domingo, 11 de agosto de 2013 | Filed in:
Eu
vi a neve uma única vez e com meus olhos de criança. E era aniversário do meu pai! Estava na primeira série.
Era meu primeiro ano na escola, no Ruizinho. A escola e a neve chegaram no
mesmo ano e aquele foi, sem dúvida, o ano mais significativo da minha vida, por
causa da descoberta da leitura e da escrita. De repente, o dia amanheceu
branquinho e não era novidade somente para as crianças. Era também para a
maioria dos adultos. Que fenômeno!
Provocou uma mudança nos hábitos, alterou a rotina daquele dia. Mas eu
fui à escola! Não sei o que motivou meus pais me levarem para a escola, neste
dia! Na verdade, eles e mais duas famílias: estávamos três alunos e a
professora, em sala de aula, naquela manhã. Nem a professora sabia muito bem o
que fazer, parece. Ela estava diferente. Eu lembro que a rotina também foi
diferente. Nós não conseguíamos sair das janelas, que eram muito altas.
“Entroxados” de roupas de inverno, subimos nas classes encostadas (acho que
pela professora) na parede e grudamos nossos rostos no vidro, espiando (com olhos
que não abriam mais por falta de espaço) o “lá fora”, a neve! Ela cobrira todo
o gramado e as grossas árvores. Nada do verde! Onde fora? Era lindo e era
assustador... a falta de cor! Não lembro de sentir frio. Ao contrário. Lembro
deste dia como algo cheio de quenturas e coisas aconchegantes, mágicas! Talvez
porque oportunizou uma aproximação maior com a professora, que nos deu uma
atenção extra, especial! Por um dia, éramos os únicos, especiais para ela. E isto era
muito bom! Estávamos ali, os quatro, próximos como náufragos; ilhados naquela
imensa sala de aula, cercados por todo aquele extraordinário milagre branco! Doce
momento de intimidade que poderíamos ou deveríamos estar partilhando com os
familiares, mas não, estávamos ali... por quê? A professora, com certeza, por
dever ou por não se permitir faltar. E eu e meus dois colegas? Aparentemente,
devido ao grande senso de responsabilidade de nossos pais. No decorrer da vida
profissional, anos mais tarde, encontrei muita dificuldade em me permitir
faltar ao trabalho e, quando faltei, por motivo de absoluta falta de condição
física, a culpa assombrou. O que o inconsciente registrou naquele dia em que eu vi a neve, neste sentido?... Muito clara é a
recordação dos rostos grudados à janela, cujo vidro embaçava a todo instante,
com a nossa respiração. Então aproveitávamos para desenhar, fazer rabiscos (era
muito divertido!) até que o vapor sumia e a neve surgia aos nossos olhos, outra
vez, desconhecida e sedutora, lá fora! A professora, num ímpeto de alegria e ousadia, decidiu nos levar ao pátio. Deus! Que era
isto de pisar numa grama verde transformada em gelo?! De repente, parecia que
éramos personagens saídos dos livros de histórias que aprendíamos amar! E brincamos, fazendo
bolinhas de neve, jogando-as para lá e para cá... fizemos até um boneco de
neve! Assim como víamos nos livros de histórias! Um dia mágico, este em que “caiu”
neve, em Ijuí. Mágico! Acho que porque eu o vivi, em parte, na escola; que
sempre foi um lugar de coisas boas para mim. Um lugar onde encontrei os livros,
as histórias, os contos de fada, as letras e as palavras e, a professora
acolhedora. A sensação que eu tenho, ao lembrar, é de que ali comecei a viver:
quando comecei a escrever a minha história e ler a vida ao meu redor. Na
escola.
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1 comentários:
Aiiii chorei! Que lindo Maisa, amo teus escritos e por consequencia... te amo também! rs rs
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