Histórias ancoradas



Ancorados, encaixados no abraço suave do mar, os barcos contavam histórias. Não chegavam inteiras porque  algumas ondas brincavam, barulhentas, com  os rochedos, ali perto; crianças corriam e conversavam alegrias, na pracinha e o movimento de carros, na avenida próxima, era intenso... Uma composição bonita, na tarde nostálgica que se espichava  para além do horizonte distante.  Histórias de tanto tempo... do tempo em que, no seu corpo, as suas cores eram vivas, a madeira nova e eles, impulsivos e destemidos! Gastos e desbotados, agora eram tranqüilos e respeitosos. E não tinham pressa. Não mais. Palavras, pedaços, fragmentos  de histórias, chegavam, falando  de esperas e esperanças, medos e inseguranças; despedidas e saudades... Da solidão desesperada e profunda dos desencontros  e dos profundos encontros  com as incógnitas e mistérios  dos dias e das noites revezando-se dentro e fora... de temporais e apaixonamentos arrebatadores e de rotas e amores tranqüilos num porto seguro... De fugas, lutas e buscas; fracassos e perdas! E também de trabalho intenso e redes cheias! Tão bom ouvir histórias e encontrar, dentro delas ou através delas, com as pessoais; elaborar e aprender que o tempo não para e que  o que de fato se tem, é o agora e o que se quer e consegue fazer com ele... e que há muita frase feita, muita semelhança, muita repetição... mas nada igual, nenhuma história igual. Esta singularidade é o que mais nos afasta  e machuca; mas também o que mais nos aproxima e encanta...  Talvez o  preciso e precioso seja o cultivo da paciência para viver a própria história e para escutar e respeitar a história do outro, os momentos em que elas interagem e como isto impacta, repercute, mobiliza  e marca a nossa ....

 

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2025, 16o aniversário do Blog! Pulei 2024, ano dos 15 anos. Aconteceu sem intenção. Retomo, agora, este espaço e esta escrita e me preparo para metaforizar silêncios e ausências. É o que eu gosto.

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