terça-feira, 29 de julho de 2014 | Filed in:
- “Meu filho concluiu o curso Jornalismo, a formatura será daqui a alguns dias... ele acabou de escrever um livro”... Atualizávamos a vida, num reencontro depois de uns dez anos, eu e uma de minhas primas, a Mara, filha da tia Pina, quando ela partilhou isto. Eu fiquei imediatamente mais atenta e curiosa. Este é mesmo um assunto que me interessa. Alguém mais na família que gosta de escrever. No lado paterno, Regina, Leandro e o tio Gilberto; já publicaram. No lado materno, o Gilberto (“Cotoco”), filho da tia Elvira, compõe poesias nativistas\gauchescas, entoadas em festivais por cantores do estilo; já premiadas! E, agora, encontro o Fernando, que eu não conhecia; a Mara nos apresentou e eu comprei o seu livro: “A cidade do Crime”. Ainda não li. Fico imaginando de que cidade, de que crime ou crimes e de que personagens ele trata... gosto deste exercício: testar minha intuição, minhas habilidades de “prever, adivinhar”, antes de ler um livro!
Eu me sinto constantemente mexida, desafiada a pensar, meditar e escrever sobre estas questões genéticas e estes encontros de gostos e semelhanças entre familiares, que muitas vezes, nem se conhecem. O regresso, neste momento, a Ijuí, foi especial, possibilitou estes toques afetuosos; estas vivências inusitadas e estou feliz! Com a mala transbordante; levando pra casa, muito mais do que trouxe.
segunda-feira, 28 de julho de 2014 | Filed in:
“O amor é eterno”, disse o pastor, durante uma
cerimônia onde seis casais reuniram-se para comemorar os trinta anos de
casamento, Bodas de Pérola. Estes casais, entre eles, um primo querido, convidaram parentes, amigos e comunidade para celebrar junto. O presente, se alguém
quisesse levar, era alimento não perecível para ser doado a algumas
instituições da comunidade.
Foi lindo ver os casais entrando na igreja,
seguidos dos filhos e alguns, dos netos. Lindo vê-los entoando cânticos
louvando seu amor! Lindo vê-los partilhando uma festa, quando tantos querem os
brilhos e honras só para si. Lindo ver esta permanência e perseverança de
alguns, num tempo de tantos descartáveis. Que não é fácil, a gente sabe que não
é. Não é mesmo! Mas não impossível.
Bonito também foi o reencontro com primos, tios,
parentes; que há tempo, muito tempo, não via. Pessoas com as quais convivi na
época dourada e longínqua da infância, adolescência e juventude, queridos demais... E reencontrei também
com velhos rostos e queridos rostos, que me reconheceram, para minha alegria:
colegas de escola, do ginásio, lá do Ruizão; uma colega professora, dedicada e
querida, do Ijuizinho; a irmã da minha costureira;
cuja última confecção para mim, foi meu vestido de noiva...
O pastor tinha razão quando sintetizou o porquê de
estarmos todos ali, com uma frase bíblica: “O amor é eterno”. Bastou encontrar
com todos estes queridos, guardados do passado; para perceber que o afeto estava
ali, vivo, apesar de tudo; das diferenças e das distâncias.
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Ao redor do leito da irmã mais velha,
Olga, Elvira e Ottilia se revezam em conversas em voz baixa; agradinhos a
Josephina, a Pina; que olha para elas com seus olhos profundamente azuis,
marejados; faces rosadas do frio; boca murcha. Imóvel e aparentemente num mundo
a parte, ela murmura coisas, sons desconexos, que uma e outra interpreta,
adivinha. Um encontro de lamentos; um pacto de solidariedade entre as quatro. A
quinta, Nair, está ausente, neste momento; mora numa cidade vizinha.
Cinco mulheres solitárias, todas viúvas, menos a
Ottilia; de repente, a mais desconfortável, pois que solitária de marido
presente, vivo. Encurvadinhas, todas elas, cultivando e nomeando suas
dores, entremeando as conversas com suspiros e risinhos, sempre que algo
bom, lembrança bonita, vem à tona. No rosto, traços de suave beleza consumida
pelos anos, pelas faltas, privações e desilusões. Nas mãos, os traços do
trabalho duro; muito bem descrito, ali e, de fácil interpretação. – “Ah! A
vida foi dura, mas voltaria a viver tudo novamente”! – é uma frase repetida
por todas (será que combinaram?), em momentos distintos. E o passado volta,
evocado por uma e acolhido por outra: - “o papai era muito amoroso”... “era
bravo, mas amoroso”... “a mamãe era mais dura”...
A Olga “sempre foi a mais brava", casou mais tarde e a vida lhe presenteou com uma
filha. A Pina “era muito bonita, loira”; a mais velha... casou com o
Donato, "bonitão", “boa pinta”, sempre bem arrumado, sapato
branco, bem lustrado! Teve quatro filhos. Elvira, de riso fácil, doce, a mais
alegre, divertida; encontrando graça em tudo... teve três filhos homens e
perdeu, além do marido, um destes filhos, já adulto e “nunca mais foi a
mesma”... Nair, casou por último e foi morar na cidade vizinha. Teve quatro
filhos e também perdeu um deles, uma menina, ainda pequena. Um caso doloroso e
que ninguém esquece, nem eu. Sempre que alguma criança cai e bate a cabeça,
fico apavorada, pensando que pode acontecer a mesma coisa. De onde uma mãe tira
coragem para prosseguir em frente, depois que perde um filho? Ottilia,
pensativa, observadora, ligeirinha e vaidosa, a caçula, teve quatro filhos e um
deles, sou eu, a primogênita e única garota.
Sempre gostei muito destas minhas tias. Sempre
admirei a cumplicidade delas e sonhei muito em ter uma irmã para dividir a
vida, como elas. Mas não tive. A tia mais próxima de nós, foi a Olga. A que
mais "perambulou pelo mundo", morando em várias cidades e estados;
até, finalmente, retornar ao lugar de origem. Ajudou minha mãe nos cuidar e
“criar”, quando éramos pequenos e o laço de afeto, com ela, sempre foi mais
forte. Na infância, a casa dela era o lugar onde gostávamos de ir e esperávamos
para passar as férias. Era bom demais! Eu gostava de ir com minha mãe na casa
de uma e de outra tia, semanalmente, para o “mate”. Enquanto o mate girava,
junto com as bolachas, cucas, bolos e calça virada, a vida era atualizada. E
elas riam muito e também se queixavam de coisas que não lembro. Eu lembro apenas
da sintonia, do calor e de como era bom ficar ali, entre elas, ouvindo o que
não entendia, mas que intuía ser do universo feminino... todas muito
trabalhadeiras, caprichosas e peritas na arte da limpeza, do passar uma roupa,
lavar uma calçada, fazer uma comida gostosa; um doce mais do que doce! Todas
muito jeitosas, com uma elegância natural; sendo que entre, elas, minha mãe,
sem dúvida, a mais elegante, sempre magrinha e com bom gosto. Todas mulheres
fortes, decididas, porém submissas a seus maridos. Talvez nunca, nenhuma delas
tenha percebido sua própria fortaleza, grandeza e beleza e, o quanto estavam
além daqueles homens que nem sempre, ou muito pouco, valoraram seu ser e seu
fazer. Estudaram pouco, o suficiente “para aprender ler e calcular”. Era
assim, antigamente. Era preciso trabalhar e o estudo não tinha o caráter de
prioridade que tem hoje. Não avançar nos estudos foi uma
pena, um desperdício de inteligência e talento.
Queridas mulheres formidáveis,
filhas do nono Cossetin! Eu reconheço e vejo vocês (e o que não alcanço ver,
intuo) e todo seu brilho, toda sua beleza, sua generosidade e todos os seus
feitos cotidianos (uma lista longa que sai do anonimato na medida que se
aprofunda o olhar) dedicados, na gratuidade, aos seus queridos e a tudo que
seus corações elegeram como valor.
sexta-feira, 25 de julho de 2014 | Filed in:
A
chegada, ontem à tardinha, foi com chuva.
Hoje, o dia amanheceu sorridente! O sol chegou
dourando tudo; abraçando e aquecendo a gente! O frio é intenso! Ele gruda na
gente e não larga! Entra pelos poros e gela dentro e fora! O sol e o fogo
miniminizam; mas não eliminam. É tempo do frio e não adianta. Melhor é se
entregar de vez e conviver com ele. Respirar e acolher suas carícias
ininterruptas, até encontrar um conforto... caminhar com eles: o frio e o sol.
De repente, a parceria fica boa! Com eles, reencontrei, revi minha cidade. Fui
ao encontro de minha saudade.
Tentei dialogar, mas a cidade não me reconheceu.
Agora sou vovó. Quando saí, era mãe de filhos pequenos. Estou diferente. Muito. A cidade também. As árvores da praça, mais viçosas, grossas, sábias.
O Ruizão,
totalmente transformado! Entrei e não encontrei nada como o deixei.
Perguntaram-me: quando esteve aqui? – Entrei em 1970, respondi... Muito
tempo... muito. Destruíram o prédio de madeira! Mas preservaram as árvores! E elas me trouxeram as falas do professor Beno, de Espanhol: “Adelante...”; da professora de Ed. Física, Dircema: “pega a bola, bibelô...”; da gente cantando no coral da professora Maria Helena... dos preparativos para os nossos teatros... do grupo do Grêmio Estudantil, preparando o jornal... dos desfiles maravilhosos de 7 de setembro... das paixões platônicas e dos escritos sem fim nos diários... dos dias de chuva, indo pra escola de galocha, capa e guarda-chuva, fazendo festa caminhando nas poças d”água... das festas, reuniões dançantes nas casas de uns e de outros colegas; daqueles ensaios de aproximação; da timidez, da vergonha, das mãos trêmulas que mal se tocavam, na dança... da grande expectativa de encontrar o amor e de como isto seria!
A casa da infância, adolescência e juventude. Tão diferente, tão mal cuidada, agora que a família não está mais ali... Mas o "chorão" ainda está lá! Só que muito mais alto! E esta garagem.. não era dali...
A casa onde nasceram meus filhos... a cabana da vó... E o coqueiro! Cresceu
solitário e ali mantém-se firme, resistente.
Sentimentos fortes e desencontrados,
palpitantes ... a casa ainda repleta de nós...
Saudade de
irmão! Quanta!
Por onde a vida nos levou? Eu fui embora e outra
vida começou para todos nós. Como a gente faz, quando volta e não se encaixa no
lugar que é seu, mas que não lhe serve? Lacunas do não vivido, não podem ser
mais vividas. Só amor se encaixa. Em qualquer cantinho, qualquer espaço, ele se
encaixa, se adapta, se molda. E recomeça de onde parou.
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Voltando pra casa. Um caminho longo, por estradas ora bem cuidadas e sinalizadas, ora em péssimo estado, abandonadas. Fora, contornando a paisagem característica (bordada com os desenhos e cores magníficas das imensas lavouras e dos campos verdes e solitários, onde o gado, indiferente ou conformado, perambula), um revezamento de chuva forte, garoa e cerração. Dentro, introspecção e nostalgia. No rádio, músicas nativistas sinalizam, para quem não sabe, que região do país é esta: Rio Grande do Sul. E elas falam deste homem, este ser humano com o qual me identifico, porque está na minha raiz; este homem solitário, forjado na dureza da lida, não poupado de nada; que cai e se levanta e vai em frente e não desiste; castigado pelo vento, pelo frio, pelas distâncias e por todas as metáforas relacionadas. Forte, sim! E solidário e afetuoso, generoso e fraterno atrás da rudeza, timidez ou uma certa altivez e reserva. De vez em quando, a luz do sol clareia o céu, empurrando as nuvens e a chuva; é de pura alegria pela minha volta, eu sei! Mas, ao longe, os morros e os capões, arremedos de antigas florestas, cobertos de neblina, espiam, com olhos marejados. É saudade, sei. De mim. Do que eu era, do que eu fui e do que eu desisti de continuar a ser e do que eu poderia ter sido, se não tivesse ido embora. Aos poucos, a estrada de fora é estrada de dentro e vou reencontrando e entrando nesta minha vida que não é mais minha vida, mas que está ali, inteira e intacta; como se me esperasse para retomar e continuar do ponto onde a deixei. Mas não dá. Nada mais é como antes, somente nesta lembrança viva. Não sou mais a garota, com a vida toda pela frente. Escolhi outros caminhos e eles me acrescentaram diferenças e forjaram uma outra mulher que não cabe no corpo desta que ficou aqui... muito de toda aquela “vida pela frente”, já passou. O futuro longe, já chegou. Volto cheia de marcas... umas suaves, belas; outras, dolorosas, que sangram sem parar. A vida não poupa. A peleia, a lida dura também se dá longe dos pampas. As lembranças vivas, me questionam: não teria sido melhor ficar aqui? De quantas coisas teria me poupado? Quanta coisa boa teria seguido e, na sequência, oportunizado mais felicidade a mim e aos meus? Não posso responder. Não sei. E não posso, aqui, ser aquela que eu era e nem a que eu sou agora. Aqui, eu circulo num espaço de intersecção; vejo o antes, vejo o depois. O agora é este meio, atemporal. E no meio, não sou nada. Olho para estas duas de mim e não consigo abraçar as duas, juntá-las. Só vê-las, sentí-las... misturadas que estão à chuva, à neblina, às cores dos campos, aos sonhos e lembranças de toda vida, de todas as vidas; imersas numa solidão, que de tão grande, tão funda e tão intensa, atravessa os extremos e se reencontra e reintegra num todo, chamado amor. É o que fica, sim; depois de tudo e do final, onde resta a saudade (a que se explica e a saudade urgente e sem palavras) e, ainda para além dela: o amor.
segunda-feira, 21 de julho de 2014 | Filed in:
Gosto do círculo,
da roda.
Do lado a lado.
Da sensação de pertencer,
de estar num espaço,
ter lugar e vez,
que a roda produz.
Olho no olho.
Proximidade
proteção
acolhimento.
Trégua,
aceno de paz.
domingo, 20 de julho de 2014 | Filed in:
Família! Laços fortes e singulares para cada um. Reunir todos, depois que cresceram e formaram suas próprias famílias, é um exercício e tanto! Mais ainda quando as famílias são numerosas, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove filhos! Famílias grandes, hoje, uma raridade. Que bagunça interessante quando conseguem reunir-se! Quanta coisa, sentimentos (todos! Pois ali se experimenta de tudo! Um treino para a vida.), lembranças, vivências, atitudes são mobilizadas... Coisa bonita e instigante, para mim, é observar a genética! Bela e presente em traços aqui e ali; uns mais visíveis, outros menos... no nariz, no cabelo, no jeito de andar; no sorriso, nos olhos; na forma de falar, no jeito de expressar; na voz; no jeito de agir e reagir, na forma de organizar, de elaborar... repetindo e perpetuando-se através das novas gerações... nos filhos, nos netos, nos tios, nos sobrinhos, nos primos... Tão diferentes, singulares e, ao mesmo tempo, tão semelhantes!!! Uma constatação acrescida de uma sensação intensa, de continuidade e permanência. E de unidade. E de espiritualidade: somos todos, filhos de um mesmo PAI!
domingo, 13 de julho de 2014 | Filed in:
De onde te conheço
tanto que
te adivinho?
Que teu olhar
me captura
em cada canto
em que choro
em que canto?
Que tua emoção
me toca,
tua felicidade
faz eco nas minhas
entranhas
e tua dor me machuca?
E toda vez que preciso
minha mão encontra a tua?
sábado, 12 de julho de 2014 | Filed in:
O
burburinho dos alunos, que procuravam, em grupos, palavras no dicionário, foi
quebrado pela curiosidade, quando um deles falou:
-
“Professora, posso te contar uma coisa que descobri?
-
Claro! O que o foi que você descobriu?
- Descobri que a gente não olha direito para as
coisas, principalmente nos lugares que a gente conhece, vive. É.... eu descobri
isto quando fui na casa do meu amigo... vi uma coisa que sempre estava lá, mas
que eu nunca tinha visto! E também, que quando a gente vai num lugar que não conhece,
também fica mais atento, vendo todas as coisas diferentes, ali... é tão importante
isto, ver as coisas, né?"...
Não é lindo demais? Olhem só! E dito por uma criança!
Além da profundidade da frase, imaginem a carinha, enquanto falava! Os olhos
brilhavam de alegria, pela descoberta! Imaginem, então, a “cara” da professora e o que se passou dentro do seu coração de professora
“coruja”! Ah! Meus amigos! É a vida nos presenteando, o tempo todo, com aprendizados surpreendentes! Olhar, perceber, ouvir, sentir e curtir o que e quem está ao
nosso lado, no momento, de fato: nossas pequenas felicidades certas!
segunda-feira, 7 de julho de 2014 | Filed in:
Imagem da Internet
Sentimento tonto
sentimento intenso
sentimento insuportável
de pertença,
de fusão
de amor exaltado
e doce
maior do que eu.
Acho que não sou mais eu.
Sou a junção de tudo...
Não sei se é dor
não sei se é felicidade...
Se estou assim tão
plena de tudo
ou tão longe de tudo...
Circulo por caminhos
tão profundos
tão sensíveis
que dói!
Dói feito raiz exposta,
que estremece
de frio ou de calor...
Será de prazer ou dor?...
Onde vamos
assim, ao sabor
dos ventos,
dos sentimentos
das brisas e marés
tão sozinhos
e tão juntos?
Misturando o que não
combina
atropelando sintonias
pisando sonhos
desenhando distâncias
mascarando
verdades e alegrias?
Ora afastando, ora
suplicando
na gangorra do dia
só o que a alma quer:
olho no olho
mãos entre mãos
num abraço
apertado!
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