Tá bom, vó!
A pequena, compenetrada, pintava unhas e dedos da vovó, que acompanhava a cena,
um olho aberto e outro fechado; sem mais clareza do que queria: se dormir ou
“babar” contemplando as “caras e bocas” da pequena...
- Acabei, vovó! Olha que lindo que ficou! E passei duas vezes! Agora vou pintar
as minhas!
- Bah! – pensou a vovó!
Logo, quatro mãos estavam literalmente pintadas! Lindas e brilhantes!
A vovó, com muita vontade de rir:
- Ficou lindo mesmo, querida! Agora, fecha bem o vidro; vamos ficar bem
paradinhas para o esmalte secar e aproveitar para fazer um soninho!
- Tá bom, vovó! Mas, antes, posso passar um pouco de gloss?
Nem esperou a resposta e já foi pegar a necessaire dela, onde a vovó
guarda estes objetos que despertam, na pequena, tanta admiração e prazer: o
esmalte, o gloss, o “perfume” – “de criança”, né vó”!
A vovó abriu bem os dois olhos. E com razão, pois lá vinha a pequena, com sua necessaire, sim! Mas também com a da vovó! Ah! A da vovó era mais
interessante!
- Vó, trouxe a tua, também... pode passar o teu gloss....
- Obrigada, querida; mas a vovó não quer agora. Vai passar o teu lá na frente
do espelho...
- Já sei vó, é pra não ficar “rebocada” como a Morena Rosa, né?!!!! - e riu!
Menina danada! Associou de imediato com o verso “olha o tranco da
Morena Rosa, rebocada de “ruge” e “batão”, de uma melodia gauchesca! Gosta
desta música! Ouve, repetidamente, com o vovô, justamente porque alude a este
universo feminino que admira. Um dia, assim que a ouviu pela primeira vez, logo
corrigiu: - olha, “vovó, o moço cantou errado, não é batão, é batom”! E
emendou: - “o que é rebocada”? E “ruge”, vovó”?
A vovó, olhos semicerrados, espiou a pequena, que estava em frente ao espelho
grande, observando-se, feliz! Viu como passou o batom com cuidado e depois
olhou-se com maior interesse; sorrindo e fazendo trejeitos e “poses! Quando
percebeu que ela voltava, simulou que dormia. Sentiu quando a pequena chegou
bem pertinho dela... Esperou... sabia que estava articulando um discurso
conhecido... que veio logo:
- Vovó... agora eu vou maquiar você, tá?
- Mas agora a vovó quer dormir, “tonchinha”...
- Ah! Vovó! Você pode dormir! Mas você “quenque” confiar em mim!
- Hã? – A vovó estava surpreendida, profundamente! Abriu bem os olhos. O
que uma guriazinha de três anos sabe ou pensa sobre confiar? - Meu amor! E o
que é isto, confiar?
- Hum... é... hã...não sei, vó. O que é, vó?!!!
- Confiar é acreditar.
A pequena ficou em silêncio... abrindo e fechando o
"blush"... até que:
- Ah... Vó! Eu confio em você! E agora, você “quenque” confiar em mim!
Vou fazer uma “maquiage” bem bonita pra você ficar bem linda, tá... vó!!!!!
Abraçou a vovó e riu seu riso doce e brilhante!!!!
E sem saber se também ria ou chorava de emoção, a vovó encheu-a de
beijinhos!!!!
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5 comentários:
Imaginei cada detalhe da cena Maisa! Quantos sentimentos...pura emoção! Imaginando aqui quando ela for mocinha...mulher...velhinha...e ler seus escritos. Lembrar ou imaginar! Que legado Maria sempre vai guardar desta avó tão especial.
Querida Eliane! Obrigada! Bom demais!
Quanta emoção senti! E essa é realmente a nossa menina, tão cheia de luz, de vida, de sorrisos, de sentimentos e de imaginação. Que legado de amor, que herança de histórias de amor. De um lado recebeu o nome da avó e da bisavô que a zelam por ela lá de cima e de outra uma avó mais que presente, que vai deixar pra ela o melhor que alguém pode receber. E o melhor de tudo, a Maria Margot merece, faz jus à todo esse carinho, a todo esse amor.
Quanta emoção senti! E essa é realmente a nossa menina, tão cheia de luz, de vida, de sorrisos, de sentimentos e de imaginação. Que legado de amor, que herança de histórias de amor. De um lado recebeu o nome da avó e da bisavô que a zelam por ela lá de cima e de outra uma avó mais que presente, que vai deixar pra ela o melhor que alguém pode receber. E o melhor de tudo, a Maria Margot merece, faz jus à todo esse carinho, a todo esse amor.
Que coisa linda ouvir, Diana! Obrigada! Me encanta esta ideia de continuidade; estas marcas e presenças que vão sendo repassadas, de geração em geração, na fisionomia, no nome, nos gestos, nas atitudes e assim vamos nos reconhecendo um pouco nos filhos, nos netos, bisnetos... Misturas, alquimia, histórias, lutas, durezas, aprendizados e, o mais importante, uma linha contínua de amor!Abraço, de vovó para vovó!
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