sexta-feira, 31 de janeiro de 2020 | Filed in:
O
livro tem três capítulos. O primeiro e o segundo falam da “Vida social das
coisas: roupa, memória, dor” e sobre “O casaco de Marx”. Neles, o autor nos faz pensar sobre nossa relação com
as roupas e com as coisas em geral. Através das idas e vindas do casaco de
Marx, oportuniza uma reflexão sobre as complexas relações entre as coisas como
objetos de uso, como objetos aos quais imprimimos nossas marcas, como objetos
que carregam nossa memória e como mercadorias. Peter Stallybrass, que sempre teve um
interesse em escrever sobre roupas, faz um passeio pela história, relacionando neste sentido, outras épocas e escritores com o que acontecia na época de Marx; quando
havia uma relação estreita entre as roupas e as Casas de Penhores: “As
roupas, na verdade, e não os utensílios de cozinha eram as coisas mais
frequentemente penhoradas” (pg 61). E que o padrão costumeiro no comércio
de penhores, na época era este: “os salários recebidos na sexta ou no sábado
eram usados para resgatar as melhores roupas da casa de penhores. As roupas eram
vestidas no domingo e então penhoradas, outra vez, na segunda-feira... e o
ciclo era rápido: a maioria dos itens era penhorada e depois resgatada, semanal
ou mensalmente. A própria taxa de penhora e resgate era um indicador de riqueza
e pobreza” (pg 62)
O
terceiro capítulo, “O mistério do caminhar”, cativou-me particularmente, porque
a mim encanta o olhar e a reflexão sobre aquilo que geralmente passa
desapercebido; por vezes, invisível aos
olhos que não se detém. Aprecio as minúcias, pequenas coisas, detalhes,
sutilezas. Nele, o autor, com maestria e poesia, traz observações, detalhes,
lembranças, trechos literários de outros autores que nos “obriga a ver a singularidade do
caminhar” (pg 81). Reflete que “...quando se caminha com relativa comodidade é fácil
achar isto natural. Esquecemos que se trata de um feito extraordinário, um feito
que podemos perder a qualquer momento – por causa de algum ferimento, de uma
artrite, de um acidente vascular.” (pg 82). Muito bom! Vale conferir! O
livro todo um “texto poético e comovente”!
Exatamente
a dor e não a estética, tem feito com que eu sinta, perceba e me ocupe mais com
meus pés e com o meu caminhar. Tenho valorado muito as caminhadas, as
distâncias e principalmente as trilhas (adoro!) que percorri e não sei se
voltarei a percorrer. Eu subia as escadas, que me conduzem pela minha casa,
correndo, pulando e, agora, preciso subir devagar e até, em alguns momentos mais
agudos de dor, do apoio de um corrimão; contrariando meu impulso, meu hábito e
minha cabeça recheada de memórias saltitantes, de leveza e agilidade. Agora,
acarinho meus pés, minhas pernas com doçura, gratidão e maior consciência! Com
um respeito ainda maior aos que têm esta limitação mas que não se deixam
limitar por isto. Desejo continuar a desfrutar deste direito e desta liberdade de
“ir e vir”, que tanto era venerado pelo meu pai, o Ximitão e que ficou como seu
maior legado. Ir e vir no movimento, no
sentimento, no pensamento, no aprendizado e nas atitudes; reconhecendo, nisto:
valor e conquista, não só minha, mas dos que me antecederam. E é o que pretendo,
também, deixar como herança para os meus.
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