Um dia, estendendo roupa na lavanderia, escutei uns ruídos que vinham lá de baixo, do outro lado da cerca, de dentro do mato cheio de palmitos do vizinho. Olhei bem e vi uma gata se retorcendo e, um pouco mais longe, três gatinhos, pequenininhos! Chamei todo mundo, descemos e nos ocupamos dos pequeninos e quando fomos atrás da mãe, ela havia se jogado num riachinho e estava morta. Achamos que ela fora envenenada... Assim foi que o “sr Bóris Garcia, a srta Chanson Bege e srta Roxo Charruel” entraram para a nossa família. Não tínhamos experiência e fomos, aos poucos, aprendendo a cuidar deles; curtindo imensamente acompanhar seu crescimento. Quando ficou jovem, o Sr Bóris Garcia saiu para namorar. Era lindo, charmoso, altivo! Acho que fez o maior sucesso entre as gatas da vizinhança! Voltava para casa sempre de manhãzinha, faceiro e sonolento. Uma manhã não voltou e o encontramos morto, no asfalto em frente de casa. Chanson e Roxo ficaram por alguns dias bastante ariscas, inquietas. Roxo era mais selvagem, magra e um pouco desengonçada; evitava os chamegos. Chanson era meiga, dócil, adorava carinhos; era parecida com o Sr Bóris e tornou-se uma bela gata. Foi a primeira a namorar e ficar “grávida”. Viajamos e quando voltamos, percebemos que tinha dado à luz, mas não havia sinal de gatinho nenhum. O que aconteceu ainda hoje é um mistério... Ficou “prenhe” novamente e desta vez, encontramos apenas um gatinho, que parecia mal formado. Meu filho cuidou dele durante um mês inteirinho, com esmero, mas o pequenino não sobreviveu. Então, Roxo desabrochou, ficou "grávida" e a maternidade lhe acrescentou beleza e certa doçura. Nasceram cinco filhotes, lindos! Pudemos observar com enlevo cotidiano os cuidados dela para com eles; como amamentava com paciência e como os levava para passear, chamando-os para conhecer e desbravar caminhos; subir nos troncos das árvores.. e como ficava aflita quando um desaparecia de suas vistas, chamando-o veementemente! E como lambia a cada um com extremado capricho e afeto... Tivemos, com dor, que doar quatro e ficamos apenas com o Preto. Roxo “miou” muitos dias e noites, chamando por eles e isto foi desolador. Para evitar a repetição desta história, resolvemos castrar as duas gatas, que depois disto, ficaram mais caseiras e bonitas. Um dia, alguém abandonou um filhote cinza em frente de casa e ele entrou; nos apaixonamos por ele e o adotamos: nós, Chanson, Roxo e o Preto. E o chamamos de Sigfried, Sig. Temos aprendido tanto com eles, observando-os! A inclusão do Sig, na família gatíssima foi perfeita! Ele foi até amamentado e isto foi incrível, porque as gatas estavam castradas. Os quatro se amam e passam o dia cuidando um do outro, partilhando espaço; brincando, se exercitando, rolando pela grama, correndo atrás das borboletas, dos sapinhos e lagartixas. E comem e dormem e nos observam também. E se embelezam, evoluem, com certeza; pois o afeto que eles expressam é fora do comum, nos emociona e inspira! As patas dianteiras são como braços carinhosos com os quais eles se abraçam, se confortam e se ajudam; sem reservas, senões e porquês, numa entrega, um pro outro, incondicional. Quando querem ficar sozinhos, se afastam e se exercitam na liberdade de escolha. Na noite de Natal, ficaram surpresos com a movimentação diferente na casa, especialmente com a luzes; acompanhando tudo com atenção, nos interrogando com o olhar; mas discretos, mantendo-se no seu campo de ação. Sempre ouvi dizer que os gatos são traiçoeiros, arrogantes. Isto não se aplica, de jeito nenhum, aos nossos gatíssimos, que são, muito “gente fina” e então preciso concordar com um amigo querido que sempre fala que por vezes, os animais são melhores parceiros do que muitos “humanos”.