sexta-feira, 2 de novembro de 2012 | Filed in:
Apaixonou-se
quando ele chegou muito perto dela, numa noite de maré alta. Não estava
preparada, ali no seu espaço, imóvel, olhando as estrelas, sonhando,
contemplando a vida ao redor. E de repente, ele veio muito, muito perto e ela
sentiu sua energia, viu-se no brilho dos olhos dele, ouviu seu riso cantante e
contagiante e não precisou de nada mais do que isto para sentir que algo muito
forte rompia barreiras dentro de si, acordando, germinando, flor belíssima! E
ela, pequeno grão de areia, mais um entre tantos... um insignificante grão, ali
na praia, de repente ficou diferente! Coloriu de emoção! Palpitou com os
desejos estranhos e inquietantes, sinalizando possibilidades, ousadias, outras
praias, gaivotas e horizontes... Ela tornou-se singular! Sentiu desconforto com
a imobilidade cotidiana. Ficou curiosa! Atenta, os sentidos em alerta,
vibrantes! Potencializada de amor! Ele...
ele era grande e livre, o mar! Cheio de mistérios, imprevisível, encantador!
Quanto mais prestava atenção nele, mais descobria a si mesma. Quando vinha, nas
tardes e noites de marés; muitas vezes chegando tão perto a ponto de tocá-la
suavemente, envolvê-la num abraço macio, quentinho, delicioso; ela se sentia
derreter e ao mesmo tempo unificar, tornar-se nada e tudo ao mesmo tempo! E a presença, o brilho
dos olhos dele, sua gargalhada, o tom da voz sussurrante, o calor do seu abraço
eram melodias que lhe contavam de si mesma, deste seu presente inusitado e de
coisas de um passado que até pouco tempo, nem sabia que havia e que lhe faziam
ansiar e suspirar por um futuro que nunca lhe ocorreu ser provável! Provável de
provar! Nas madrugadas de calmaria, à luz da lua, rabiscava palavras de amor,
na beira da praia... versos que brotavam espontâneos e irriquietos de um poço sem
fundo, dentro do seu mundo! (e como entender que pudesse ser assim tão fundo se
tinha a forma de grão de areia?) Antes do sol nascer, ele vinha e recolhia os
versos, guardando-os em algum lugar entre seus mistérios profundos, deixando a
praia lisinha, outra vez, para que outras e mais outras palavras de amor ela
pudesse escrever e ele beber! Este movimento delicioso de toques fortuitos,
intervalos, esperas, saudades, silêncios e tanta, tanta ternura, foi
encurtando, gradativamente as distâncias entre eles... E, um dia, foram embora
juntos! Este momento eu presenciei! Vi quando ele chegou, no entardecer, vestido
de onda verde e num abraço grande e forte, tomou-as nos braços, levando-a
consigo, horizonte adentro, cantarolante! Vi, quando ela, literalmente, mergulhada
e diluída num mar de amor, morreu de
amor! As estrelas, a lua e as flores, respeitosamente cobriram a terra inteira
de quietude, perfume e doce penumbra.
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