sábado, 24 de agosto de 2019 | Filed in:
O pai
gostava de usar boné! Era extremamente cuidadoso com a pele, muito clara.
Seguia, à risca, as orientações da dermatologista, usando, religiosamente,
protetor solar e o boné para proteger a “careca”. Era um ritual bonito de ver,
este, sempre antes de qualquer saidinha de casa. E usava, sem trégua, o mesmo
boné por longo tempo... Eles iam descolorindo, “afinando” de tanto uso e de
tanto a mãe lavar. Não se preocupava com a aparência; só com a utilidade. Por
isto, de quando em quando, um familiar o presenteava com um... geralmente de
cor ou detalhe vermelho, porque era apaixonado pelo Inter! Mas afirmava que não
era fanático!
Quando
fazia as pequenas viagens, vindo do RS até SC, para me visitar, trazia dois ou
três bonés. Dizia, no tom de gozação que lhe era peculiar: - “Olha aqui, minha
filha, trouxe três bonés pra fazer bonito e ninguém pensar que só tenho um”!
Mas se a mãe ou um de nós não lembrasse, usava sempre mesmo! E todos nós, aqui
ou lá, sempre fazíamos muita graça com este assunto! Alémde exibir os bonés,
gostava de demonstrar que ainda tinha boa memória, nomeando quem o havia
presenteado com qual boné.
Alguns
meses antes de falecer, o pai ganhou o último boné. O genro trouxe um, todo
vermelho, do Canadá; deixando-o muito contente! O boné era precioso não só
porque era novo, vermelho e vinha do “estrangeiro”; mas principalmente porque
naquele país distante, morava um neto e o boné trazia e recordava muito, muito
afeto e belas lembranças... de uma vida toda... de muito carinho, partilhas e
alegria!
Depois
que o pai “se foi”, a mãe desfez-se de quase todas as suas coisas. Guardou umas
poucas e entre elas, o boné vermelho, vindo do Canadá. Ela o pendurou num
lugar, na cozinha, justificando: - “deixo o boné ali, para me fazer companhia”!
Impossível a gente andar por ali, sem ver o boné, sem fazer um comentário e sem
dar boas risadas, porque lembrar do pai é, via de regra, chamar alegria; porque
ele era um “baita gozador”.
Foi ali,
na cozinha, que surgiu a ideia de levar o boné do pai para viajar conosco, a
Goiânia. Eu e um dos meus irmãos levamos, em Julho, a mãe para visitar o
Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade. A mãe nunca tinha viajado de avião
e ia realizar dois sonhos: visitar o Santuário e “andar de avião”. O pai,
quando vivo, dizia ter medo de avião. Mas gostava de viajar! Era um apreciador
das “mãesagens”; não perdia um “lance”, um detalhe! O passeio ao Santuário foi
bonito, leve, alegre, intenso...
Bom
demais andar e olhar, de vez em quando, pra vida, com os olhos curiosos do pai
e com um boné na cabeça, para proteger a “careca”, as ideias e os sonhos !
Hoje, o
Ximitão faria 87. Saudade!
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