sábado, 7 de abril de 2018 | Filed in:
A vovó admirava tatuagens. Alimentava um desejo (secreto por muitos anos;
depois exposto, olho brilhando, por mais alguns anos) de fazer uma; sonhava com uma pequenina, próxima à nuca.
Entretanto,
nunca priorizava este desejo. Até que às vésperas de tornar-se sexagenária, um dos
filhos disse:
- Mãe, agora você vai fazer uma tatuagem! É
meu presente de aniversário!
Friozinho
na barriga foi pouco! De repente, o sonho que repousava sossegado, acordou
ansioso! Mas nada agradava. Um desenho parecia muito grande, outro exagerado,
outro muito colorido; um era “nada a ver”, outro, inadequado... até que:
- Mãe,
deixa eu ver este papel aí na tua mão...
A vovó
organizava desenhos e “trabalhos” que a netinha fazia e deixava de recordação
para ela quando vinha visitá-la.
-
Hummmm... ele disse. – Olha só que bonita esta assinatura do nome dela! O que
você acha, mãe?
Ela? Ela adorava! Amava as
palavras! E gostava demais destes primeiros traçados das crianças em fase de
construção da sua alfabetização. Amava os registros dos alunos.... imagina,
então, o que sentia por estes primeiros escritos da neta, especialmente do nome
dela!
- Ai, filho! Que ideia bonita! Tatuar o nome da Maria... Ah! Tudo de
bom!
E ela, que nunca tinha
pensado em tatuar palavras, tomou-se de encanto pela hipótese de tatuar o nome da
neta! Impossível pensar, olhar, escolher outra coisa depois disto! Era muito mais do
que um nome, do que uma palavra. Era uma história de vida, de crenças, de
sonhos, de ideais. Um registro externo de uma infinitude de registros e marcas internas,
na memória dos sentidos e no coração.
- Olha aqui, mãe, achei outro desenho dela! Lá em cima tem uma florzinha... Que tal a gente juntar o nome e a
flor?
E assim foi! O filho levou
a mãe para fazer a primeira tatuagem dela! Só que uma tatoo dessas não podia ficar lá nas costas, visível
só para os outros. Fez no pulso direito. Ah! Foi um dia memorável!
Quando a pequena, no dia do
aniversário da avó, viu a tatuagem, ficou surpresa. Mais tarde, longe do olhar
dos outros, chegou pertinho da vovó, abraçou-a e perguntou:
- Doeu para escrever meu
nome aí, vovó?
- Não, tonchinha! A vovó só
sentiu alegria!!!! É para comemorar nossos aniversários: os sessenta anos da vovó, hoje e os seis anos seus, daqui alguns dias! O que você acha?
A pequena pegou a mão da
vovó e deu um beijo estalado na tatuagem. E as duas riram seus sentimentos!
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