sexta-feira, 28 de abril de 2017 | Filed in:
De
repente, ergui meus olhos e me deparei
com este inusitado: do outro lado da
janela, pousado no “pé" de ameixa de inverno, um tucano me olhava. Lindo,
tranquilo, majestoso. Me concedendo a honra de partilhar tempo e espaço com ele
e suas cores, nesta manhã geladinha de outono, quando os primeiros frios vão
chegando, puxando lembranças e desejos de quenturas e aconchegos.
Na mata
ao meu lado, o sol ainda não chegou, mas os morros em frente e do outro lado,
já estão dourados e a promessa, se interpreto bem, é a de um dia lindo!
O
tucano tendo mais o que fazer, foi embora, sem alardes. Deixou-me com a palavra
suspensa e com a máquina de fotografar, na mão. Talvez esteja me observando
melhor, atrás de um e de tantos ângulos que a floresta lhe oportuniza; coisa
que o espaço limitado de minha janela não me permite em relação a ele. Mas
desconfio que ele tenha, realmente, feitos mais interessantes lhe convocando,
lá no seu horizonte.
Também
eu estou mergulhada num oceano de trabalho; urgente e interessante; mas o
tucano tocou no meu desejo, que está bem além dos limites da escrivaninha e da
minha janela.
Eu leio
mensagens que chegam a todo momento e
penso nas manifestações que organizam pelo país, em resposta ao momento
histórico que vivemos: de grandes golpes, sacudidas na inteligência, na paciência, na ignorância, na acomodação, na mesmice; nos “brios”, nos fanatismos, nas “cartas marcadas”, nas histórias escondidas e mal
contadas; nos conceitos de civismo, justiça, confiança, bem comum, de cidadania... penso! E penso!
E decido. E me posiciono. Ou será que apenas retomo?! Olhar da janela ou de qualquer lugar é bonito; é bom, é
tranquilo. É confortável, mesmo quando a visão não é bonita. Mas aprendo que viver é exigente; exige sempre mais! Isto
porque depois que eu vejo, mesmo não querendo, mesmo não admitindo ou tentando esconder, não posso mais esquecer que vi.
Porém, o meu desejo está ainda além deste momento histórico, real. Mas tem a ver com ele e
com tudo, inclusive com o tucano. Meu
desejo está lá, junto das sementes!
No final de semana passado, entrei
numa estufa e meu coração inundou! Transbordou! Inflou... mergulhando, finalmente, num universo de significados, metáforas,
verdades, aprendizados... Não era novidade estar ali. Mas estar ali, naquele
momento e com aquelas pessoas e escutando o idealizador do projeto falando com
tanta propriedade e amor sobre e das sementes, era singular.
Ali,
naquelas estufas (eram mais de vinte), milhares de sementes, em vários estágios, recebiam
cuidados especialíssimos! Sementes caras, preciosas; tendo uma germinação
assistida: luz, água, calor, proteção e olhar! Olhar atento, minucioso. E
investimento. Cada ano, novas descobertas, criatividade para proteger a
qualidade das sementes; assegurar sua germinação e o seu futuro: alimentar a
população! Alimentar bem, garantindo as propriedades e singularidades de cada
semente... Ah! Isto é demais! Se a gente aprofunda um pouco... Bah!!! Arrepia o coração e a consciência!
A
estufa é um útero! Não vou entrar no mérito da artificialidade. O que me toma é
o olhar, o cuidado, a proteção para garantir um futuro. E o melhor futuro! Bem
cuidadas, bem observadas; pouquíssimas, raras sementes se perdem!
Por
analogia... desde o útero materno, por quantos outros úteros passamos? A
família, a escola, a comunidade, o estado, o país... a pátria!
O tempo
que levei, desde o momento em que comecei a escrever até agora, foi o tempo que
o sol levou para chegar a este lado da floresta, à frente da minha janela! E sem poesia: o sol está dourando tudo, por
aqui! É bonito! Cada um fazendo sua
parte; o sol, o ar, a água, as estufas,
os queridos donos das estufas que visitei: cuidar das sementes! Semeá-las em
bom solo e acompanhar, zelar, proteger, garantir o desabrochar do seu melhor!
O
tucano foi embora, mas as borboletas ficaram ali, sob as flores da ameixeira,
fazendo, também, a sua parte neste processo maravilhoso de semear; oportunizar
a continuidade das espécies; a continuidade da vida. De uma boa vida. Sem
escolher a quem, sem discriminar, sem privilégios e favorecimentos; sem negociar
vantagens. Somente dando o seu melhor no seu fazer, para todos. E, na
reciprocidade, recebendo o melhor de todos.
Com e sem metáforas, é bem aí que
está aninhado o meu desejo.
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