domingo, 1 de dezembro de 2013 | Filed in:
Ela
esperava por mim. Uma senhora desconhecida, tímida, um pouco ansiosa. Enquanto
me estendia a mão, também entregava um bilhete. Nele, uma ex-colega apresentava
esta senhora e solicitava que eu a escutasse. Fiquei um pouco tensa, tentando
adivinhar o que ela queria, o que esperava de mim. Sentamos para conversar...
Ela era mãe. Também era
empregada doméstica, analfabeta; sozinha, com uma porção de filhos para criar.
Estava pedindo socorro, desesperada com a situação de um destes filhos, pequeno
ainda, que não se ajusta mais à escola, às regras, às leis; agressivo e com
grande dificuldade para o aprendizado; “ainda não sabe ler e não tem vontade
de aprender, de fazer tarefas escolares...” . Uma mãe dedicada, que via o
filho sofrer e produzir desconforto aos outros, desajustado. Ela buscava uma ajuda, uma palavra, um
horizonte, sedenta: “professora,
eu faço qualquer coisa para ajudar meu filho! O que a senhora disser para eu
fazer, para onde ir, onde buscar... eu faço, eu vou... Não sei ler, mas eu vou
perguntando aqui e ali... eu acho, eu chego lá...!” Estar ali, segundo ela, era o último
lugar, última esperança... Contou-me que espera, a cada dia, que este
filho seja chamado, inscrito que está, num destes programas municipais de
atendimento especializado infância; preocupada, porque sabe e sente que o
menino precisa de ajuda urgente, imediata e ela não vem (realidade triste da
saúde e da educação no nosso país)... Eu tive vontade de dizer a ela que eu
tinha escuta, mas não tinha o poder do milagre! Mas calei e ouvi, ouvi, ouvi...
tanta coisa triste e também tanta coisa bonita de superação e luta... Eu tinha
que manter a esperança, não só a dela; a minha também. Ela chorou e eu também,
por dentro, porque por fora, eu estava “só ouvidos”. Esta escuta e um encaminhamento
para contatar a pessoa certa
para a ajuda concreta, foi o que eu pude (tão pouco) dar a ela naquele momento.
Minha alma de cidadã, de mãe, de avó e de profe colocou-se no lugar dela,
sentiu e sofreu a dor dela. Compreendeu. Com o encaminhamento, ela saiu mais
tranqüila e eu também, com a escuta e aprendizado que fizera, sentindo-me mais
humana e agradecida.
Durante a conversa, lembrei
muito da Maria, minha neta. De quando ela me chama: “vem uouó Isa!
"Xenta" qui, chão”; sinalizando, batendo, com a mãozinha, no
lugar onde devo sentar, ao seu lado. Aí sento e então conversamos, rimos,
cantamos; conto história, brincamos de casinha e lanchamos... Ela me convoca
para isto e eu fico feliz por estar ali, por poder partilhar. Por ser um lugar
seguro para ela e ela ser uma alegria ímpar para mim!
Sentar junto, conversar... ,
escutar e falar... Assim temos uma possibilidade rica de aprender e ensinar; de
encontrar soluções, respostas, caminhos, consenso, de forma pacífica e mais
justa. Construir respeito, cumplicidade. Estabelecer e aprofundar laços de
afeto. Humanizar.
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