quinta-feira, 23 de junho de 2016 | Filed in:
Há amores que o tempo vai acomodando dentro da gente e ali permanecem tranqüilos, inesquecíveis mas sem arroubos e necessidades. Encaixados e em paz. Assim, há tempos deixei de vibrar como vibrava quando criança e adolescente, vendo e torcendo pelo meu Inter. Sim, O Inter era nosso! Como um parente próximo, querido!
Não freqüentávamos os estádios, mas
acompanhávamos as narrativas dos jogos realizados na capital ou em outras
cidades, pelo rádio e depois, quando chegou a TV, pela telinha. Eram momentos
de grande tensão e emoção! Coração e gritos e pulos de alegria e de raiva
sempre prestes a explodir... Naqueles dias, meu pai tinha uma rural e quando
ocorriam as vitórias, saíamos de casa, após o jogo, para participar de passeata
no centro da cidade; identificados com a nossa cor e o nosso amor: camisetas,
bandeira, chaveirinhos, decalques (hoje, este universo ampliou e os símbolos
dos times estão impressos em inimagináveis artigos de consumo)... Eu ia
segurando a bandeira, numa das janelas e meus irmãos iam batendo tampas de panelas;
gritando... e o pai, conduzindo a velha rural e buzinando sua alegria, sua
satisfação e seu orgulho! Era um ritual. Era amor. Era celebração genuína! Uma
felicidade ímpar, que perdurava durante a semana; servindo de motivação para
todas as demais coisas da vida. O nosso era o melhor time! Tínhamos os melhores jogadores, o melhor técnico! Ah! E as
melhores jogadas, defesas! Paixão colorada!
Mas eu, uma colorada, casei com um
gremista! Um arrebatado e dos mais apaixonados gremistas! Destes que todo dia
fala do seu time e está sempre, inverno ou verão, com um símbolo gremista à
mão; numa camiseta, boné, casaco, cachecol... Um encontro amoroso que aconteceu na tenra infância (em Entre Rios, pertencente, na época, ao município de Nova Prata\RS); quando, menino, escutava os jogos, em pé, em cima de uma cadeira, ouvido grudado no rádio da família.
Numa viagem recente, vi a extensão
deste amor; que é fundo, incondicional. Por todo canto, com sol, chuva, névoa,
frio, vento... lá ia o cachecol no pescoço, a camiseta e o casaco no corpo...
lá ia o "Grêmio", atrás de um iceberg; percorrer uma trilha, conhecer um fiorde,
jantar num restaurante, visitar um museu, um parque... era um orgulho, para ele,
ostentar aquela cor, aquele símbolo... levá-los para bem adiante e para bem
alto, inclusive na montanha com neve e com risco... para todo mundo ver!
Impossível não admirar, surpreender com tamanho encantamento!
Impossível também dizer que meu coração
não acelera quando fico sabendo dos feitos, gols, subidas e descidas do meu
Inter, nas tabelas dos campeonatos. Mas isto não mobiliza mais do que um
sorriso interno, uma vontade de saltitar, liberar uma piadinha ou amargar uma
frustração de minutos. No fluir dos dias, outras coisas, outros amores, capturaram meu olhar, meu desejo, meu
sentir. Por isto, posso conviver com este adversário, sem problemas neste
aspecto!
De repente, no alto da montanha fiquei
pensando que seria bonito se também eu tivesse levado um cachecol do Inter e,
naquelas lonjuras, oportunizar um encontro de paz e parceria entre os times rivais,
na neve! Reflito e me dou conta, mais uma vez, que bonito, mesmo, é o amor! Como cada um é tocado
e se deixa tocar por ele e como expressa o que sente! E o que ele produz na
vida de cada um e até onde pode nos levar...Há tantos tipos, formas, jeitos de
amar, quanto possamos nos permitir sentir. Ah! Palavras seguem definindo,
explicando até um determinado ponto.... a partir dali, somente o horizonte, o
azul, a música e o silêncio preenchido podem seguir... e já é um outro jeito de
amar...!
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