sábado, 26 de novembro de 2016 | Filed in:
A
vida, o dia, a hora, o planeta... é tudo redondinho! Aqui e ali a gente
reencontra um rosto, uma conversa, uma história; “um algo lá de trás”, que
surpreende! Tudo e todos, um dia, voltam a se encontrar... “assim ou assado”!
Que
surpresa boa! Que alegria acompanhar os alunos, curiosos de saber, numa
visitação ao ECO DO AVENCAL, em Porto Belo - SC, na semana que
passou e encontrar lá, o professor Amilton; professor cheio de curiosidades e
encantamento pelo saber e pelo “ensinar”! Ele não foi meu professor, pena!!!! Mas
dos meus filhos! Que guardam dele profundas e boas lembranças, e eu também, por
“tabela”! E isto já faz um tempo...
Fiquei
observando, cheia de admiração, sua maestria na lidança com os alunos; com o
prazer de viver e ensinar; com o contexto,
com o conteúdo e com a alegria; com as questões sociais, ambientais e de
interação respeitosa com o outro diferente; seja ele outra pessoa, um animal,
um vegetal... lindo! Profundamente generoso e integrador. E, nos entremeios, de quebra, de
brinde e por acréscimo; “alunos, valorizem a vida de vocês”! “Alunos, pensem“...
“Alunos, não esqueçam das palavrinhas mágicas: “desculpe”, “por favor”, “com licença”,
“obrigado”... Demonstrando que conhecimento é algo vivo, palpitante e não
morto, enterrado nos livros, nas apostilas! E que deve produzir sabedoria e não
arrogância! Que um professor, é aquele que professa e isto é algo muito sério!
Por isto, ele sempre é educador!
Maravilhoso é encontrar e visitar estas pessoas e lugares! Tudo ressignifica! Mas, além disto; mais profundo e especial, são os significantes que se instalam e nos remetem à reflexões; nos fazem pensar... Isto é a prova do quanto são bons!!!
Maravilhoso é encontrar e visitar estas pessoas e lugares! Tudo ressignifica! Mas, além disto; mais profundo e especial, são os significantes que se instalam e nos remetem à reflexões; nos fazem pensar... Isto é a prova do quanto são bons!!!
sábado, 12 de novembro de 2016 | Filed in:
E ontem foi a formatura do Leo!
Conclusão do Ensino Médio. E eu gostei do telefonema anterior: “tia, quero
que você vá na minha formatura”, na sexta! Eu queria! No caminho, a pequena
Margot, junto, perguntou, com aquele olhar curioso e encantador das crianças e
criaturas desejantes:
-
“Vovó, o que é formatura”?
-
Uma coisa bem linda! Você vai ver! – respondi.
E
foi! Muito bonito! Cheio de significâncias, detalhes... e adoro detalhes! Olhar
pra eles, fazer leituras de borda. Especificamente, comecei minha leitura pelo
longo trajeto compreendido entre a entrada do portão e entrada do
salão: uma escadaria! Lembrando caminho, subida, elevação... Caminho árduo,
portanto! Junto à porta principal, cheia de luzes e brilhos delicados, havia
uma árvore estilizada; que eu interpretei como sendo uma árvore de Natal. Nela,
pendurados, cartões! Curiosa, abri um e ah! Fui abrindo outro e mais outro...
Continham traçados, caligrafias singulares, que produziram grande surpresa e
emoção em mim... Eram pequenas frases! Grandes desejos que pulsavam nas minhas
mãos, diante dos meus olhos, do tipo: “ Quero ser feliz”... “Trabalhar,
casar com a mulher que eu amo, ter filhos”... “Quero passar no
vestibular, no curso que eu quero e me formar”... “Estudar, trabalhar,
cuidar e curtir a vida”... “Viver com saúde, estar com os amigos, trabalhar, ser feliz”... “ Quero
me formar, ter uma vida legal fazendo o que gosto e com quem eu gosto”... Evidentemente
não pude ler todos. Eram muitos e a curiosidade da netinha era grande para
entrar; ver o que havia lá “dentro desta formatura”... Eu já estava
me deleitando muito, desvelando aquelas essências! Gosto de colocar a aparência
a serviço da essência! Considerei a montagem da árvore, um trabalho de grande sensibilidade!
O clima era de festa, alegria claro! E
teve tudo o que é de praxe nas cerimônias de formatura: beleza, esmero no
traje, no cabelo, na maquiagem, nos acessórios, no caminhar! Entrega de
certificados; discursos e homenagens! E menções, prêmios aos alunos destaques;
o que me deprime, sempre. Acho que o momento de formatura é de todos! Os
“louros individuais” poderiam ser entregues em outro momento. Porém, eu me
esforço, quando isto acontece, para entender o contexto de cada instituição. E
coloquei foco na essência: era a formatura do Leo, sobrinho querido, singular e
talentoso! E, para completar minha alegria, ali também estavam alguns
ex-alunos! Rapazes e moças que conheci pequeninos; acompanhei durante um bom
tempo e quando chegou a época, alfabetizei, lá no Quintal! Tão diferentes,
agora; crescidos, elegantes!
Observei cada um que era chamado para
receber seu certificado... Todos com aquele passo entre firme e titubeante;
que, desafiador e confiante, quer e vai em frente... mas que ainda,
por vezes, hesita... necessita de um olhar e de uma mão que assegure: “Vai!
Estou contigo”! Naquele momento, como em tantos outros, que atualizaram na
memória, eu senti e imaginei que os professores, ali presentes, também sentiam:
orgulho de ser professor!
Os jovens formandos não se comportaram
como meros expectadores! Cada vez mais eu via as aparências embelezando as
essências! Eles participaram; vibrando, falando, cantando; mostrando talentos e
sonhos... muito, muito além dos necessários para passar num vestibular! E de
sonhos foi o que mais se falou ali. Especialmente um velhinho; um personagem
maravilhoso que entrou de mansinho, de repente e, diante da silenciosa e
pulsante platéia, falou sobre SONHOS! De tê-los bem claro! De
exaltá-los! De perseguí-los! De cultivá-los! De protegê-los! De não
abandoná-los! E caso isto aconteça: de resgatá-los!
Impossível,
para mim, encontrar com esta palavra: FORMATURA e não lembrar do meu
pai! Ela provocava grande comoção nele; especialmente porque lhe
recordava uma melodia... “A formatura... é linda esta
música”, ele sempre dizia, cantarolando-a. Nós ríamos, porque não a
conhecíamos e porque, quando falava dos seus sentimentos, o pai exagerava nos
gestos, no tom de voz; teatralizava! Aos poucos, na lidança com os
próprios sentimentos, aprendi que não é fácil encará-los e compreendi porque o
pai precisava de um “traguinho”, ou então brincar, para expressar o que sentia.
A partir disto, passei a “ler” de outra forma, o meu "velhinho".
Quando, um dia, a curiosidade foi grande demais, procurei por esta melodia e,
encontrando-a, entendi o olhar lacrimejante do meu pai, sempre que a ela se
referia. E eu também chorei! Piegas, mas real. Uma canção que fala do esforço e
da alegria de uma mãe, abandonada pelo companheiro, para criar e “formar” seu
filho; que, finalmente, recebia seu diploma de médico!
Ah!
Com este significante, olho para elas, as formaturas, sempre com o olhar
marejado! Não me canso, não sinto fastio. Eu curto! Curti as “minhas formaturas”,
todas: do ginásio, do magistério e da faculdade! Naquela época, os aparatos
externos não eram tão apelativos; era tudo mais comedido e, de acordo com meu
olhar e entendimento, focado na essência. Mas a emoção de vencer uma etapa; de
chegar ao fim de um ciclo, de uma caminhada; de “chegar lá”... acredito que
seja a mesma; independe dos aparatos. É bom demais! É prazeroso! Motivo de
orgulho! Para todos!
No decorrer da vida, no encontro e na lidança
com escola, eu me deparei com aqueles que viveram intensamente esta culminância
em cada fechamento de ciclo, até a chegada do tão esperado diploma
universitário. Vibrei com eles! E também com outros, que optaram por não querer
e não participar desta festa. Vibrei com eles, também! Cada um escolheu de
acordo com o seu momento. Considero isto especial. Aprendizado. Escolher é
fundamental! Isto é bem diferente de não poder ou de não ter opção;
como muitos! Estudar porque todo mundo estuda; ir pra faculdade porque todo
mundo vai; ir pra formatura porque todo mundo vai... estudar para passar num
vestibular... não! Estudar é um prazer! Para tudo há um momento e um por quê. Alguém
vive sem estudar? Sem aprender, neste cotidiano tão desafiador, cheio de
demandas? E só existe este caminho para estudar: o da escola? Diplomas não
garantem sucesso, felicidade, êxito e nem um emprego; todos sabem e pesquisas
recentes confirmam. Exemplos disto também não faltam. Mas ajudam, facilitam
algumas coisas. É um caminho... um bom caminho! Acredito que possa melhorar! Eu
gosto dele! Gosto da escola! Na verdade, adoro!
E, a bem desta verdade, é preciso
distinguir as coisas: oferecer, garantir o acesso
de todos, ao estudo de qualidade, interessante, cativante; do
Infantil ao Superior, é uma coisa! É (ou deveria ser) dever do estado, da
sociedade, da escola, da família... Porém, a escolha do sujeito e\ou sua
adaptação a esta sequência, é outra coisa! Nem todos se adequam. Quais as
alternativas para estes? Organizar a sociedade, o mercado, para
acolher os profissionais que se formam; é algo também muito sério e que precisa
andar concomitante.
Há tanta coisa envolvida, misturada,
nisto: muito ideal; muita coisa boa e muita coisa desnecessária, ultrapassada; coisas belas e coisas inúteis; promissoras e
injustas, construtivas e desafiadoras... Sim, há muito para estudar, refletir,
amadurecer, avançar, conquistar, transformar em relação a isto!
Por ora, sem perder o foco no que é justo
e necessário, vamos curtindo este presente e os belos momentos com que nos
presenteia! Parabéns por ontem, queridos alunos! Parabéns por ontem, Leo!!!!
Acalentem vocês e acalentemos nós todos, o que nos foi recomendado: não
esqueçamos dos nossos sonhos! Nenhum dia!
Voltando para casa, perguntei à pequena:
- E então querida, gostou da formatura do
Leo?
- Gostei, vovó!!!!
- Agora já sabe o que é uma formatura?
- Sei, vó! É uma porção de gente sentada!!!!
quarta-feira, 2 de novembro de 2016 | Filed in:
Vi teu olhar assustado
tua angústia,
tua dor,
teu desejo de sair,
reencontrar o teu
lugar!
Pegar tuas coisas,
teus medos
tuas
verdades,
tuas asas,
tua vida
e ir embora dali...
avivar o corpo
que crescia em
limitações...
Mas não pude fazer
nada.
só olhar.
Não havia o que dizer
o que fazer. Só
esperar.
Ambos prisioneiros
em nosso momento,
em nossas teias
fragilidades
impotências...
Próximos,
envolvidos de
benquerer,
mas sós.
Talvez te bastasse
me ver,
estar ali,
segurando tua mão
como tantas outras
vezes.
Achei que sim.
Fechaste os olhos
e, enfim, dormiste.
Minha mão ficou ali,
te acompanhando
num voo inquieto...
Até que encontraste
algo repousante,
acolhedor;
um oásis talvez...
Relaxaste!
Soltaste minha mão.
E, um tempo depois,
partiste! De vez e só.
Meu olhar te encontrou
na brisa suave
da tarde que
também morria
e minha mão te
acompanhou
num aceno
até que te diluíste nos
azuis do horizonte,
leve, livre... finalmente!
Finalmente, tu!
E rindo teu riso maroto!
Certamente, fazendo graça,
com teu vocabulário
singular
olhar curioso,
ávido de detalhes e
sutilezas;
a respeito de novas
mãesagens...
E eu fui encontrar
com minha solitude
e com estes mistérios
que me rondam...
ora inquietam
e extasiam;
ora singularizam e
ora entrelaçam
afetos, vida e morte;
metáforas e realidade...
Tchau, pai!
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as
folhas soltam-se
ao
sabor
do
vento,
da
chuva
das
estações
e
do seu tempo...
Entregues
e preguiçosas,
acumulam-se,
na
calçada,
ao
longo do meio-fio,
na
rua...
Durante muitos anos, onde estivesse, meu
pai celebrava um ritual com estas folhas que envelhecidas, precocemente ou não,
perambulavam pelo chão, pisoteadas, ignoradas, rejeitadas. Todos os dias, ele,
a vassoura, as folhas e o que mais estivesse ali jogado. Um encontro firmado,
juramentado; fizesse chuva; fizesse sol.
Quando possível, eu gostava de observar
e acompanhar este fazer matinal, meticuloso e teimoso do meu pai. Ele
exagerava: varria também a rua e muitas vezes, extrapolava o seu espaço e varria
os espaços dos vizinhos, por puro prazer! Mas era demais para suas
condições físicas. No entanto, os exageros sempre foram sua marca registrada;
seu charme e seu prejuízo. Isto não teve jeito.
Ele varria e classificava; organizando
montinhos: folhas, pauzinhos e outros descartáveis encontrados; encaminhando
cada qual para um destino.
Eu pensava e ainda conjeturo sobre o que
mais o meu pai varria, ali? Lembranças? Culpas? Saudades? Excessos? Sonhos?
Esquecimentos? Amores? O tempo?
Não varria com raiva, nem com pressa,
nem de qualquer jeito. Varria com zelo, com carinho, com capricho. Muitas
vezes, depois de tudo limpinho, lá vinham deslizando outras e mais outras
folhas e ele, pacientemente, como numa dança, esticava a vassoura e puxava uma
a uma... até combinar uma trégua! Não era como se desprezasse, juntasse lixo.
Nem que isto o aborrecesse! Era como se acolhesse, protegesse aquelas sobras,
aqueles descartáveis... destinando a eles um último olhar, um último cuidado.
Era um trabalho bem feito. De entrega, doação e interação funda; como outros
que fazia. Era bonito olhar! Assim como sempre foi apaixonante observar minha
mãe passando roupa... uma arte!
Nestes últimos dias, em que o pai esteve
doente, as folhas se acumularam sobre a calçada, sobre o meio-fio e sobre a rua, num claro lamento. E quando, ele
definitivamente decidiu ir embora; levar seu olhar sutil e riso maroto para
curiosar outras mãesagens por aí; eu
decidi varrer, sentindo-me guardiã deste seu fazer. E foi tão bom! Mas, com certeza, preciso
de treino cotidiano.
Num destes momentos de treino matinal,
uma senhora passou e perguntou-me:
- Bom dia! Tem notícias do seu
“Schimite”, o velhinho que estava sempre varrendo esta calçada... soube que
está doente...
- Bom dia! Ah! Ele faleceu, senhora! –
respondi, a emoção subindo para os olhos.
- Puxa! Que pena! Mas Deus sabe o que
faz.... – consolou ela, mostrando-se bem despachada e, emendou, curiosa: - E a
senhora, trabalha aqui? Quem é?
Ah! Minha memória funcionou rapidinho! E
atualizou, num de repente, momentos e
situações em que ouvimos, eu e meus irmãos, a mesma pergunta, durante longos
anos, num passado nem tão longe assim e para a qual tínhamos uma mesma
resposta, cheia de significantes e orgulho: - “Sou filha do Schmitz, lá do Samrsla” ou “Sou
filha do Schmitz, lá da Casa dos Retalhos” (lugares onde o pai trabalhava).
Éramos, nós quatro, reconhecidos no reconhecimento da figura, das qualidades e
responsabilidades do nosso pai. Era bom demais!!!
Curti fortemente a lembrança; mas o
momento era outro. Respirei e falei:
- Sou a filha dele, do velhinho, do
Ximitão! Estou aqui aprendendo como se varre bem uma calçada, agora que ele não está mais por
aqui!
Ela me olhou um pouco surpresa e seguiu seu caminho, sem saber o que dizer ou sem
querer dizer alguma coisa.
E eu quase pude ouvir o riso debochado
do meu pai e a frase que enjoamos de tanto ouví-lo repetir, sempre que acontecia
algo assim: meio sem jeito, meio sem graça, meio errado, meio chato, meio
“mico” com ele ou com algum de nós: -“ Não
se preocupem, isto acontece nas melhores, nas piores e nas médias famílias...”!
Apesar do pouco
treino, dizem que estou varrendo bem. Bah! É que tive o melhor professor!
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