A chuva despeja
sem perguntar
o seu choro
seu lamento
seu conteúdo.
De onde vem
para onde vai
que importância tem?
Como tantas coisas
Impostas e expostas.
Um trovão, ao longe
um lamento,
um resmungo,
uma queixa....
tanto barulho,
tanto barulho
reclamação...
mais alguém
jogando fora
o que não suporta mais.
Um relâmpago
assusta
é um risco de fogo
cortando o céu.
Machuca
faz sangrar
onde coloca luz
mexe nas fragilidades,
cortante.
Palavras cortam
ausências cortam
indiferença corta.
Faz sangrar.
Verter. Inundar.
Lágrima. Chuva.
Água derramada
despejada
abundante
regando
fertilizando
uma surpresa.
Como tesouros
nas extremidades
do mais belo arco-íris
assim alguns sonhos
perturbadores
fortes, grandes
brilhantes
teimam fugir
do imaginário.
Sabe-se que é feliz
muito feliz
extremamente feliz
bem ali!
Estranhamente
ali, naquele
raro momento
quando depois de um
tempo aleatório, longo
ele se faz presente
e mesmo distante
está perto,
toca sua alma e
enche o coração dela
de alegria com seu
sorriso
carinho
energia!
Essa alegria ímpar
se multiplica dentro dela
e logo se reparte
em infinidades de coisas
que cria e faz
com muito amor
porque ele é
há muito e muito
e muito tempo seu
“muso” inspirador.
Sol promissor
vento geladinho
passarada elétrica
preocupações
prazos
decisões
saudade.
Por um tempo longo
companheiras,
aliadas, cúmplices.
Nas mãos,
nos olhos,
nos gestos
e nas palavras.
Eu gostava tanto
das reticências!
Podia escolher a
felicidade que quisesse
elas abriam possibilidades
espichavam esperanças
alardeavam sonhos
propagavam ideais.
Não as alcancei mais
tão longe foram,
para além do possível.
E eu me perdi delas.
Agora eu encontro e
me forço aos
pontos finais.
Me arrisco a uma e
outra interrogação.
Mas queria mesmo
de fato e de verdade,
agora, um tempo para
me deliciar com
as exclamações!
sem medir.
É perfeita!
Por isto
tão cantada:
céu e mar
mar e sol
sol e alegria
alegria e flor
flor e amor
amor e ninho
ninho e cumplicidade
cumplicidade e só.
Fica numa relva verdinha, circundada por vegetação tranqüila e viçosa. E muitos pássaros ficam por ali, cantando gratuitamente, sem ter mais o que fazer na vida! O poço atrai e, mesmo antes de chegar nele, já se vai acalmando, relaxando. Aquele que tem sede olha confiante para o poço, depositando ali, suas esperanças. Acredita que a água virá, matando sua sede, seu penar, sua saudade. Acredita com toda sua alma! Pode sentir a água preciosa refrescando seu corpo; sentindo um prazer antecipado. Chega perto do poço e a alegria aumenta desmedidamente, o coração acelera. Vê o balde o joga para baixo, ansiosamente. A roldana desce, desce... o poço é muito fundo; parece não ter fim... assim é a espera: sem fim. Começa a puxar o balde e quando ele chega à borda... vazio. Não há nada. O poço está ali, mas o seu conteúdo é aquilo que não é. Ainda. E é esta esperança que mantém a espera. A espera é o poço. Sempre ali. Acolhedor, encantador e seco. Ainda. E por isto, a espera se renova e renova e renova...
Vem com a idade,
será verdade?
Que é ser maduro?
É ser puro
duro ou
seguro?
Ser seguro é
estar
pronto
acabado
sério
aquietado?
Sem sonhos
conformado,
insípido
domesticado?
Ou falar tudo
que pensa
que sente
que deseja?
Ir atrás
ser irreverente
destemido
egoísta?
Ou desistir
ceder e
agüentar?
Inconseqüente?
Original?
Criativo?
Singular?
Maturidade
tem a ver com
liberdade?
Cada um
no seu momento
com sua verdade?
De repente
como nunca,
fica evidente,
com a luz
do dia mais luminoso
e da verdade
mais dura:
a proximidade
e a distância
irremediável
entre
o céu e o mar
o sentimento e
a inspiração.