Flamboyant



         Nos últimos três meses, olhei muito para o nosso flamboyant. Sentia uma imperiosa necessidade de contemplá-lo. Ele tornou-se uma bela e jovem árvore, alta e esguia. E florida! Pela primeira vez, floresceu! E suas flores foram desabrochando lentamente... cada dia, uma! E, de repente, eram muitas. Lindas! Eu sentia apreço, ternura, gratidão por tanta beleza no meu quintal e, uma sensação de culpa, como se estivesse dando pouca atenção a ele, pelo tanto que representava.
            Era tímido, nosso flamboyant. E mágico! Sim, porque num piscar de olhos, estreitava num abraço longo, o lago e com suas folhinhas, cobria o chão e tudo que estivesse embaixo. Não vencíamos varrer! Tampouco ver quando caíam....acho que talvez porque não caíssem, flutuassem... suaves e silenciosas. Discretas.
            E era lindo observar o céu através de seus galhos! Um dia, inusitadamente, pensei: - preciso tirar uma foto dele! Registrar esta beleza... antes que acabe... e tirei. Logo em seguida, perdi aquele celular e, consequentemente, as fotos do flamboyant florido... eu planejava tirar outra foto... mas não deu tempo!
            Como se fosse profecia, de fato acabou! Hoje,  nosso flamboyant se foi... Tombou, durante uma ventania, suave e silenciosamente sobre o lago. Os fios da rede elétrica, a pérgola e os galhos do pequeno plátano sustentaram seu corpo enquanto nos refazíamos do choque e nos organizávamos para tirá-lo dali.
            Chovia muito. Relâmpagos e trovoadas interrompiam nosso silêncio: meu, do meu marido e do meu filho. Trabalhávamos na chuva, equilibrando escada, usando serrotes e cordas para colocá-lo no chão e evitar danos. Doía ouvir o barulho do serrote cortando seus galhos e estes desprenderem-se do corpo, sem um gemido... Tão jovem! Tão bonito! Cheio de flor! Tão entregue! Por quê?
            O vazio dele está ali, entre os antúrios. Estará, amanhã e depois e depois, na ausência do seu reflexo e de sua sombra sobre o lago  e do tapete de suas folhas no chão. Uma ausência, um vazio preenchido de beleza e BEM. Lamento que em foto, o registro que fica, é  dele caído... Mas sua beleza e suas flores estão registradas dentro de mim; num lugar onde ninguém pode roubar e nem eu perder. Li, um dia destes, que na vida, a gente ganha ou aprende. São lições de amor. 



 


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2025, 16o aniversário do Blog! Pulei 2024, ano dos 15 anos. Aconteceu sem intenção. Retomo, agora, este espaço e esta escrita e me preparo para metaforizar silêncios e ausências. É o que eu gosto.

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