segunda-feira, 10 de agosto de 2015 | Filed in:
De repente, o trânsito parou. Em menos de um segundo, a impaciência se mostrou, na manhã bonita do domingo, ainda de sol tímido, ensaiando e decidindo performance. Buzinas e tentativas de avançar com os carros pelas margens da rodovia revelaram a urgência de cada motorista. Em pequenos e ritmados avanços chegamos até a causa do incômodo: uma velhinha motorista entrara na contramão e bloqueava um dos lados da pista. Estava ali, paralisada.
O motorista do carro que estava
bem na nossa frente, então parou e bloqueou definitivamente a passagem, até
mesmo dos mais ousados malabaristas e, conversava com a velhinha, fazia sinais.
O buzinaço aumentava. Então
entendi o que ele estava fazendo: trancou a passagem dos demais carros e
estava orientando a velhinha para que
ela fizesse o retorno, com maior facilidade.
Dava para ver o constrangimento
dela e o nervosismo, pois realizou a manobra com muita dificuldade; errando
marchas, deixando o carro morrer. Eu podia sentir sua perturbação, o coração
acelerado, as mãos úmidas.
O motorista que estava
ajudando, continuava fazendo sinais,
agora para todos nós, que estávamos parados, esperando com indisfarçado
desconforto. Pedia calma.
E a velhinha conseguiu! Ela e ele
trocaram, então, um som cordial de
buzina e lá se foi ela, para o alívio de todos os apressados. O carro da frente
não saiu de imediato e nós o ultrapassamos. A janela do seu carro estava aberta
e vi um rapaz jovem olhar para mim com expressão fechada, esperando um gesto,
uma bronca minha, uma reclamatória. Li isto claramente no seu semblante.
Mas eu estava muito feliz! Eu
sorri pra ele e sinalizei com um “positivo”, agradecendo. Então ele também
sorriu, surpreso! Penso que “aliviado” com o meu olhar de cumplicidade.
Ah! Faz tão bem encontrar com gente
do BEM! Acho que está crescendo e se espalhando por aí, o vírus da gentileza, da paciência, “do bem”... eu já me deparei com ele, em
lugares públicos, por duas vezes seguidas, neste final de semana. Tomara que
vire epidemia!
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Asperezas
tomam conta
dos sentidos
feito erva daninha
nos jardins abandonados.
Delicadezas, suavidades
agonizam
feito flores
sufocadas entre espinhos
muros, cercas e alarmes.
Gentilezas, generosidades
murcham,
feito verdes amarelados,
enraizados
em solo árido; sedento.
Mas... ah! A teimosia do amor!
É outra verve! Fênix!
Ressurge numa palavra
encantada
num gesto imprevisível
num olhar apaixonado
que se detém e se importa!
E acarinha,
desliza e alisa
transmuta e transforma
tudo, em sutil leveza!
domingo, 9 de agosto de 2015 | Filed in:
- “Moço, preciso cumprimentá-lo! É extremamente prazeroso
encontrar uma pessoa do BEM”!
Não resisti! Meu coração ia explodir de
ternura e se eu não fosse cumprimentá-lo, não teria paz! Ele era um ilustre
desconhecido e dificilmente o encontraria novamente! Ao seu redor, uma aura de
leveza e alegria!
Estávamos no mercado. Literalmente
“cheio”. Gente pra todo lado; filas quilométricas de carrinhos gigantescos,
transbordando de compras por causa dos
descontos e promoções. Pessoas de
todos os tipos, cores e humores dirigindo os carrinhos e circulando
pelos corredores imensos.
Eu não havia percebido que estava na
fila dos caixas “preferenciais” (gestantes, idosos, etc). Meu marido escolhera
o lugar enquanto eu concluía uma compra e depois foi para o carro, nos aguardar. Fiquei ali, na fila, distraída, conversando com meu filho. Na nossa frente, dois moços haitianos,
com dois carrinhos fartos! Eles estavam muito alegres e tiravam fotos. Um
fiscal do supermercado veio e falou que era proibido tirar fotos dentro do
mercado. Os rapazes não entenderam, num primeiro momento e ele teve que repetir
e repetir; Até que guardaram o celular. Fiquei intrigada, porque enquanto fazia as compras, casualmente vi
um grupo de moças tirando fotos, com "pose" e tudo, tranquilamente, no meio do
supermercado e ninguém fazendo observações a elas.
Um tempo depois, quando seriam os
próximos a passar suas compras no caixa, novamente os haitianos foram abordados pelo mesmo
“fiscal”; que disse que eles não poderiam ficar ali, porque o caixa era “preferencial”. Os rapazes definitivamente não entendiam o motivo, mas compreenderam que depois de toda espera, teriam que sair daquela fila. Neste momento, eu também me dei conta de que estava na fila de um caixa
preferencial e fiquei um pouco tensa. Nunca entro nesta fila; não me incluo,
ainda, no perfil!!! E foi então que um moço, da fila ao lado,
entrou em cena! Ele não iniciou uma discussão com o fiscal e nem incitou críticas e reações hostis a ele, não! Ele pediu licença, a cada um dos que estavam na sua fila (e era
uma porção de gente), para colocar os dois haitianos na frente dele; uma vez que
a sua fila não era de caixa preferencial e ele estava muito inconformado pelo
fato de que os rapazes teriam que, depois de ter esperado todo aquele tempo e,
justo na sua vez se chegar no caixa, ir novamente para o final de uma daquelas
filas intermináveis... Todo mundo concordou! Incrível! Ele falou com muita
educação, com respeito, mas com convicção.
E os dois haitianos e seus dois carrinhos repletos de compras, trocaram
de fila, muito sérios, agradecidos! O fato criou um clima diferente, ali, ao nosso redor; de
calmaria, suavidades! Meu coração transbordou por presenciar uma atitude
concreta de implicação com o outro, com a cordialidade! Ninguém reclamou de
esperar mais um pouco! Foi um gesto de renúncia e amor fraterno a desconhecidos
que produziu prazer, bem estar. Acredito que muita e muita reflexão, também.
Receando ser advertida pelo fiscal,
movimentei meu carinho para procurar outra fila. Mas o mesmo moço
não deixou. Gentil e prontamente ele disse que meu lugar, ali, estava
assegurado, que eu não saísse. Fiquei. Senti-me amparada! Senti orgulho de nós,
ali, vivenciando algo que poderia e pode ser considerado, por alguém, banal... só que aparentemente! Porque em verdade, essência e realidade, de grandes significantes!
Depois,
enquanto meu filho levava as compras para o carro, fui até o moço, que por sua vez, agora estava no caixa. Era
imperioso olhar nos seus olhos, apertar sua mão, talvez dar um abraço!
Agradecer por oportunizar a todos nós, ali, entrar em contato com algo BOM;
quando somos cotidianamente bombardeados com notícias, visões e atitudes ruins, de descaso, de
humilhação, de violência, de egoísmo, grosserias, indiferença e asperezas.
Ele ficou muito emocionado! Agradecido.
Não estava esperando esta minha devolutiva. Beijou minha mão e falou: “Obrigado!
Todos nós “ganhamos o nosso dia, hoje, senhora! Muito obrigado”!
Eu não consegui falar tudo que tinha
vontade; porque estava muito mexida e lacrimejante. Mas acredito que ele
entendeu: “moço, continue distribuindo e semeando gentileza e respeito, não desista”! Isto faz muito bem à saúde e à alma!
quarta-feira, 5 de agosto de 2015 | Filed in:
Andava
cabisbaixa, observando, ao mesmo tempo, ranhuras e buracos na calçada limosa
que contornava o asfalto e as coisas absolutamente tragicômicas do cotidiano,
que vagavam e penavam, sem sossego, dentro dela; diante das quais, era
impotente. Então ouviu:
- Lá vem a moça elegante, do ponche!
Ela era a moça elegante!
A pessoa que elogiara, sorria um sorriso
aberto, franco e a olhava com sincera simpatia e admiração.
Ah! O que produz um olhar que vê o que
ninguém vê!
segunda-feira, 3 de agosto de 2015 | Filed in:
Quando eram de mim
para mim mesma:
doce cumplicidade
guardadas em páginas
que o tempo amarelou
o silêncio engoliu
e, alguns, o fogo elevou.
Mas nunca eram
só para mim, descobri!
As palavras ansiavam
por encontros.
Como zumbis
inquietavam minhas inseguranças
fraquezas, desejos, vaidades
e o imaginário!
E voaram!
Não todas de uma vez só
e nem todas!
Cada combinação,
de palavra e significantes,
um estremecimento,
uma vida nova!
Cada retorno,
deles ou sobre eles,
um alento, uma alegria funda
de inteireza, pertença, valor!
Como um filho!
Quando vai embora
a mãe sustenta,
estimula
dá força:
ele precisa voar!
Ela se desapega,
se rasga, se arrebenta,
mas solta!
Quando ele volta;
alegria infinita!
Mas não é mais só seu;
é e traz um pouco
de todo lugar por onde andou
e com quem trocou...
enriquecido, diferente,
com partes desconhecidas...
Ela não entende tudo
mas se derrete de amor
e de orgulho "coruja":
“saiu de mim”.
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