quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020 | Filed in:
O
pequeno, de uns 4, 5 anos, desceu a rampa que conduz ao quintal e,
cautelosamente, cuidando para não ser visto, aventurou-se, primeiro, caminhando
sob as goteiras que caíam das telhas e depois, seguro de que ninguém o
observava, deu os primeiros passos pela areia, sentindo e curtindo a chuvinha
no rosto, feliz.
Bom,
eu não podia deixá-lo molhar-se... e muito calmamente, para não assustá-lo,
pois não me vira:
-
Oi! Querido! Precisa de ajuda?
-
“Ah! Só quero ir lá na pia lavar esta
coisa”... – e mostrou-me um objeto, visivelmente contrariado com a minha
aparição; mas tranquilo.
-
Eu te ajudo! Vamos voltar pela rampa e descer pelo lado coberto. Está chovendo...
– chamei.
-
“Ah! Eu nem vi que estava chovendo”! –
justificou. “Quando olhei pra fora, só vi
que estava nublado...” – complementou, sem graça; murchinho...
Eu
o acompanhei, mas dispensou minha ajuda para lavar o objeto e nos despedimos.
Mesmo
sabendo que agira certo, naquele contexto, fiquei com a imagem desolada do
menino, na cabeça. E depois, caminhando na chuva, pisando nas poças d’água, até minha casa, continuei refletindo; o desejo do menino
misturado com o meu: deliciar-se na chuva, pisotear as poças d’água!
Coisa
que eu sempre amei! Quando criança, esperava com ansiedade os dias de chuva
para colocar as “galochas”, a capa de chuva, pegar minha sombrinha e ir para a
escola, pelas ruas de Ijuí, cheias de “sobe e desce”. Naquele tempo, podia ir a
pé e sozinha para a escola. Era muito prazerosa esta caminhada acompanhando as
águas que escoavam pelas sarjetas... Eu apreciava estar sozinha, nestes
momentos; contatava com uma emoção ímpar que depois motivava uma escrita, como
até hoje.
Por
isto, entendi o que se passava com o menino; seu desejo de experimentar a chuva, pisar na
poças e estar sozinho nesta aventura...
Refleti
o quão está triste a infância, hoje, sem esta possibilidade de explorar; de
viver experiências de contato mais próximo com as coisas da natureza, tão
simples, mas tão fortes... e de que a minha infância esteva plena! Mas concluí que isto não está impossibilitado! Depende de nos organizarmos e oportunizar estas
vivências! Isto exige certa desacomodação, alguns desapegos adultos, mas nada
que não possa ser transformado em momentos de grande interação e alegria entre
nós e os pequenos!
Ah!
Fiquei cheia de ideias!!!! Vamos preparar botas, capas, sobrinhas,
guarda-chuvas e fazer passeios sob a chuva; poças d’água? Experimentar esta
magia? Trazer à tona esta alegria ímpar?!!!
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