Sem pressa


Desceram, falantes e faceiros, a rampa. Cada um levando sua cadeira e em “fila indiana”, por minha solicitação; como prevenção aos descuidos, esbarrões e implicâncias de percurso entre os mais afoitos e impulsivos. Nos instalamos, então, no quintal, em cima do palco, “nascido ao pé do morro”, beirando e tocando, suavemente, a floresta vizinha. A tarde estava luminosa, verde e azul por todos os lados.  Num círculo, nos pusemos a atualizar o passeio a Curitiba, mais especificamente ao MON (realizado na quarta). Demanda  uma entrega sincera o ouvir as observações de cada um. Não dá para ter pressa. Esta, aliás, foi a única coisa que a turma nomeou como algo negativo, na visita ao museu: a pressa da guia. “Não dava pra gente  aproveitar, era tudo muito rápido!”. Foi o que eu achei também, embora entendesse a pressa da guia. Mas eles estão acostumados a olhar de fato, curtir, aprofundar, interagir. E isto era o que estava acontecendo, ali, naquela “sala de aula” imensa e cheia de encantos que é o quintal da escola. Expressaram interesse em saber mais sobre Oscar Niemayer e suas obras. Lembraram com precisão as informações da guia sobre as obras de Escher e partilharam suas próprias impressões; minúcias, sutilezas, sensações. Quanto mais palavras, mais palavras! Um sem fim de palavras invadindo a palavra do outro, porque uma coisa puxava a outra, a lembrança da outra e ficava difícil esperar a vez! Mas, enfim, depois do conhecimento socializado no grupo, fomos à prática. Escritores de si mesmos, os alunos andaram pelo quintal, observando, buscando inspiração no universo  privilegiado de natureza... De volta à sala de aula formal, a expressão escrita: um tal de transformar pensamentos e sentimentos em desenhos, prosa ou poesia! Traços lindos! Objetivos ou subjetivos, coloridos ou sem cor alguma; com muitos ou poucos detalhes; ocupando lugar e espaço, com confiança. Prosas ou poesias gestadas entre sussurros, sorrisos, “gracinhas” e silêncios; “olhadelas” para o desenho e para além das janelas de vidro, confirmando algum traço, alguma ideia, emoção não traduzida. A leitura destes trabalhos sempre é um momento de delicadeza intensa e de grande comoção. Por vezes, preciso sair da sala, respirar, tomar água, rir, chorar ou partilhar com algum colega. É quando renovo os votos deste casamento com meu trabalho. Quando repito a mim mesma: é por isto que estou aqui há mais de trinta anos. É por isto que o amor não morreu; renovou e me renova! A poesia de um deles, hoje, falou assim, num momento do seu curso: “quando eu descobri o amor \ é como se  uma flor \ abrisse dentro de mim \ eu fiquei  mais feliz”... Ah! Tão bonito! E dito por quem foi dito, aumenta seu valor e o meu encanto! E se não fosse, eu diria: o quintal é mágico!

 

1 comentários:

Elis Teixeira disse...

É mágico porque é regado a energias boas, bons fazeres, bem querer. Há muito, muito tempo num momento bem ruim uma amiga me disse: "O BEM sempre vence". Eu acreditei e acredito nisto desde sempre. O Quintal é mágico porque sua magia está no "bem" que as pessoas dispensam a ele, no olhar amoroso, no desejo de que tudo de certo. Beijos de saudades Maisa, lindissimo texto!


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2025, 16o aniversário do Blog! Pulei 2024, ano dos 15 anos. Aconteceu sem intenção. Retomo, agora, este espaço e esta escrita e me preparo para metaforizar silêncios e ausências. É o que eu gosto.

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