sábado, 31 de dezembro de 2016 | Filed in:
Sempre atrás deste
desejo
de transformar em
palavra,
o instante capturado
e de partilhar, celebrar contigo,
que está aí, do outro
lado!
Não dou conta,
é evidente,
nem da demanda,
nem da forma,
nem do talento,
mas eu tento!
Eu me lanço,
entre ansiosa,
apaixonada,
insegura e
resistente!
Mas feliz
nos extremos,
a cada ponto final,
quinta-feira, 29 de dezembro de 2016 | Filed in:
O
dia amanheceu lindo! Os verdes e a luz entravam pelas janelas, convidando para
algo especial!!! E “o especial“ chegou! Entrou pela porta; num braço a Bombom e
no outro a mochila.
-
Vovó! Hoje é o aniversário da Bombom!
Vamos fazer uma festa?
-
Claro! E o que faremos para esta festa? – falei, derretida, abraçando menina e
boneca.
-
Primeiro vamos fazer docinhos, vovó! De massinha de modelar. Trouxe de casa!
-
Certo. Vou colocar uma toalha na mesa para fazermos os docinhos...
-
Não, não, vovó! Vamos sentar no chão. É bem melhor! Senta aqui comigo. Não vai
sujar nadinha. Faço lá em casa...
-
Querida, a vovó prefere fazer na mesa, para poder sentar. Estou com dor nas
costas, Maria!
-
Ah! Vovó! Senta aqui que a dor vai passar! Vai ver só!!!
E
não é que passou, a dor?!!! E o tempo também?! Perdi a noção das horas fazendo
bolinhos e docinhos com os apetrechos que ela trouxera! Massas coloridas;
engenhocas para apertar e modelar formas de todos os tipos: grandes, pequenas,
grossas, finas... gente! Que delícia!!!! Eu não queria parar de produzir... Mas
a mãe da aniversariante tinha outros planos.
-
Agora preciso fazer um bilhete para a minha filha. Você precisa me ajudar,
vovó.
-
Quer parar de fazer docinhos? Então temos que guardar o material, antes de
fazer o cartão.
Ajudou-me
a recolher restos de massinha e limpar o chão. Outros materiais vieram: lápis, canetinhas e folhas...
-
Quero escrever “TE AMO! UM BEIJO,
FILHA”! Como faz vovó?
Estava
ouvindo direito? Ela queria escrever de verdade?!!! Achei que iria fazer um
desenho, escrever o nome... e que diria algo para eu escrever... Tenho pensado nisto, ultimamente: como será
que ela irá percorrer este caminho da construção da leitura e da escrita? Vou
participar? Como? Ela vai gostar? E como eu vou me portar? Respirei e procurei agir como faço com os
alunos, com tranqüilidade. Alfabetizei alunos, filhos; mas uma neta... primeira
vez!!!!
-
Você tem que fazer do seu jeito, querida! É para sua filha!
-
Ah! Mas eu não sei escrever, ainda, vovó! Me ajuda!
A
emoção foi me tomando! Coisa linda este momento! Revivê-lo, agora com minha
neta!!!! Bom demais!!!!!
-
Bom... então vamos lá... Como será que se faz o TE...
Ela
me olhando, compenetrada, decidida, confiante! E então fui pronunciando cada
palavra pausadamente; destacando e exagerando a emissão dos sons e ela foi
associando com o que sabia e registrando... Evidentemente que já viu o alfabeto
em sala de aula; que brinca, joga com as letras e que já conhece uma boa parte delas; mas daí a partir para uma escrita mais formal... me pareceu precoce; mas
fui acompanhando; procurando dominar a ansiedade e a alegria intensa!!! Algumas
associações foram difíceis, especialmente em relação ao F, J e H. Dei uma
ajuda... e bateu uma dúvida... queria separar a profe da vó... foi difícil... é que tenho muito cuidado, muito respeito para com esta construção... para não forçar; para não tirar o prazer da descoberta... Mas foi!!!! Fiquei muito emocionada com este fazer e com o resultado!!!! Muito mais
com o fazer do que com o resultado!!!! Ver minha netinha neste processo de registrar
o sentimento, o pensamento, com interesse e prazer, foi algo imensurável!
-
Agora chega, vovó, já está bom! Vamos arrumar a mesa? Tem uma vela, vovó?
Precisa...
Assim!
Assim as crianças lidam com as coisas! Simplesmente. Cada coisa num momento.
Cada momento inteiro, intenso... e deu! Desprendem-se dele, entram em outro,
voltam...muito tranquilas!
A
mesa ficou linda! Bombom foi homenageada de várias formas! Com doces, cantorias, bilhete, abraços... E eu só curtindo...
Ô vida boa!!!! De boneca e de vó!!!! Delícia de aniversário!!!!!
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016 | Filed in:
Eles
me chamam de Tata, desde pequenos, os meus irmãos. Eu gosto.
-“Tata! ...” - ouço e me volto para eles e neste movimento,
através deles vejo o nosso passado. Nossa vida em casa, juntos. Tudo tão
intenso, um pouco tenso naquele cotidiano longínquo... muitos detalhes,
encontros, ausências, afinidades, solidão, conflitos, medos, afetos e parceria,
distanciamentos (diferenças na criação; eles guris, eu guria), silêncios,
confidências e confiança...
Bonitos,
os meus irmãos! Homens fortes, “durões” (só na casca!), lutadores, sérios
diante das coisas da vida; de abraço amoroso, de olhar terno, coração
derretido, sorriso largo, divertidos; buscando essencialidades; tentando ser
melhor naquilo que percebem, conseguem, desejam. De alma sensível, do BEM. Com
cada um deles, uma proximidade, cumplicidade e lidança diferente!
Uma
irmã teria sido mais próxima e terna para comigo do que eles? Não! Por isto
deixei de desejar uma e passei a desejar uma filha.
Reencontros
fundos, ao longo do tempo, tivemos: eu e meus irmãos; estas queridas partes
importantes da minha vida! Carinho que muitas e muitas vezes me faz
falta no cotidiano... ”Tata”,
expressivo e doce elo fraterno; nó que nos enlaça! E no qual gosto de estar!
Que me fortalece!
Já
vivenciamos grandes hiatos; mas em momentos duros, quando um e outro precisou,
um de nós estava lá e se importou! E quando o pai precisou, todos estávamos lá!
Todos em “UM”; voz embargada, olho
lacrimejante, coração pulsante,
transbordante, cheio de esperança e gratidão!!!! Os manos e a Tata
estavam lá, juntos.
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Fechávamos
a roda para iniciar a última noite da novena familiar, antes da ceia de Natal,
quando ouvimos as palmas... Em seguida, as calças vermelhas descendo a escada,
mexeram com todos! E, antes que toda figura ficasse visível, todos já sabíamos
quem era a visita inesperada!!!! Risos, gargalhadas, emoção, gritinhos, vivas,
saudaram o Papai Noel! E só havia uma criança no grupo!!!!
No
momento, pensei que era a primeira vez que o Papai Noel visitava minha casa.
Estava emocionada! Sabe aquela emoção que amolece as pernas; provoca um vazio
na boca do estômago e riso nervoso? Esta. Ah! Papai Noel não tem nada a ver com
consumismo! Só para quem quer.
Como
seria a vida sem estes rituais e momentos de magia, quando o imaginário enche
tudo de brilho, alegria?!
Durante
a novena, nosso curto tempo de advento, nove dias; tivemos em mente e presente,
nosso momento, nossa fragilidade; nossos medos, sonhos e desejos. Nossa vida
pessoal e comunitária. E ambos: nosso pequeno e particular canto nesta nossa
grande casa, o planeta! E nele, o Pai, a Mãe e os nossos irmãos. Uma imagem que
eu gosto! De repente, os outros, também.
Nesta
última noite, véspera do Natal, para acrescentar e aprofundar os significantes
anteriores, especialmente o da noite anterior, sobre a “semeadura”; tínhamos a
frase: “ se for possível,
no que depende de vocês, vivam em paz com todos”... Interessante!
Parece que, quando se fala em paz, subentende-se encontrar o mundo em paz para
meu deleite... Como se a paz viesse de fora e do outro... que ele não me perturbe,
por favor! Não me provoque, não faça demandas, não me frustre; não “encha o
saco”; não faça guerra; não me decepcione! Mas e se for ao contrário: o quanto
depende de mim, a paz???
E
então o Papai Noel chega e traz aqueles presentes: sementes! De flores! De
amor-perfeito!!! Deixando, também de presente, para quem quisesse, uma reflexão
sobre toda simbologia e significantes que sementes e flores têm para cada um...
Então,
o amor e a paz que eu quero, tenho que semear e cuidar? Ah! Papai Noel... não
era mais fácil termos feito o “amigo secreto”?
Então
lembrei que um dia já tivemos a visita do Papai Noel, em casa... Anos atrás,
quando os filhos eram crianças... Naquela noite, o Ximitão, de cabelos já
branquinhos, foi vestido pelos netos... o desejo e a fantasia produzindo magia
através do benquerer! E o presente? Era a alegria e a entrega do vovô!
Ele e cada um, um presente especial para o outro!
Presentes
especiais, a gente ganha, mas nem sempre percebe, nem sempre cuida... alguns
deles, são delicadas sementes que precisamos cultivar com afinco e sutileza...
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Canta
e semeia!
Fala
e semeia!
Ri e
semeia!
Chora
e semeia!
Leva cacetada
e semeia!
Semeia na revolta,
semeia na decepção!
Semeia na alegria mais
profunda,
na tristeza mais
escondida!
Semeia na saudade
insuportável,
no benquerer absoluto!
Semeia na dor mais
aviltante,
e diante da
incompreensão absurda!
Semeia na rasteira
mais inesperada!
E diante da mentira
mais deslavada!
Semeia no silêncio da
madrugada
e na luz do dia,
na festa, na rua,
na fila longa e
apertada!
Agora, olha para trás!
Veja os "amores perfeitos"
ou "quase perfeitos",
(levando em conta que
não somos perfeitos!)
ou "quase perfeitos",
(levando em conta que
não somos perfeitos!)
brotando, germinando,
florescendo!!!!
Valeu a pena
não morrer!
não desistir!
não se entregar!
Valeu a pena
acreditar!!!!
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Somos marcados
pela passagem do tempo;
pelas presenças e
também pelas ausências.
O tempo marca por fora
e
marca por dentro.
As marcas de fora
provocam as de dentro,
as de dentro
transformam as de fora!
Dois jeitos de olhar
para elas:
um, com lamento e com
piedade
pelo que não foi e
poderia ter sido;
pelos dias que escoaram
por
entre as horas e sonhos
fugidios.
Outro, com ternura e compreensão
pela vida vivida,
assumida
esculpida pela
paciência, reflexão
e compaixão.
Elas lembram os risos
que demos ou que
reprimimos.
O que choramos ao mundo
e o
que escondemos.
O que pensamos,
fantasiamos
até que aprendemos.
Bonita vida!
Com marcas dos
encontros
de amor e de dor
em estradas sinuosas.
Bonita vida!
Com marcas de
aprendizados essenciais
tropeços e recomeços
delicadezas e
sutilezas.
Algazarras, murmúrios
e silêncios
preenchidos.
Bonita vida!
De trabalho, de luta
cotidiana para
conseguir
e manter o espaço entre
tantos
sem perder a ética, os
ideais
e a dignidade.
Bonita vida!
Com estes belos frutos,
os melhores, os
especiais
e únicos:
os filhos, os amigos
e um amor!
Marcas sinalizando
dentro, muito dentro
o lugar singelo
onde o pai, a mãe e o
menino
no presépio interior
aquecem, significam
e marcam
nosso aprendizado
com o fogo do amor.
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E é vital confiar. Em algum momento, temos que
decidir se vamos nos entregar e confiar; se queremos ser confiáveis ou não.
Isto, depois de escolhido, é pra sempre! Mesmo que o amigo vire inimigo: um
dia, confiou em você! Te deu algo para guardar: um objeto, um sentimento, um
segredo, uma queixa... e você tem que continuar guardando. É muito sério. E se
aprende na infância, como a maioria das coisas.
Se
não aprendemos enquanto criança, podemos aprender com uma criança! Se
a gente permite ou se permite falar menos e ouvir mais; reagir menos e observar
mais; responder menos e perguntar mais e uma série de etc... aprendemos com as
crianças o tempo todo! Com suas ações, falas e associações encantadoras,
oportunizam reflexão, mudança, sensibilização, humanização, crescimento e
muita, muita alegria!
É
maravilhoso redescobrir\“reesperançar”\reencantar na interação com as crianças
e com aqueles que, conosco, se permitem aprender com elas ou como elas!!! Com
suas ações, falas e associações singelas, encantadoras, oportunizam reflexão,
mudança, sensibilização, humanização, crescimento e muita, muita alegria!
2016!
Eu me despeço e agradeço! Obrigada pelos laços
de confiança que durante teu percurso pude estabelecer e aprofundar. Eles
me fortaleceram, levantaram, acarinharam, vibraram dentro de mim; alimentaram e
mantiveram a minha esperança!
| Filed in:
Eu o conhecia. Tinha respeito por ele;
aprendera a amá-lo. Eram admiráveis e incontáveis os seus talentos! Criativo,
acolhedor, generoso; gentil... Teve muitos filhos. Nem todos fiéis, nem todos
agradecidos e nem todos de bom caráter. E todos estes, sem escrúpulos, o
fizeram sofrer e penar, assim como aos outros irmãos; com traições, mentiras,
torturas, exploração, roubos, hipocrisias, difamações, brigas, violência,
falcatruas e tantos outros delitos....
Ele estava cansado. Todos os dias, novas
e mais desilusões, desgostos, denúncias, cobranças... uma tristeza foi tomando
conta dele, um desânimo; não conseguia mais reagir, se reerguer; tanto que
alguns descendentes, o pessoal da nova geração; já não sentia admiração e nem
orgulho dele; não tinha interesse na sua história, seus costumes, tradições,
ensinamentos.
Numa manhã, ele agonizava entre anúncios
e denúncias de golpes; balas perdidas, hipócritas de plantão e um sem número de
marias-vão-com-as-outras; que o atacavam sem piedade... Era o fim.
Mas não.. Era Natal! O riso e o olhar
brilhante de jovens, trazendo nas mãos
as cores que ele mais amava; os pratos com os alimentos que ele mais gostava;
faixas com a sabedoria que ele adquirira nas partilhas e misturas e, trazendo
ainda, na palavra cantada, a história vivida feita de sangue, suor, trabalho,
luta, resistência e amor e tantas cores; fez seu coração acelerar e, quando ele
ouviu, em uníssono e verdadeiro:
- Eu te amo, meu Brasil!
.... ele se reergueu! Vestiu-se com suas
cores, alimentou-se com seus valores! A força voltou a percorrer e palpitar
suas veias, seus rios, suas florestas, o solo e o coração dos filhos mais
queridos! A estrela brilhou! Era Natal! O gigante renasceu, feito um menino,
que olha para o mundo com encantamento, esperança e alegria! Confiante no bem
que cada um pode mobilizar dentro de si!
É Natal! Eu te amo, meu Brasil! Eu renasço contigo!
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016 | Filed in:
Labaredas
se enlaçam
brincando entre as
brasas.
Uma neblina antecipa a
noite...
A chaleira chia sua
quentura
e chama,
fervorosamente!
A máquina de lavar
não conhece discrição
vai lavando roupa suja
sem medir o tom.
Longe, um comentarista
esmiúça uma partida de
futebol,
não se sabe onde
e nem para que ouvinte.
Quem se importa?
O entardecer de domingo
pertence aos refugiados!
A estes desamparados
que chegam, ao
entardecer,
de mãos vazias,
expulsos do prazer esperado,
embutido nas promessas
e deleites,
que horas que não
passam,
fazem no cotidiano.
Lá se esvai mais um
domingo
sem revelar seu
segredo:
a que veio?
Ah! Talvez, domingos
não sejam
para deleites ou
descansos
mas para hiatos.
Quebras. Desmanches.
Morte da ilusão, da
falácia,
do sonho, da fantasia,
do ego..
È de chorar, no
entardecer...
E ver que do choro,
de
pouquinho em pouquinho,
nasce a noite
e dela, a luz! E daí...
A esperança!
Linda! Cheia de planos...
Vaidosa! Trazendo
belos trajes diferentes,
enfeitados de incógnitas
e descompassos...
Um para cada dia,
menos para o domingo;
onde tudo deságua,
onde tudo se junta
tudo se acaba
tudo recomeça.
Um chá de anis,
por favor!
Eu e minha alma
precisamos deste
carinho
e deste calor,
| Filed in:
O fim nos remete ao começo. A morte nos faz pensar na vida!
-
O que fiz com a minha vida? Eu tinha um sonho? Sonhos? O que fiz com eles?
A
morte não quer saber. Não lhe interessa em que parte estou da minha história...
o que eu queria fazer depois que...
amanhã... no futuro... quando houver tempo...
Um dia destes,
perto do meio dia, a galinha Brigite curtia seu momento de lazer. Fora do
galinheiro, ela inspecionava os ambientes ao redor de casa; subia e descia as
escadas e planejava entrar na cozinha quando eu a impedi. Maria Margot,
observando, disse, calmamente:
- Vovó, não fica brava com a Brigite!
Acho que este era o sonho dela.
- Qual sonho? - pergunto, bem interessada.
- Ora, de entrar na tua casa! Você não
sabe que todo mundo tem um sonho, vovó?
- Bem... acho que sim... você também tem
um sonho? – investigo, mais do que interessada: curiosíssima!
- Claro, né, vó...
- E qual é o teu sonho, querida? –
aprofundo, já com os olhos embaçados...
- Ah! Vó... eu quero...
E falou do seu sonho. Um belo e simples
sonho de criança e de momento! Nisto, chegou o vovô. Sentamos à mesa para
almoçar. Ela continuou:
- Agora, gente, antes do almoço, cada um
vai contar o seu sonho! Eu já contei o meu. Agora vamos em ordem: primeiro o
vovô e depois você, vovó...
Como
ficam dois adultos travados, diante da espontaneidade e simplicidade de uma
criança de quatro anos? Onde, rapidamente, buscar nossos sonhos? Onde
encontrá-los, escondidos e abafados que estão por este cotidiano cheio de pressa,
necessidades, demandas, asperezas, superficialidades, realidades dissonantes,
confusas; mal estar, inseguranças, hipocrisias e desencontros? E desencantos?
Lembrei da formatura do Leo, meu sobrinho,
ocorrida há poucos dias... Lá, num dado momento, nos entremeios dos discursos,
do fundo do salão surgiu um (personagem) velhinho “beeeeeem”
velhinho, corcunda, caminhando com dificuldade; apoiando-se numa bengala.
As luzes todas se voltaram para ele e o silêncio que acompanhou o seu caminhar
até chegar na frente, onde estavam os formandos, foi fundo. Foi fantástico! A
sua figura contrastava com o contexto, fortemente! Talvez, se eu desejasse,
poderia ouvir a respiração ou a pulsação de cada um ali presente... mas eu não
estava focada nisto e sim, naquela imagem belíssima e de opostos: os jovens e o
velhinho. O velhinho não parecia ser um familiar de alguém ali presente. Estava com um propósito. Qual?
Ah! Viera falar de sonhos!
Simplesmente! De sonhos! De tê-los bem claro! De exaltá-los! De perseguí-los!
De cultivá-los! De protegê-los! De não abandoná-los! E caso isto aconteça: de
resgatá-los!
O velhinho, diante da platéia, avaliava
os sonhos que tivera na juventude e confessava que ainda tinha sonhos! E viera
estimular o sonho dos jovens! O sonho, o combustível da vida! Em qualquer
tempo, idade.
Naquela noite de formatura, o velhinho deu uma sacudida na minha história, acordando um sonho. Ontem, a pequena, minha
neta, convocou este sonho! Logo depois, o frei, num ritual de fé, refletindo sobre a tragédia ocorrida com o time da Chapecoense e acompanhantes, que voava atrás de um belo
sonho; disse, entre tantas coisas bonitas sobre este mistério terrivelmente surpreendente envolvendo a vida e a morte: - “nós
precisamos alimentar esperanças e sonhos”...
E o meu sonho, todo faceiro, brilhante, espiou
atrás da emoção e do choro! Fortaleceu, de repente! E quer, agora, “pôr as manguinhas
de fora”! Espaçoso e maroto, olha para meu coração, meus olhos brilhantes e dá umas piscadinhas, terrivelmente sedutor e
urgente; cheio de vida:
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