sábado, 9 de julho de 2016 | Filed in:
A caixa de colas coloridas é convidativa! Os olhinhos da menina,
minha netinha, brilham só em vê-la! Mexericar, então! Observo... Ah! Delícia
abrir todos os tubinhos! Apertar, ver e sentir a cola sair, grossinha,
pastosa... contornando desenhos, colorindo o papel... Deslizar por entre os
dedos, as mãos, é melhor ainda!!! Ah! Que ninguém veja! Que ninguém atrapalhe
prazer tão intenso!!!!
Foi o dindo, que vendo isto, deu a ideia:
- Que tal fazer misturinhas?
A pequena olhou para ele, curiosa. Um pouco desconfiada.
- Sim!!! É uma coisa bem legal de fazer e você ainda vai descobrir
uma porção de cores! – estimulou o dindo.
- Eu sei, dindo! Fiz na escola: misturei azul e amarelo; ficou
verde!!!! – ostentou, a guriazinha, sua sabedoria de 4 anos. E ainda sustentou
o olhar do dindo; como se dissesse: - não me subestime!
- Viu?! Então você já sabe misturar... Agora pode fazer outras
experiências e encontrar novas cores!!!! – considerou o dindo.
O desafio mexeu com a pequena! Como toda criança, logo se encantou
pela possibilidade de curiosar, descobrir coisas e já queria apertar todos os
tubinhos e misturar todas as cores de uma vez!!!! Ah! A impulsividade das
crianças... vivem o momento, inteiro! Tudo é agora! O agora é tudo!
E lá veio o adulto, o dindo, cortar prazer; orientar, ajudar a
organizar, colocar regras, lei. Mediação necessária. Assim como este espaço
construído e preservado: a possibilidade de investigar, mexericar e para estas
misturas e descobertas específicas. Como já sabe interagir com o material, com
cuidados, combinados, etc; a pequena se autoriza e trabalha com independência.
Quando o interesse acaba e os olhinhos já esticam para outra coisa, chama a vovó para ajudar na arrumação
e guardar os materiais e as “obras”... Estas? Vão acumulando no varal e na
escrivaninha da vovó...
Duas coisas sempre me tocam, nos momentos em que observo minha
neta; assim como meus alunos, neste fazer: a mediação e a mistura .
Mediar é uma certeza e uma
incógnita. É necessário, mas até que ponto... Percebo que a tendência nossa,
dos adultos, é ficar “dando
pitaco” o tempo todo. E com isto, a gente atrapalha o centramento e o interesse
da criança ou de “quem quer que seja”. Mais específica e rudemente: a gente
enche o saco das crianças com tanto falatório, observações, regras... A gente
fica “palpitando” e com isto, tira do foco... Muitas vezes as crianças ficam
dispersivas, alheias ou indiferentes porque não as deixamos sozinhas consigo
mesmas para conhecer, saborear, viver, refletir, ter e elaborar suas percepções;
entrar em contato com o silêncio, com a ausência de palavras; com sua
singularidade, suas preferências... Invadimos seu tempo, seu espaço! - Coisa
feia! Coisa egóica. Coisa desrespeitosa! – digo para mim mesma, quando me
flagro com este comportamento. E reflito! Desejo melhorar! Quero aprender a não passar do ponto. Nem com minha neta; nem com os alunos
e nem com ninguém.
Porém, interagir tem disto. Se a gente não interage, não corre o
risco: errar! Talvez seja mais fácil ficar de fora; não se envolver; poupar-se
de incômodos, demandas, preocupações, frustrações. Só que por vezes, isto é
sinônimo de omissão, ignorância, covardia, medo, insegurança. Para educar, é
necessário se envolver! E isto é sinônimo de troca, humildade, reflexão,
trabalho, dor, alegria, aprendizado, crescimento. Em cada encontro temos que
escolher.
E misturar me encanta! Maria
mistura tintas e encontra novas cores! Minha mãe, cunhadas e amigos, mestres na
arte, misturam ingredientes e surgem quitutes deliciosos! Uma de minhas amigas mistura tecidos coloridos e produz maravilhas! Poetas e compositores misturam palavras, notas, sons e
temos todas estas delicadezas escritas, tocadas e cantadas por aí, traduzindo
encantos e desencantos! Partilhar saberes, então... mistura boa, curativa! Um
outro ser, a vida... são exemplos de ricas misturas de tantos e tantas formas,
traços, cores, jeitos, trejeitos...
Certo que, como em tudo, temos aqui também os dois lados da moeda.
Preconceitos e intolerâncias e injustiças e desrespeito têm produzido muita dor
e destruição. Mas não é
disto que falo, agora. Eu falo, agora, destas misturas que estão sempre se
refazendo ou reinventando e que podemos aprimorar! Essencial a singularidade, a
especialidade, a generosidade de cada ingrediente, na mistura! Quando nos
diluímos na entrega, supõe-se que o melhor de nós esteja ali. É o que dá
qualidade, sabor inigualável, beleza e valor a este novo que surgiu!
Nosso mundo está coberto de belezas geradas assim, nesta mistura amorosa de individualidades, de afetos, conhecimento, intuição, alegrias, dor, espiritualidade, generosidade, idealismos. Maria, aprendendo isto, misturando cores e vendo surgir belezas e o novo, que o diga! Reflita. Viva e espalhe!
Nosso mundo está coberto de belezas geradas assim, nesta mistura amorosa de individualidades, de afetos, conhecimento, intuição, alegrias, dor, espiritualidade, generosidade, idealismos. Maria, aprendendo isto, misturando cores e vendo surgir belezas e o novo, que o diga! Reflita. Viva e espalhe!
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