sábado, 12 de novembro de 2016 | Filed in:
E ontem foi a formatura do Leo!
Conclusão do Ensino Médio. E eu gostei do telefonema anterior: “tia, quero
que você vá na minha formatura”, na sexta! Eu queria! No caminho, a pequena
Margot, junto, perguntou, com aquele olhar curioso e encantador das crianças e
criaturas desejantes:
-
“Vovó, o que é formatura”?
-
Uma coisa bem linda! Você vai ver! – respondi.
E
foi! Muito bonito! Cheio de significâncias, detalhes... e adoro detalhes! Olhar
pra eles, fazer leituras de borda. Especificamente, comecei minha leitura pelo
longo trajeto compreendido entre a entrada do portão e entrada do
salão: uma escadaria! Lembrando caminho, subida, elevação... Caminho árduo,
portanto! Junto à porta principal, cheia de luzes e brilhos delicados, havia
uma árvore estilizada; que eu interpretei como sendo uma árvore de Natal. Nela,
pendurados, cartões! Curiosa, abri um e ah! Fui abrindo outro e mais outro...
Continham traçados, caligrafias singulares, que produziram grande surpresa e
emoção em mim... Eram pequenas frases! Grandes desejos que pulsavam nas minhas
mãos, diante dos meus olhos, do tipo: “ Quero ser feliz”... “Trabalhar,
casar com a mulher que eu amo, ter filhos”... “Quero passar no
vestibular, no curso que eu quero e me formar”... “Estudar, trabalhar,
cuidar e curtir a vida”... “Viver com saúde, estar com os amigos, trabalhar, ser feliz”... “ Quero
me formar, ter uma vida legal fazendo o que gosto e com quem eu gosto”... Evidentemente
não pude ler todos. Eram muitos e a curiosidade da netinha era grande para
entrar; ver o que havia lá “dentro desta formatura”... Eu já estava
me deleitando muito, desvelando aquelas essências! Gosto de colocar a aparência
a serviço da essência! Considerei a montagem da árvore, um trabalho de grande sensibilidade!
O clima era de festa, alegria claro! E
teve tudo o que é de praxe nas cerimônias de formatura: beleza, esmero no
traje, no cabelo, na maquiagem, nos acessórios, no caminhar! Entrega de
certificados; discursos e homenagens! E menções, prêmios aos alunos destaques;
o que me deprime, sempre. Acho que o momento de formatura é de todos! Os
“louros individuais” poderiam ser entregues em outro momento. Porém, eu me
esforço, quando isto acontece, para entender o contexto de cada instituição. E
coloquei foco na essência: era a formatura do Leo, sobrinho querido, singular e
talentoso! E, para completar minha alegria, ali também estavam alguns
ex-alunos! Rapazes e moças que conheci pequeninos; acompanhei durante um bom
tempo e quando chegou a época, alfabetizei, lá no Quintal! Tão diferentes,
agora; crescidos, elegantes!
Observei cada um que era chamado para
receber seu certificado... Todos com aquele passo entre firme e titubeante;
que, desafiador e confiante, quer e vai em frente... mas que ainda,
por vezes, hesita... necessita de um olhar e de uma mão que assegure: “Vai!
Estou contigo”! Naquele momento, como em tantos outros, que atualizaram na
memória, eu senti e imaginei que os professores, ali presentes, também sentiam:
orgulho de ser professor!
Os jovens formandos não se comportaram
como meros expectadores! Cada vez mais eu via as aparências embelezando as
essências! Eles participaram; vibrando, falando, cantando; mostrando talentos e
sonhos... muito, muito além dos necessários para passar num vestibular! E de
sonhos foi o que mais se falou ali. Especialmente um velhinho; um personagem
maravilhoso que entrou de mansinho, de repente e, diante da silenciosa e
pulsante platéia, falou sobre SONHOS! De tê-los bem claro! De
exaltá-los! De perseguí-los! De cultivá-los! De protegê-los! De não
abandoná-los! E caso isto aconteça: de resgatá-los!
Impossível,
para mim, encontrar com esta palavra: FORMATURA e não lembrar do meu
pai! Ela provocava grande comoção nele; especialmente porque lhe
recordava uma melodia... “A formatura... é linda esta
música”, ele sempre dizia, cantarolando-a. Nós ríamos, porque não a
conhecíamos e porque, quando falava dos seus sentimentos, o pai exagerava nos
gestos, no tom de voz; teatralizava! Aos poucos, na lidança com os
próprios sentimentos, aprendi que não é fácil encará-los e compreendi porque o
pai precisava de um “traguinho”, ou então brincar, para expressar o que sentia.
A partir disto, passei a “ler” de outra forma, o meu "velhinho".
Quando, um dia, a curiosidade foi grande demais, procurei por esta melodia e,
encontrando-a, entendi o olhar lacrimejante do meu pai, sempre que a ela se
referia. E eu também chorei! Piegas, mas real. Uma canção que fala do esforço e
da alegria de uma mãe, abandonada pelo companheiro, para criar e “formar” seu
filho; que, finalmente, recebia seu diploma de médico!
Ah!
Com este significante, olho para elas, as formaturas, sempre com o olhar
marejado! Não me canso, não sinto fastio. Eu curto! Curti as “minhas formaturas”,
todas: do ginásio, do magistério e da faculdade! Naquela época, os aparatos
externos não eram tão apelativos; era tudo mais comedido e, de acordo com meu
olhar e entendimento, focado na essência. Mas a emoção de vencer uma etapa; de
chegar ao fim de um ciclo, de uma caminhada; de “chegar lá”... acredito que
seja a mesma; independe dos aparatos. É bom demais! É prazeroso! Motivo de
orgulho! Para todos!
No decorrer da vida, no encontro e na lidança
com escola, eu me deparei com aqueles que viveram intensamente esta culminância
em cada fechamento de ciclo, até a chegada do tão esperado diploma
universitário. Vibrei com eles! E também com outros, que optaram por não querer
e não participar desta festa. Vibrei com eles, também! Cada um escolheu de
acordo com o seu momento. Considero isto especial. Aprendizado. Escolher é
fundamental! Isto é bem diferente de não poder ou de não ter opção;
como muitos! Estudar porque todo mundo estuda; ir pra faculdade porque todo
mundo vai; ir pra formatura porque todo mundo vai... estudar para passar num
vestibular... não! Estudar é um prazer! Para tudo há um momento e um por quê. Alguém
vive sem estudar? Sem aprender, neste cotidiano tão desafiador, cheio de
demandas? E só existe este caminho para estudar: o da escola? Diplomas não
garantem sucesso, felicidade, êxito e nem um emprego; todos sabem e pesquisas
recentes confirmam. Exemplos disto também não faltam. Mas ajudam, facilitam
algumas coisas. É um caminho... um bom caminho! Acredito que possa melhorar! Eu
gosto dele! Gosto da escola! Na verdade, adoro!
E, a bem desta verdade, é preciso
distinguir as coisas: oferecer, garantir o acesso
de todos, ao estudo de qualidade, interessante, cativante; do
Infantil ao Superior, é uma coisa! É (ou deveria ser) dever do estado, da
sociedade, da escola, da família... Porém, a escolha do sujeito e\ou sua
adaptação a esta sequência, é outra coisa! Nem todos se adequam. Quais as
alternativas para estes? Organizar a sociedade, o mercado, para
acolher os profissionais que se formam; é algo também muito sério e que precisa
andar concomitante.
Há tanta coisa envolvida, misturada,
nisto: muito ideal; muita coisa boa e muita coisa desnecessária, ultrapassada; coisas belas e coisas inúteis; promissoras e
injustas, construtivas e desafiadoras... Sim, há muito para estudar, refletir,
amadurecer, avançar, conquistar, transformar em relação a isto!
Por ora, sem perder o foco no que é justo
e necessário, vamos curtindo este presente e os belos momentos com que nos
presenteia! Parabéns por ontem, queridos alunos! Parabéns por ontem, Leo!!!!
Acalentem vocês e acalentemos nós todos, o que nos foi recomendado: não
esqueçamos dos nossos sonhos! Nenhum dia!
Voltando para casa, perguntei à pequena:
- E então querida, gostou da formatura do
Leo?
- Gostei, vovó!!!!
- Agora já sabe o que é uma formatura?
- Sei, vó! É uma porção de gente sentada!!!!
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