sábado, 27 de fevereiro de 2010 | Filed in:
O passo era certo, todos os dias, no sol ou na chuva. Ia sempre pelo mesmo trajeto, não arriscava caminhos desconhecidos, calçadas novas, parques coloridos, avenidas com jardins atraentes. Tinha um olhar apertadinho, penetrante, que capturava tudo ao seu redor. Mas o tudo era sob a sua ótica, sempre 8 ou 80. Não havia meio termo. Nem para ele, nem para os outros. Ou era uma santa ou era uma vagabunda. Ou gorda ou magra. Ou um bom homem ou um ladrão. Ou esperto ou “tabacudo”. Ou tomava todas ou não tomava nenhuma. Ou gostava muito e para sempre ou logo lhe “saíam das caixas”... Não perdoava um deslize, um erro, um gesto mal interpretado; cultivava os desafetos e as mágoas com precioso cuidado e deleite. Não maquinava vinganças, mas mantinha bem atualizados os rancores; expondo-os como troféus. Assim com o mundo, assim consigo próprio. Nunca uma surpresa. Nunca uma possibilidade do novo ou da mudança. Meticuloso. Controlado. Contido. E tinha o passo sempre certo. E apontava como ninguém, o passo errado, descompassado dos outros; lá do alto da sua superioridade. Um dia descobriu-se que era apenas um garoto assustado, com medo do mundo. Mas ninguém teve coragem de contar a ele.
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