domingo, 9 de junho de 2019 | Filed in:
Toda vez que vejo uma
roda, lembro do quanto gosto de estar, entrar numa roda; do quanto amo a RODA!
Organizar uma RODA! Roda para conversar, roda para escutar, roda para rezar,
roda para brincar, jogar; roda para
dançar, roda para estudar, velar, celebrar... roda para esperar... Um dia destes,
escrevendo a palavra, percebi, surpresa, que RODA, ao contrário, é A DOR. Tive
que rir de mim mesma com esta descoberta tão evidente e tardia!!! Bah! Mas achei
o máximo! Considerando minhas percepções, realmente faz sentido: para mim, estar
fora de uma roda é uma dor!
Na roda, estamos ao lado. De outro modo estamos
atrás ou na frente. Círculos são aconchegantes, deslizam. As retas, espetam.
Minha primeira lembrança de roda
é antiga! Está lá na infância, ao redor do fogão à lenha, no inverno, esquentando
as mãos, ouvindo o “chio” da chaleira e esperando com ansiedade e alegria, as
fatias de polenta e queijo; batata doce ou pinhão serem sapecados na chapa...
Cresci participando e observando as rodas de chimarrão da mãe e das tias, na
casa da nona, partilhando a vida simples e ouvindo os “causos” contados pelo
nono... E a vida seguiu assim, de roda em roda, atualizando ou festejando o
cotidiano com amigos e familiares nas rodas de conversa, geral ou inevitavelmente
regadas a chimarrão.
Neste percurso, fui descobrindo,
encontrando e me identificando com outras rodas: as ancestrais (sempre me
encantou imaginar os povos primitivos ao redor das fogueiras); as indígenas, as
de dança, as de trabalho, as de cura, as de estudo, as de brincadeiras, as de contação
de histórias e as literárias! Professora, nunca gostei das carteiras em filas, em sala de
aula. Sempre que possível, organizei a roda. Se não era possível, por causa do espaço,
ao menos uma “meia lua”. Em fila, sentia-me distante dos alunos,
desconfortável.
Do meu ponto de vista, numa roda, todos podem
ser vistos, ter vez, voz ... As escutas e leituras que acontecem ali, não são
só de palavras, acontecimentos, mas de semblantes... muitas vezes isto é o que
de fato importa: o semblante que fala da
realidade que está dentro e que está fora. Numa roda, nos damos a conhecer. Fica
mais fácil olhar no olho, segurar a mão, dar um abraço! Amparar, perdoar, se
desculpar, se expor. Na roda, ninguém é chefe, mesmo que haja um; na verdade, um
mediador, um mais velho ou mais experiente que os outros, só. A roda suscita
ideias e estimula fraternidade, bons sentimentos, desejo de acrescentar, pensar
coletivo. Favorece a renúncia quando a ideia do outro é melhor.
Tem gente que não gosta de
roda. Tem. Tem gente que tem medo desta proximidade, desta igualdade, deste
toque inevitável que ela favorece. Eu amo! E, graças! Não estou só, neste
apaixonamento! Acredito, como tantos: encontramos saídas para os nossos problemas pessoais e coletivos quando sentamos
nossas semelhanças e diferenças, numa RODA! Ali, elas têm oportunidade de
trocar, aprender e conviver.
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