domingo, 16 de abril de 2017 | Filed in:
-
“Vamos caminhar em silêncio... – disse o padre. A Sexta-feira da Paixão nos
remeter a isto: reflexão”.
E a
procissão seguiu, silenciosa. À frente, atrás, ao meu lado, gente e gente. Uma
caminhada individual e coletiva, ao mesmo tempo. Eu pensava e tentava capturar
o que nos ligava, ali. Não era a fé. Fé é algo muito pessoal, muito. Eu não me
atrevo a falar de fé. É delicado e íntimo demais.
Há uns
cinqüenta metros da igreja onde estávamos; hoje, Sexta-feira Santa, aconteceu
que, de manhãzinha, um homem suicidou-se, jogando-se do prédio onde morava.
Delicado demais, isto. E forte. Não dá para dizer nada.
Eu
observava o povo caminhando. Eu, parte deste povo. Eu, povo caminhando,
pensando que talvez o que nos ligasse, ali, fosse o desejo de PERTENCER. De
fazer parte de algo e de estar junto num laço: o de nos importarmos com isto,
com este ensinamento de UM GRANDE AMOR; de pertencer a uma
grande família, cujo PAI nos ama e acolhe infinita, indistinta e
incansavelmente... Caminhava e pensava que talvez, ao decidir saltar para os
braços do vazio, não faltasse, ao suicida, fé; mas sim, esta certeza ou
sensação de pertencer; de estar acolhido, encaixado em algum lugar; num abraço,
num olhar, numa palavra, num contexto; num importar-se de alguém....
E de
amor, eu falo! Amor eu canto! Testemunho! É delicado, mas é de outra ordem. Tem
a ver com o outro. Um outro que eu vejo, que me toca, faz demandas, provoca,
desafia, convoca, seduz, machuca, incentiva... Por aí entendo melhor e curto a
Páscoa; pelo viés do amor! Muito mais do que pelo viés da fé. Com todas as suas
controvérsias.
E sem a
pretensão de estar com a verdade. Aliás, fiz uma grande e bela descoberta,
também na Sexta-feira Santa: não sou dona de verdade nenhuma! Não comprei, não
aluguei, não ganhei, não achei... De “verdade”, eu tenho me assustado muito
quando encontro um “dono da verdade”; inclusive comigo; quando me flagro neste
lugar. "Donos da Verdade" não se mostram legais e nem amorosos.
Oprimem e machucam as gentes com a aspereza da sua arrogância, da sua secura e
da sua ignorância. Não sabem tudo de tudo. E nem sabem o quanto não sabem.
Ah! Eu
me encaixo bem é neste “ninho”(cesta) de Páscoa; ali onde tem doçuras, tem
carinho, tem borda, aconchego e pertença. Isto parece fácil e piegas e fútil.
Mas só parece. Porque na versão original, a gente tem que procurar a cesta (o
ninho). Às vezes está bem diante do nariz. Por vezes, mais difícil. Nesta
procura, nem todos têm paciência e tempo. Sem contar os que trapaceiam,
dificultam, roubam ou impedem que alguém encontre a sua cesta, o seu ninho; o
seu lugar.
Amo as
metáforas! São “ninhos” que aprecio encontrar e onde me aconchegar. E amo a
Páscoa! Estas manhãs que renascem esperançosas de mudanças e de entrega à
ternura e a um olhar ao redor!
Sim,
concordo! Caminhar em silêncio. Ou pelo menos, falar menos; olhar fundo, além
das superfícies. Parece que ali, um pouquinho mais além... o caminho é
tranquilo e está cheio de coisas deliciosas para ver e degustar! Junto e
separado, como a gente escolher, a cada momento.
This entry was posted on 12:40
You can follow any responses to this entry through
the RSS 2.0 feed.
You can leave a response,
or trackback from your own site.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário