sexta-feira, 21 de dezembro de 2018 | Filed in:
Soube que um dia, numa cidade do RS, um menino, passeando
pela rua, de mãos dadas com o pai, de repente gritou:
-
Pai, pai, paiêêêê!!!! Olha lá! Olha lá!!!!
-
O que foi, filho?
-
Olha lá, pai! O HOMEM QUE PEDALA DEITADO!!!! Vamos lá!!!! Quero
pedir um autógrafo pra ele!
E
eles abordaram o HOMEM... E não só ganharam um autógrafo como conversaram com
ele e iniciaram uma camaradagem; destas precedidas por uma admiração secreta. A
pessoa admira, daí conhece e gosta mais ainda! E pode virar amizade das
grandes! Certamente porque o sujeito admirado, no caso, além da qualidade de
“pedalar deitado”, é boa gente; gente que tem o coração nos olhos e voz
embargada por qualquer coisa.
Descobri que pelas ruas e estradas do RS e,
também atravessando fronteiras, com olhos “encharcados de horizontes”, pedalava deitado
em tardes nostálgicas de sábado; ou manhãs silenciosas de domingo ou no
entardecer, em dias de semana, quando o sol está mais calmo e o horizonte
enfeitado de cores, abrindo espaço pra quietude, reflexão e tomadas de
consciência. Soube, também, que lá de quando em quando, ele se encontra com
outros de pedal e pedalam juntos, partilhando percursos, estradas, desejo,
alegria! Em todas estas incursões, constatações importantes do ciclista-cidadão
em relação ao trânsito: desrespeito aos pedestres e ciclistas e aos espaços
destinados a eles; às faixas de segurança; o desleixo para com estradas e o
desprezo para com a natureza e suas criaturas às margens das vias públicas. Mas
também, constatações especialíssimas do ciclista-cidadão-ser humano a respeito
de responsabilidade, sonho, amizade, respeito, humildade, singularidade,
desafios, superação, aprendizado, cooperação, sintonia, exercício físico,
contemplação e belezas naturais.
Aí,
fiquei curiosa! Muito curiosa para conhecer tal figura! Na minha imaginação,
ele já estava transformado num “super-herói”: um cara “super” do bem; superando
limites, obstáculos internos e externos e, “de lambuja”, como dizia meu pai,
ajudando quem precisa, com o que dá e pode! E até o que não pode! Porque,
investigando, soube que é dos caras que, também como dizia o meu velho Ximitão,
“se não tem sobrando, tira a camisa do corpo para dar a quem não tem”.
As
suspeitas eram de que ele devia ser das “bandas” do Noroeste do RS, lugares
onde ele era visto com maior frequência e também onde fica a minha cidade
natal; fui investigar e descobri, pasmem, a identidade do HOMEM QUE PEDALA DEITADO!
Na verdade, nem fiz muito esforço, porque não era nada secreto!
O HOMEM QUE PEDALA
DEITADO é singularíssimo! E,certamente faz parte do time dos heróis modernos!
Destes de “carne e osso”; que trabalham “de sol a pino”; que não têm preguiça!
Destes que “vestem a camisa”; que têm palavra; que honram o “fio do bigode”
mesmo não tendo bigode! Destes que não nadam com a maré; dos que “não vão com
os outros”, ou seja, “na onda” dos outros! Dos que se preservam. Preservam
vida, a força, a saúde, o movimento, a atenção, a identidade, a
individualidade, a emoção e sensibilidade e, a justeza das coisas. Destes que
ainda sabem trocar uma lâmpada, trocar uma torneira, uma telha; cortar
a grama, trocar um pneu; coisas dos homens “das antigas” e ainda
trocar uma fralda, ajudar na cozinha, se preciso, coisas dos homens “modernos”! E
encontram tempo e prazer em dar atenção, passear, tomar sorvete; brincar, rolar
no chão e escorregar, em morros gramados, em cima de um papelão, com os netos...
Ele é parceiro bom de jornada: de pedal e de vida! Tem lá
suas questões, como todo mortal. Mas é o tipo do cara com quem você pode
contar; que diz coisas assim: “tamo junto” com cara de quem está mesmo junto
contigo! E isto dá força, coragem, ânimo para quem escuta!
Vou conhecendo e me encantando com as
proezas deste HOMEM QUE PEDALA
DEITADO; admirando sempre mais o
ser humano brilhante que habita ali dentro e que eu conheço há muito tempo; meu
mano véio! Um querido!
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