segunda-feira, 29 de abril de 2019 | Filed in:
Olha
o
vaivém do
homem
do algodão doce...
-
Fon, fon!
No
domingo introspectivo,
geladinho
e choroso,
fugindo
da garoa fina
pisando
descuidado
nas
poças de água fria.
Lá
vai ele!
Lá
vem ele!
-
Fon, fon!
Apressando
o passo
para
alcançar
o
desejo do menino:
-
Quanto é moço?
-
Fon, fon!
Olhos
se alumiam
de
contentamento;
outros
olhinhos
piscam
sem parar,
de
puro encantamento
e
moedinhas tilintam
escapando
do bolso
de
um
pra’s
mãos do outro...
-
Péra aí, moço!
Tá faltando moedinha...
Mãe! Manhê!
-
Fon, fon!
Vem
de lá, moedinha!
Vai
pra lá, algodão,
empacotado
e docinho...
Troca
justa e nervosa,
de
pura emoção:
-
Quero o amarelinho!
-
Fon, fon!!!
Ah! Prazer tem nome,
cor,
textura e sabor!
Interessa
se é domingo,
se
é segunda?
Se
tem poça d’água na rua
movimento
ou
soneca geral?
Claro
que não!
Tem
sonhador na rua,
tem criança no quintal?
tem criança no quintal?
Tá
feito
o
encontro perfeito
que
adoça e
esperança um momento!
- Fon, fon!
sábado, 27 de abril de 2019 | Filed in:
- Hoje, vocês não escolherão os livros para o
rodízio!
- Por que não, professora?
As carinhas estavam surpresas e
decepcionadas...
- Ah! Hoje os livros escolherão vocês!!!!
Risos!
- Como professora? De que jeito se os livros
não falam!!!!
Muitos risos!!!
-
Ah! Queridos! Os livros têm o jeito deles para escolher... Para descobrir qual
é, vocês precisam olhar com muuuuita calma e muuuuito atentamente para eles... Depois
que forem escolhidos, venham até aqui, no computador, para que eu faça o
registro.
Após
um tempo de quietude, a fila formou-se, buliçosa. Cada um com um livro na mão.
-
Então queridos, como foi que os livros escolheram vocês?
Na
sua vez, cada um contou:
-
As folhas dançaram para mim, profe!
-
Ah! A capa, deste aqui, piscou para mim!!!!
-
Este aqui deu uma risadinha para mim, professora!
-
O meu fez assim, ó... ( e mostrou o livro chamando por ele com uma mãozinha
saída da capa)
- Profe, este livro pediu, lá dentro da minha
cabeça: - “me pega, me pega”!
-
O meu não disse e não fez nada, profe, mas eu senti que ele queria que eu o
pegasse!
-
Foi a cor deste daqui que me chamou, profe!!!!
-
Que legal, gente!!! Agora, podem ir! E cuidem bem dos livrinhos que escolheram vocês,
hoje, tá bom?!!!
E lá voltaram eles, à sala
de aula, com os livrinhos na mão, passo ligeiro, olhos brilhantes, conversa
solta.
sábado, 20 de abril de 2019 | Filed in:
A semana é santa
o frescor é de outono
as noites de lua cheia!
Cheia, como as manhãs:
de beleza ímpar!
Conjunção fabulosa
que refresca e acarinha,
traz lembranças;
ativa a memória dos sentidos
atualiza sensações lá da infância....
das ruas da nossa infância!
Amanheciam com esta curiosidade
latente e luminosa
dos verdes apaixonados
e dos azuis envolventes!
Manhãs sem pressa...
com uma única urgência: viver!
Quando esperar era bom!
Uma entrega
para o tempo de acontecer...
E na espera, forjava-se
paciência e sonho.
Atropelada pelo imediatismo
e banalidades,
a espera transformou-se
em irritação e angústia.
E muitos sonhos
não são mais sonhados.
Uns nos foram roubados,
outros marginalizados
e outros vagueiam por aí,
comprados, copiados
sugeridos ou impostos.
Ah! Dias lindos,
transparentes!
Noites claras,
deslumbrantes!
Nos arrebatem!
Inflamem de ternura
e compaixão
pela nossa espécie!
Pela ressurreição dos sonhos!
segunda-feira, 15 de abril de 2019 | Filed in:
Um
sonho maravilha
virou
realidade maravilhosa
e,
neste outono,
celebrou
os 7 anos
identificada
com a metáfora
da “Mulher maravilha”!
7
anos! Puro movimento,
corre
lá na frente
curiosa
de futuro e de horizontes!
Sonha
que pode,
que
é possível!
Feminino que continua
na
mistura de tantos ontens,
tantos
colos,
traços,
risos,
jeitos,
feitos, imperfeitos,
íntimos,
sonhos
e sinas!
Menina
maravilha!
A
vida não poupa,
desafia.
Todo
dia, espinhos a contornar.
Não
dá para ser menina
no
sossego, na paz.
Antes,
precisa ser
guerreira!
Guerreira para sustentar
delicadeza,
valor, talento
e
lugar. Manter respeito.
Precisa, acordar, sim,
Maria;
cedo e
das
profundezas,
tua "mulher maravilha"!
Vestir
a roupa
e
fortalecer!
Porque
o caminho é longo!
Com
retas, curvas e interditos;
dias
dourados e de chuva,
frio
e neblina
criação,
alegrias, descobertas!
É
bonito, querida! É, sim!
Vai! Haverá um abraço
um
ombro, um colo, uma palavra,
uma
mão ou uma lembrança
para
segurar, sim!
Feliz
7 anos,
"tonchinha"!
segunda-feira, 8 de abril de 2019 | Filed in:
Nos
vincos,
nas
manchas,
nas
falhas,
nas
faltas
e
nas cores,
histórias!
Ah!
Tantas...
Cada marca
suscitando
leituras
e
alternâncias:
entrega...
resistência...
Tocante!
Bela!
Sem
disfarces.
Singular.
Perfeita
na
magnífica incompletude...
Vida
vivida,
cumprida.
sábado, 6 de abril de 2019 | Filed in:
A luz do sol e dos verdes outonais
entrava, curiosa e melancólica, pelas janelas, nos espiando sem disfarce.
Preparávamos o almoço: Maria e eu. Era meu aniversário e ela mostrava-se
desejosa em agradar e também em aprender: era a primeira vez que tinha permissão
para usar a faca. Cortava pepinos. Eu acompanhava seus movimentos, admirada e
dividida entre o “ainda e o já”: ela “ainda tem seis anos” e o “já está com
quase sete anos!!!
De repente, o telefone tocou. Era a
bisa; minha mãe que ligava, lá do RS. A pequena atendeu, conversou um pouquinho
com a bisa e passou-me o telefone. Evidente que fiquei emocionada com a
conversa com a mãe, tão distante e, especialmente neste dia... Daí, o inusitado:
- Vovó! – a pequena colocou sua
mãozinha sobre a minha... aquele gesto típico que se faz quando queremos
consolar alguém; expressar solidariedade; quando olhos e toque falam: “estou
aqui, estamos juntos”.
- Vovó! –chamou novamente. Desta vez
com maior firmeza no tom e no tato. Solicitando que o meu olhar sustentasse
o seu.
- Vovó! Pode chorar, querida! Pode
chorar! Pode ficar triste! Não tem problema! Quando a minha mãe foi para o
Peru, eu também fiquei triste e chorei de saudade! Sei bem como é isto... Pode
chorar! Depois vai passar! – falou; doce, olhinhos brilhantes, acolhedores e
carregados de sabedoria infantil. Acrescentou um abraço, um beijo e voltou para
o trabalho.
E eu, claro, chorei.
Porque há um momento em que tudo
trava, engasga, fica branco, some, paralisa... e só as lágrimas têm trânsito
livre, razão e sentido. Sentir-se amado e acolhido é mergulhar num vazio
preenchido de significantes, onde a gratidão curativa tudo e agiganta o sentido
de viver.
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