quarta-feira, 29 de junho de 2016 | Filed in:
“Vamos ver a Florence, mãe”. Eu devia
conhecer a Florence? Acho que sim, pela intimidade com que meus filhos trataram do
assunto. Fiquei pensando nisto depois que despedi-me deles, que partiram para o
Rock in Rio, num sábado, há uns três
anos atrás...
Na
época, eu não sabia quem era a Florence. Agora eu sei. Semana passada eu a vi e ouvi cantando, então lembrei do episódio... De um jeito ou de outro, as coisas sempre
retornam, para um acerto, uma nova chance, um aprofundamento...
Devo
culpar-me por esta ignorância acerca de tantas
coisas que fazem parte do mundo dos meus filhos? Tenho ouvido dizer que
pais que “sabem tudo”, têm resposta para tudo, impedem os filhos viverem a
alegria da descoberta e, consequentemente, de se encantar pela vida e ser feliz...
Gosto
de observá-los sozinhos e também juntos. Adultos. Tão diferentes nas
habilidades e profissões e, ao mesmo tempo tão próximos no que se refere ao
lazer, arte, música, leituras, posicionamentos, jeito de encarar o mundo.
Observo suas conversas; o mundo é uma cidadezinha para eles; cujas pequenas
distâncias são vencidas com um aparelhinho de alta tecnologia, manuseado com um
toque de dedos e com o inglês. Tudo muito simples e prático. Para eles. Não
para mim. Muitas vezes me sinto uma mulher das cavernas e uma intrusa, querendo participar, opinar sobre
algo que não sei ou sei muito pouco. Mas eles são generosos. Olham para mim com
aquele olhar benevolente e com paciência vão explicando: “tá bom, mãe, isto é assim... Esta cantora, você não conhece, mas
ela... É fácil mexer neste aparelho, é só... Esta série que a gente está
assistindo trata”... Muitas e muitas coisas aprendo com eles. É tão bom! Sou grata.
Outras, não quero aprender, não tenho paciência, nem interesse. Mas gosto de
vê-los aprendendo e vivendo uma vida diferente da minha, cidadãos do mundo e
não só de um pequeno mundo, como o meu.
Esta
distância entre a mãe e os filhos, que avançam, é um vazio doido e doído.
Começa, como todos dizem (e é verdade!), quando eles saem do nosso ventre para
o mundo; quando aquela sensação de inteireza com o universo, plena, única,
produzida por esta simbiose com o ser
que cresce dentro da gente, é quebrada. E nunca mais volta. E eles nunca mais
voltam, de fato. Cada dia, vão um pouco para mais longe. E o silêncio, nos
ambientes da casa e nos nossos braços, gradativamente vai aumentando e vamos
nos partindo; pedaços que vão para lá e outros para mais além, junto com eles. Este
é o exercício cotidiano de mãe; tentar, inutilmente, juntar pedaços; que já são
outros inteiros por aí. E aceitar este movimento grandioso da vida. Belo. Por
isto tão difícil, como aliás, são todas as conquistas e produções bonitas, boas
e verdadeiras: difíceis.
Quando
eles chegam em casa, para um encontro, uma visita, um colo; tudo o que conta, é
que cabem exatamente no abraço da gente, junto com todas suas coisas, como
sempre couberam, desde bebês. A linguagem
do afeto não precisa de tradução, explicação. Este é um lugar de pra sempre. O nosso lugar e para onde sempre podemos voltar
e sermos NÓS novamente.
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