sábado, 13 de fevereiro de 2010 | Filed in:
João tem sempre atualizado os registros da nossa infância, o cotidiano na casa, as lidanças com o pai e a mãe e as diferenças extremadas entre os dois; nossas ”viagens” de férias, no fusca, para o litoral; as diferenças na nossa criação e no trato: os guris de um jeito e eu, de outro... De algumas coisas eu também lembro, mas de outras fui esquecendo, apesar de ser a mais velha. Estar com ele sempre me faz olhar para trás, quando posso, então, perceber com maior clareza as marcas e os significantes que ficaram e que foram decisivos para ser do jeito que sou e eles, do jeito que são, os meus irmãos. Neste verão, nosso curto mas intenso encontro recordou cenas e fatos do nosso núcleo familiar saindo em busca de maior inclusão social; de como fomos nos atrevendo a dar passos mais largos e longe do nosso ninho, num esforço grande no exercício da organização para economizar durante o ano para a viagem de férias e para construir valores de ambicionar, de querer e desejar coisas que até então eram consideradas como privilégio de poucos, dos outros. Agora, depois de tantos anos passados e dos rumos diferenciados que cada um de nós tomou, avançou e cresceu, podemos olhar e rir com saudade de fatos pitorescos, do tipo: nós seis, dentro de um fusca, acomodados entre latas de bolachas feitas em casa e uma panela de ferro (para as “bóias” que o pai adorava fazer); com um bagageiro, em cima do carro, que de acordo com o João era uma “casa” coberta de lona, que chamava a atenção de todos... chegando numa praia famosa, depois de um dia e pouco de viagem e descarregando todo aquele arsenal, em frente aos olhares curiosos de vizinhos nas casas e prédios ao redor. Eu não me lembro como me sentia diante disto; mas o João disse que ficava envergonhado por ter que descarregar as latas de bolacha e a panela de ferro diante do olhar dos rapazes e moças “da cidade”, que segundo a lembrança dele, riam de nós! Mas isto era só no primeiro momento, na chegada e logo esquecido, porque eles, os guris, se articulavam entre si ou com um e outro desconhecido, que logo se transformava em parceiro para jogar, andar, se aventurar, se divertir! Assim fomos descobrindo outros mundos fora do nosso pequeno mundo; cada um de acordo com seu olhar e apreensão singular das experiências; gostando destas descobertas e construindo desejo por tantas coisas que, talvez, se os fatos tivessem ocorrido diferentemente, não acontecesse. De alguma forma, que valoro muito hoje, nossos pais foram, naquele tempo, arrojados e “saindo”, possibilitaram a nós, no mínimo, a percepção e abertura para encontrar novas saídas, novos sonhos, novos mundos. Aprendemos também fazer graça, rir e dar valor às pequenas coisas; a perseverar, esperar ou a nos contentar com o pouco, com o possível, mesmo quando o desejo é pelo muito.
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