sábado, 6 de abril de 2019 | Filed in:
A luz do sol e dos verdes outonais
entrava, curiosa e melancólica, pelas janelas, nos espiando sem disfarce.
Preparávamos o almoço: Maria e eu. Era meu aniversário e ela mostrava-se
desejosa em agradar e também em aprender: era a primeira vez que tinha permissão
para usar a faca. Cortava pepinos. Eu acompanhava seus movimentos, admirada e
dividida entre o “ainda e o já”: ela “ainda tem seis anos” e o “já está com
quase sete anos!!!
De repente, o telefone tocou. Era a
bisa; minha mãe que ligava, lá do RS. A pequena atendeu, conversou um pouquinho
com a bisa e passou-me o telefone. Evidente que fiquei emocionada com a
conversa com a mãe, tão distante e, especialmente neste dia... Daí, o inusitado:
- Vovó! – a pequena colocou sua
mãozinha sobre a minha... aquele gesto típico que se faz quando queremos
consolar alguém; expressar solidariedade; quando olhos e toque falam: “estou
aqui, estamos juntos”.
- Vovó! –chamou novamente. Desta vez
com maior firmeza no tom e no tato. Solicitando que o meu olhar sustentasse
o seu.
- Vovó! Pode chorar, querida! Pode
chorar! Pode ficar triste! Não tem problema! Quando a minha mãe foi para o
Peru, eu também fiquei triste e chorei de saudade! Sei bem como é isto... Pode
chorar! Depois vai passar! – falou; doce, olhinhos brilhantes, acolhedores e
carregados de sabedoria infantil. Acrescentou um abraço, um beijo e voltou para
o trabalho.
E eu, claro, chorei.
Porque há um momento em que tudo
trava, engasga, fica branco, some, paralisa... e só as lágrimas têm trânsito
livre, razão e sentido. Sentir-se amado e acolhido é mergulhar num vazio
preenchido de significantes, onde a gratidão curativa tudo e agiganta o sentido
de viver.
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