domingo, 29 de dezembro de 2013 | Filed in:
Brincar de casinha! Mamãe, papai e filhinha! Me
encanta! Impressionante ficar observando como as crianças gostam e se articulam
e organizam para brincar; como distribuem os papéis, quando em grupo. Por vezes
acontecem impasses e disputas; mas geralmente concordam e fazem circular os
papéis, depois de definidos. E ali, na casinha, reproduzem suas percepções, as
falas, atitudes, tons e jeitos dos adultos do seu convívio. Quando a gente se
reconhece em algumas delas, descobre como a criança “nos lê”, interpreta; o que sinaliza muitas
coisas e nos oportuniza reflexão e mudança. Fiquei surpresa quando vi minha
neta brincando de “mamãe”, tão pequenina! Ninando, alimentando suas bonecas;
conversando com elas amorosamente; fazendo coisas na casa, "imitando" ações das mulheres do seu convívio. Não se trata somente de uma pura e simples imitação do universo adulto; mas também de uma identificação com o mundo feminino.
O vovô construiu uma casinha num espaço singular,
protegendo uma árvore que passa pelo meio da varandinha. Os objetos foram
aparecendo e compondo o ambiente; presentinhos da vovó, dos dindos, do papai e
da mamãe, dos tios e de alguns amigos. Algumas coisas recicladas. Uma festa para Maria!
Tapetinho na porta. Varalzinho na varanda. Prateleirinhas, mesa e cadeirinhas.
E as filhinhas! E a lidança começa...
Hora de recolher a roupa, no varal... “E agora... "(ela repete quando quer
sinalizar que vai mudar de foco)...
Hora de passar e dobrar. "E agora..."
Hora de cortar os legumes e preparar a sopa... "E agora..."
Hora de dar sopa às filhinhas: “Mari e Sorvetinha”... "E agora..."
Hora de pegar o baton da vovó.... "E agora..."
Hora de receber visitas...
E conversa e risos!
Assim como acontece com as outras crianças, Maria vivencia a preciosa "fase do simbólico". Este é o seu mundo do agora. Encantador, rico e grande do ponto de vista do tamanho, da idade. Vai crescer e enxergar outros “mundos”, outros horizontes, caminhos e possibilidades; outras coisas com as quais irá ou poderá identificar-se e, que de repente, não terão nada a ver com este “trinômio” que nos marca e singulariza na raiz: mulher X casa X maternidade. Muitas mulheres já não se ocupam das atividades da casa e muitas abdicam da maternidade em prol de outras coisas. Mas, agora, esta identificação com estas questões é muito importante para a descoberta e compreensão de si mesma, do seu gênero e do mundo que a cerca e desafia; para se organizar e situar no seu contexto; para trabalhar e expressar pensamentos e sentimentos; elaborar hipóteses e conceitos. Tão bonito isto! E tão bom: brincar de casinha!
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