terça-feira, 12 de abril de 2016 | Filed in:
Chovia
fina melancolia sobre o asfalto e sobre os verdes misturados, às margens, com
terra recém lavrada, recém semeada. Dentro do carro, voltávamos, após encontro
familiar e festa, no final de semana, do RS. Cada um, na quietude, processando
impressões e sensações. E eram tantas, tantas... até que de repente, a menina
quebrou o silêncio:
-
Olha ali, vovó, a mulher de ferro!
Na
viagem de ida, a “primeira viagem longa” dela, eu lhe apresentara, com emoção e
orgulho, figuras que haviam povoado minha imaginação, na infância, quando fazia
as pequenas viagens com minha família: as torres
de alta tensão plantadas ao
longo da rodovia, às vezes, às margens, solitárias; às vezes em grupo,
enfileiradas, adentrando as lavouras... Para mim, que na época, não sabia nada sobre
“torres de alta tensão”, elas eram personagens, homens e mulheres gigantes, com
longos e armados vestidos ou com armaduras protetoras, que cuidavam dos
caminhos, das plantações e das pessoas que por ali passavam... Eram poderosas!
Como reis e rainhas. Eu olhava com simpatia, para elas. Gostava de encontrá-las
porque minimizavam a sensação de solidão, que produziam em mim, a imensidão de
solo semeado de figuras e cores; os horizontes longínquos; a estrada sem fim, com casas
bucólicas, de varais esvoaçantes, varandas com cadeiras vazias e chaminés
fumegantes; separadas ou
ligadas por distâncias imensuráveis e habitadas por gente e um tipo de vida que
nem meu imaginário curioso e fértil alcançava. Somente aquelas criaturas
gigantes poderiam cuidar, aproximar e dar sentido a tudo aquilo. Como os
super-heróis, elas me emocionavam e eu imaginava nomes e histórias que
protagonizavam ou assistiam. Isto estabeleceu interação e apaixonamento entre
mim, aquelas e outras paisagens que surgiram diante de meus olhos, vida afora
e, que depois passei a chamar, imitando meu pai, de mãesagens! Elas aguçaram o
meu olhar e a sensação de que sempre há algo a mais... algo que se passa nas
entrelinhas... e que é muito mais interessante do que o que se vê num primeiro
pouso.
A
pequena guardou e tocou minhas lembranças, assim como acrescentou novo
significante: “mulher de ferro”!!! Claro! As crianças são incríveis nesta
capacidade de ler e sinalizar o que se passa, mesmo sem ter, muitas vezes,
palavras para isto. Por ter esta natureza “de ferro” mulheres sobrevivem,
conquistam e guardam seu espaço, sob e apesar da “alta tensão”. Atravessando o
tempo e as intempéries, elas permanecem e fazem valer sua presença e as
parcerias. Segredos e cumplicidades que passam de uma para outra.
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