terça-feira, 29 de março de 2016 | Filed in:
Um aluno, com um
manto amarelo, compenetrado, representava Pôncio Pilatos; outro, de manto azul, um pouco
envergonhado era Jesus e outro, sem manto, incomodado porque não gostou da cor
que sobrara: rosa; Barrabás. À frente deles, povo inquieto, ansioso e
barulhento: o restante da turma.
Pilatos, acalmando o povo, levantando
firmemente a mão direita, falou:
- Gente! Como fazemos sempre, na
Páscoa, agora vocês vão escolher entre dois prisioneiros, qual merece uma
chance e ser libertado...
Foi interrompido pelo povo:
- Pi-la-tos! Tchã-tchã-tchã!
Pi-la-tos! Tchã-tchã-tchã! Pi-la-tos! Tchã-tchã-tchã!!!
Um pouco nervoso, Pilatos acalmou
novamente o povo, que se mostrava cada vez mais inflamado.
- Temos aqui, Barrabás! Ladrão e assassino,
condenado a morrer na cruz...
-
Barrabás! Tchã-tchã-tchã! Barrrabás! Tchã-tchã-tchã! Barrabás! Tchã-tchã-tchã! -
zoou o povo.
- E aqui: Jesus!
Silêncio... o povo só na escuta, na
contenção... prestes a explodir.
- Olha... eu digo para vocês que não
acho que este homem, Jesus, tenha feito algo tão grave que mereça estar aqui,
mas já que ele está, vocês decidem. Quem vocês querem que eu liberte: Jesus ou
Barrabás? – falou Pilatos,
lavando as mãos.
E o povo explodiu:
- BARRABÁS! BARRABÁS! BARRABÁS!
- Mas e o que faço, então, com este
Jesus? – Pilatos estava visivelmente decepcionado.
- CRUCIFICA! Tchã-tchã-tchã! CRUCIFICA! Tchã-tchã-tchã! CRUCIFICA! Tchã-tchã-tchã!
Aí, acabou o 1º ato.
Todos voltaram
para seus lugares, no círculo; a aula continuou. A professora pegou a palavra:
- Agora, vamos
pensar e conversar um pouco. Quem decidiu
e escolheu libertar um e condenar outro?
- O povo! – responderam unânimes.
- E quem, no
domingo anterior, estava esperando com grande alegria, na entrada da cidade,
Jesus; que chegava, montado num burrinho? Saudando-o, aclamando-o,
aplaudindo-o; manifestando apreço, respeito e grande consideração a ele e seus
feitos?
- O povo! –
novamente unânimes.
- Bom... mas o que
será que aconteceu, então, para que este povo mudasse de opinião, tão
rapidamente, em cinco dias?
Silêncio. Ah!
Finalmente! Tão bom quando a resposta não vinha pronta, na ponta da língua e eles se
punham pensar...
- Acho que muita
gente e o prefeito ficaram com medo de perder o poder! – expressou um menino, pedindo a
palavra, depois de um tempo. Dois ou três balançaram afirmativamente a cabeça,
após sua fala.
- É... acho que
eles tinham combinado isto, antes, com os soldados e algumas pessoas do povo...
Foi uma farsa! – completou outro, sendo aplaudido por um número maior de
colegas.
- E eu acho que
eles não pensaram direito... – arriscou outro, um pouco inseguro.
Silêncio,
novamente. Hum... algo ali, mexera! E por ali, a professora entrou, feliz!
Orgulhosa com as hipóteses levantadas.
- Muito legal!
Esta é a questão: pensar! Mas não com e nem pela cabeça dos outros. Com a
nossa! Como estamos fazendo agora. E eu pergunto novamente:
- Quem vocês
teriam escolhido, se estivessem lá?
Depois de
algumas brincadeiras (normais, usuais) a resposta veio, em uníssono:
- Jesus, claro,
né, profe!
E cada um
justificou a escolha. Então a professora perguntou apertou:
- Mesmo com toda
aquela multidão gritando por Barrabás?
Um silêncio mais
prolongado e incomum se fez. Aos poucos, começaram a se posicionar; mostrando-se muito convictos de que
não teriam vergonha, nem medo de escolher pela própria cabeça, Jesus. Mas um,
envergonhado, ficou em pé e falou:
- Eu acho que
não teria coragem, professora, de escolher Jesus, no meio daquela gente
gritando por Barrabás!
Todos olharam
para ele; mas ficaram com seus pensamentos. Nada de riso, nem de reprovação,
nem de comentários. A professora pensou no quanto era bela esta espontaneidade
e sinceridade! No quanto era tudo de bom, num grupo, quando a confiança construída
possibilitava esta exposição e também o acolhimento de cada jeito de ser e de
pensar.
- Bem isto,
queridos! Pensar! Pensar é um ato de inteligência e de coragem. Uma coragem que
a gente vai construindo, aos poucos. Não aceitar, acreditar, espalhar, fazer
por fazer ou porque disseram que é assim. Mas sim, aceitar, acreditar, espalhar
e fazer por convicção; depois de pensar, investigar, ponderar. Dificilmente a
gente acerta sempre. Quando escolhemos, algo, sempre corremos um risco. Podemos
errar; mas errar pela cabeça dos outros é pior. É mais doloroso!
Chegou o
intervalo e a professora liberou para o quintal. Necessário este hiato.
Brincando, correndo, conversando, lendo na biblioteca, subindo na árvore ou
sentado num pneu, contemplando a mata... cada um processaria o vivido do seu
jeito. Num outro momento, amadurecendo neste exercício ininterrupto de optar entre isto e aquilo, na roda
dos dias e das noites, atualizariam percepções.
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